Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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pe<strong>da</strong>gógicos eu procurava, sempre que possível,<br />
relatar alguma ativi<strong>da</strong>de teatral que estava<br />
desenvolvendo com as crianças e assim abrir<br />
discussões em relação às experiências pe<strong>da</strong>gógicas<br />
teatrais e à sua importância no processo<br />
de construção de conhecimento. Para<br />
defendermos nossas idéias precisávamos conhecê-las.<br />
No entanto foram às crianças, com sua transparência,<br />
as principais responsáveis pela aceitação<br />
<strong>da</strong> proposta pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> Brilho do Cristal,<br />
tanto por parte dos pais como por parte dos próprios<br />
professores. Além de serem bastante receptivas<br />
às brincadeiras, as crianças falavam bem<br />
<strong>da</strong> Escola em suas casas e com seus colegas.<br />
Com prazer, elas convi<strong>da</strong>vam seus pais, familiares<br />
e amigos a participarem de nossas festas,<br />
que eram muito alegres; tinha teatro, brincadeira,<br />
fogueira, muita comi<strong>da</strong> e forró. Nossa escola<br />
é marca<strong>da</strong> pela brincadeira e pelo jogo. Não só<br />
construíamos uma escola como também construíamos<br />
relações e conhecimento.<br />
Aos poucos, de mãos <strong>da</strong><strong>da</strong>s, fomos nos constituindo<br />
enquanto grupo, nos apresentando, nos<br />
fortalecendo e refletindo sobre nossas propostas<br />
pe<strong>da</strong>gógicas. E nesse processo de construção<br />
de uma identi<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica o Teatro<br />
falava alto. O Teatro falar alto significava a<br />
evidência do Teatro no currículo <strong>da</strong> Brilho do<br />
Cristal. A arte até hoje ain<strong>da</strong> sofre preconceitos,<br />
para muitos não serve para na<strong>da</strong>. No Vale<br />
do Capão não era diferente. Não bastaria ter<br />
uma proposta de Teatro e executá-la, era preciso<br />
criar estratégias, mecanismos dialógicos a<br />
fim de problematizar os estereótipos <strong>da</strong>dos às<br />
artes, em específico ao Teatro: coisa de veado,<br />
coisa do diabo, coisa de desocupa<strong>da</strong> e<br />
desocupado. O desafio estava posto; eu apostava<br />
que, com o próprio fazer teatral, podíamos<br />
transformar os preconceitos. Através do Teatro<br />
dialogaríamos, interagiríamos e dessa maneira<br />
a aceitação aconteceria. Dessa forma o<br />
reconhecimento do Teatro foi se fazendo na<br />
medi<strong>da</strong> em que a platéia ia se constituindo.<br />
O ano de 1994 chegava com novas reflexões.<br />
A sensação é que estávamos realmente<br />
num movimento contínuo. Naturalmente ain<strong>da</strong><br />
tínhamos muito <strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia Tradicional, afi-<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 99-115, jan./jun., 2006<br />
Rilmar Lopes <strong>da</strong> Silva<br />
nal fomos todos educados dentro desse modelo,<br />
então nem sempre conseguíamos transgredir.<br />
Porém tínhamos a liber<strong>da</strong>de para<br />
experimentar, assumir nossos limites e, mesmo<br />
sem uma base teórica sóli<strong>da</strong> em relação à interdisciplinari<strong>da</strong>de,<br />
buscávamos uma nova atitude,<br />
um novo olhar sobre as questões<br />
disciplinares. Refletimos nossa experiência a<br />
partir <strong>da</strong> proposta interdisciplinar. Em nossos<br />
planejamentos coletivos sempre procurávamos<br />
identificar a partir dos relatos e dos planos de<br />
aula dos colegas, em que conteúdo, em que área<br />
de conhecimento poderíamos trabalhar juntos<br />
para que pudéssemos construir um diálogo interdisciplinar.<br />
Reavaliando o caminho percorrido com o<br />
Teatro na Brilho do Cristal me propus a desenvolver<br />
o Teatro de bonecos, dessa vez com a<br />
multisseria<strong>da</strong> <strong>da</strong> 1ª e 2ª série e com a multisseria<strong>da</strong><br />
de 3ª e 4ª série trabalharíamos com o Teatro<br />
convencional, com atores e atrizes.<br />
O Teatro de bonecos foi muito bem aceito<br />
pelo grupo <strong>da</strong> 1ª e 2ª série: os bonecos trouxeram<br />
alegria, ousadia e interação. Além <strong>da</strong><br />
possibili<strong>da</strong>de de trabalharmos a voz e a imaginação<br />
tivemos a oportuni<strong>da</strong>de de quebrar o gelo,<br />
a passivi<strong>da</strong>de, a inibição de alguns. De onde<br />
vinham os textos dos bonecos? Em meio a to<strong>da</strong><br />
essa animação, os textos iam sendo construídos.<br />
Quando a criança pegava o boneco, de<br />
imediato ela buscava animá-lo e estabelecia um<br />
diálogo com outro boneco ou com as pessoas<br />
que estavam próximas ao boneco. Assim, após<br />
uma familiarização <strong>da</strong>s crianças com o boneco<br />
eu sugeria duplas, trios, a irem para trás do<br />
pano. Inicialmente os bonecos se apresentavam;<br />
em segui<strong>da</strong> estabeleciam um diálogo espontâneo<br />
entre eles (bonecos) e com a platéia. A<br />
platéia interagia sem dificul<strong>da</strong>des, respondia,<br />
perguntava, torcia, sugeria, identificava-se com<br />
determinados personagens, criava e resolvia<br />
conflitos. Num processo interativo, improvisacional<br />
e criativo.<br />
Mais tarde, senti necessi<strong>da</strong>de de criarmos<br />
uma estória ou de fazermos uma a<strong>da</strong>ptação. Li<br />
alguns poucos textos de Teatro de Boneco, porém<br />
não me convenci de que seriam os ideais<br />
para trabalhar com as crianças. Resolvi traba-<br />
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