Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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Século XXI: o jogo necessário para o aprendizado e para o mundo do trabalho<br />
Faz parte ain<strong>da</strong> do Homo Ludens em ação,<br />
a tensão e a incerteza, cerca<strong>da</strong> pela busca de<br />
virtudes, honra, nobreza e glória.<br />
Para Huizinga (1971), no mito e no culto se<br />
originam as grandes forças instintivas <strong>da</strong> civilização<br />
humana:<br />
50<br />
... o direito e a ordem, o comércio e o lucro, a indústria<br />
e a arte, a poesia, a sabedoria e a ciência. To<strong>da</strong>s elas<br />
têm suas raízes no solo primitivo do jogo (...) O<br />
homem primitivo procura, através do mito, <strong>da</strong>r conta<br />
do mundo dos fenômenos atribuindo a este um<br />
fun<strong>da</strong>mento divino. Em to<strong>da</strong>s as caprichosas invenções<br />
<strong>da</strong> mitologia, há um espírito fantasista que joga no<br />
extremo limite entre a brincadeira e a serie<strong>da</strong>de.<br />
(HUIZINGA, 1971, p. 7).<br />
Um dos exemplos mais fantásticos do jogo,<br />
sobretudo para os adultos, diz respeito ao “uso<br />
<strong>da</strong>s palavras”, sejam estas nas batalhas verbais,<br />
no jogo <strong>da</strong>s metáforas; na <strong>da</strong>nça e na<br />
música e, ain<strong>da</strong>, na poesia.<br />
Não menos importante ain<strong>da</strong> há estreita relação<br />
entre jogo e conhecimento, e que esta<br />
prática humana, em sua função, apresenta dois<br />
aspectos: a luta por algo ou a representação de<br />
algo. Nas palavras do autor, “o atrativo que o<br />
jogo exerce sobre o jogador reside exatamente<br />
nesse risco. Usufruímos com isso de uma liber<strong>da</strong>de<br />
de decisão que, ao mesmo tempo, está<br />
correndo um risco e está sendo inapelavelmente<br />
restringi<strong>da</strong>” (HUIZINGA, 1971, p. 149).<br />
Em suma, “o jogo possui uma essência própria”,<br />
independente <strong>da</strong> consciência <strong>da</strong>queles que<br />
jogam. O horizonte temático não pode ser limitado,<br />
nem dominado apenas pela subjetivi<strong>da</strong>de.<br />
O que é possibilitado ao jogador é a decisão<br />
sobre qual jogo quer ou não quer jogar. Segundo<br />
Huizinga, “trata-se de uma reali<strong>da</strong>de que ultrapassa<br />
a esfera <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana”. Portanto,<br />
seu fun<strong>da</strong>mento não reside na subjetivi<strong>da</strong>de, pois,<br />
se assim fosse, limitar-se-ia à humani<strong>da</strong>de”<br />
(1971, p. 5 e 6).<br />
Para os seres humanos e, no caso especificamente<br />
deste artigo, o “adulto”, a ânsia de ser<br />
o primeiro no jogo escolhido assume tantas formas<br />
de expressão quantas as oportuni<strong>da</strong>des que<br />
a socie<strong>da</strong>de oferece para tal.<br />
Neste ponto, retomamos uma <strong>da</strong>s questões<br />
assinala<strong>da</strong>s na obra em questão: Até que ponto<br />
será possível verificar a presença do elemento<br />
lúdico em épocas culturalmente mais desenvolvi<strong>da</strong>s<br />
e contemporâneas? De que maneira, o<br />
espírito lúdico domina as ativi<strong>da</strong>des do homem?<br />
Defendemos, nesta linha de argumentação,<br />
ao relacionarmos Winnicott (2001, 1994, 1990,<br />
1988), De Masi (2000) e Huizinga (1971), que<br />
o conhecimento escolar, mais especificamente<br />
na educação de jovens e adultos – nos seus<br />
diferentes níveis e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des – pode se tornar<br />
um jogo muito atraente de ser jogado, desde<br />
que, do nosso ponto de vista, ele seja ligado<br />
ao trabalho. E que o trabalho, tarefa em princípio<br />
dos adultos, é um jogo também que pode<br />
ser criativo, desde que haja o ócio necessário<br />
para tanto.<br />
Vale a pena ressaltar a seguinte passagem<br />
<strong>da</strong> obra de J. Huizinga:<br />
Sempre que nos sentirmos presos de vertigem,<br />
perante a secular interrogação sobre a diferença<br />
entre o que é sério e o que é jogo, mais uma vez<br />
encontraremos no domínio <strong>da</strong> ética o ponto de<br />
apoio que a lógica é incapaz de oferecer-nos.<br />
Conforme dissemos desde o início, o jogo está<br />
fora desse domínio <strong>da</strong> moral, não é em si mesmo<br />
nem bom nem mau. Mas sempre que tivermos de<br />
decidir se qualquer ação a que somos levados<br />
por nossa vontade é um dever que nos é exigido<br />
ou é lícito como jogo, nossa consciência moral<br />
prontamente nos <strong>da</strong>rá a resposta. Sempre que<br />
nossa decisão de agir depende <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de ou<br />
<strong>da</strong> justiça, <strong>da</strong> compaixão ou <strong>da</strong> clemência, o<br />
problema deixa de ter sentido. Basta uma gota<br />
de pie<strong>da</strong>de para colocar nossos atos acima <strong>da</strong>s<br />
distinções intelectuais. Em to<strong>da</strong> consciência moral<br />
basea<strong>da</strong> no reconhecimento <strong>da</strong> justiça e <strong>da</strong> graça,<br />
o dilema do jogo e <strong>da</strong> serie<strong>da</strong>de, até aqui<br />
insolúvel, deixará de poder ser formulado. (1971,<br />
p. 236).<br />
Feitas estas considerações, gostaríamos de<br />
delinear uma proposta possível para a Pe<strong>da</strong>gogia<br />
do Século XXI.<br />
Proposta para a Pe<strong>da</strong>gogia do século<br />
XXI<br />
Conforme as características aponta<strong>da</strong>s anteriormente,<br />
a Pe<strong>da</strong>gogia do Século XXI está<br />
se constituindo por uma série de tarefas, rela-<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 43-53, jan./jun., 2006