Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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Nessa relação de acolhimento, verifica-se<br />
que a ludici<strong>da</strong>de valoriza o sentido de cooperação,<br />
de estabelecimento de vínculos e de percepção<br />
<strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des na vivência do<br />
momento presente. Segundo os estudos de Luckesi,<br />
a ludici<strong>da</strong>de assume um caráter interno<br />
de absorção na realização <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de e esta<br />
absorção nem sempre se apresenta de forma<br />
alegre e diverti<strong>da</strong>. Uma ativi<strong>da</strong>de realiza<strong>da</strong> com<br />
a escrita, em que os participantes expressam<br />
os sentimentos a partir <strong>da</strong> visualização de uma<br />
fotografia, ou <strong>da</strong> escuta de uma música ou <strong>da</strong><br />
apreciação estética de um espetáculo teatral<br />
pode representar para eles um grande esforço<br />
de abstração e de expressão por meio do sistema<br />
<strong>da</strong> língua escrita. O ato de perceber os próprios<br />
limites, verificados na ativi<strong>da</strong>de lúdica, por<br />
exemplo, não se caracteriza como um momento<br />
divertido, mas como um desafio de romper<br />
limites; assim, o prazer é sentido na busca <strong>da</strong><br />
superação do limite encontrado.<br />
Neste sentido, convém afirmar que, quando<br />
o sujeito está inteiramente presente na ativi<strong>da</strong>de,<br />
está mobilizando as quatro dimensões, física,<br />
cognitiva, emocional e sócio-cultural, em um<br />
mesmo momento. Nesse instante, o sujeito manifesta-se<br />
de forma mais aberta e sensível para<br />
conhecer melhor as suas potenciali<strong>da</strong>des e limites,<br />
buscando superar determinados desafios<br />
encontrados na ativi<strong>da</strong>de essencialmente lúdica.<br />
A ativi<strong>da</strong>de lúdica relaciona-se com o reconhecimento<br />
dos limites e dos avanços do sujeito na<br />
realização de ativi<strong>da</strong>des que ativem as potenciali<strong>da</strong>des<br />
desse sujeito e as possibilitem evoluir.<br />
Nesse processo, o educando apresenta-se livre,<br />
participativo e voltado para a prática do autoconhecimento.<br />
Portanto, a ativi<strong>da</strong>de lúdica plena<br />
volta<strong>da</strong> para o autoconhecimento possibilita o<br />
contato do sujeito consigo mesmo, com o outro e<br />
com o mundo social de que participa.<br />
5. A alfabetização de jovens e adultos<br />
e o processo de conscientização<br />
Do ponto de vista <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> Libertadora,<br />
alicerça<strong>da</strong> pelas idéias do educador Paulo<br />
Freire, a alfabetização é concebi<strong>da</strong> como pro-<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 133-146, jan./jun., 2006<br />
Cilene Nascimento Can<strong>da</strong><br />
cesso voltado para a democracia <strong>da</strong> cultura,<br />
compreendido como um ato de criação capaz<br />
de desencadear outros atos criadores. Paulo<br />
Freire (1978, p. 104) pensava “numa alfabetização<br />
em que o homem, porque não fosse seu<br />
paciente, seu objeto, desenvolvesse a impaciência,<br />
a vivaci<strong>da</strong>de, característica dos estados<br />
de procura, de invenção e reivindicação”. Nesse<br />
sentido, as relações que homens e mulheres<br />
estabelecem no mundo são decorrentes dos atos<br />
de criação e recriação de representação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />
cultural.<br />
Nessa relação entre sujeito e objeto, resulta<br />
o conhecimento, que é expresso pela linguagem.<br />
Sendo assim, o ato de alfabetização é alicerçado<br />
pela capaci<strong>da</strong>de de inquietação, de conscientização<br />
e de contextualização do mundo que<br />
o sujeito vivencia e constrói por meio do seu<br />
trabalho. O aprendizado <strong>da</strong> palavra escrita é<br />
um processo de descoberta, de criativi<strong>da</strong>de e<br />
de sentido vinculado com a cultura construí<strong>da</strong> e<br />
elabora<strong>da</strong> por homens e mulheres no percurso<br />
do estar-no-mundo.<br />
No processo de alfabetização de jovens e<br />
adultos, basea<strong>da</strong> na conscientização, os sujeitos<br />
não aprendem simplesmente a decodificar<br />
as palavras escritas nem a codificar as palavras<br />
fala<strong>da</strong>s de forma desconexa <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />
social dos aprendizes. Os sujeitos dão continui<strong>da</strong>de<br />
à interpretação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de em que<br />
vivem, representando-a de forma gráfica. As<br />
palavras que simbolizam o contexto social e<br />
cultural dos aprendizes são encharca<strong>da</strong>s de<br />
vi<strong>da</strong>, de experiências, de emoções vivencia<strong>da</strong>s<br />
pelos sujeitos.<br />
To<strong>da</strong>s as palavras fazem parte do universo<br />
conceitual e vivente do adulto e o processo de<br />
alfabetização tem a função de ampliar a consciência<br />
do mundo que constrói a ca<strong>da</strong> dia. As<br />
palavras só fazem sentido se tiverem efetivos<br />
significados na existência cultural do aprendiz.<br />
Aos poucos, o universo cultural do estu<strong>da</strong>nte<br />
vai se ampliando e, ao mesmo tempo, estabelecendo<br />
uma aproximação crítica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.<br />
A alfabetização não é somente um aprendizado<br />
<strong>da</strong> leitura <strong>da</strong>s palavras, consiste em uma<br />
apreensão de mundo e <strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong> importância<br />
do ato de ler e de interpretar os fatos,<br />
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