11.04.2013 Views

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

nhecimento, ocupando o lugar superegóico <strong>da</strong><br />

lei e <strong>da</strong> ordem – <strong>da</strong> onipotência <strong>da</strong>s figuras parentais<br />

introjeta<strong>da</strong>s.<br />

As falas a seguir ilustram o processo de sedução<br />

em sala de aula:<br />

Bom dia, meus amores, acalmem-se, vocês estão<br />

agitados...<br />

Vamos, meus queridos amigos, vamos entrando<br />

e sentando...<br />

Ca<strong>da</strong> um olhe para mim e para dentro de si e se<br />

pergunte: como estou em relação aos ensinamentos<br />

<strong>da</strong> professora?<br />

Quando o professor emite essas falas, revela<br />

representações sociais, ancora<strong>da</strong>s na sedução;<br />

observa-se que ele as utiliza para,<br />

possivelmente, manter a disciplina e sua autori<strong>da</strong>de<br />

em sala de aula, bem como para reafirmar<br />

sua posição de mediador do processo<br />

ensino-aprendizagem, reforçando, desta maneira,<br />

no aluno, a busca do conhecimento.<br />

O processo de sedução na relação pe<strong>da</strong>gógica<br />

fun<strong>da</strong>menta-se na vinculação erótica à autori<strong>da</strong>de<br />

professoral – atualização do vínculo original<br />

pré-edipiano de identificação. Pode-se auxiliar<br />

ou obstaculizar o processo educativo do aluno,<br />

obstaculiza-o quando o professor assume contratransferencialmente<br />

o lugar <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de primordial,<br />

colocando-se no lugar <strong>da</strong> lei e <strong>da</strong> ordem<br />

e no lugar do conhecimento. Ao assumir esse<br />

lugar, não cumpre sua função de mediador, pois<br />

o aluno fica vinculado a ele e não ao saber. (MOR-<br />

GADO, 1995, p. 35)<br />

É preciso salientar, no entanto, que tais representações<br />

sociais, ancora<strong>da</strong>s na sedução,<br />

podem dificultar o ato educativo, quando o professor<br />

também encarna o lugar <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de<br />

primordial, e, nessa possibili<strong>da</strong>de, pode deixar<br />

de assumir a função de mediador <strong>da</strong> aprendizagem,<br />

para estabelecer com o aluno vínculos<br />

apenas afetivos, não os transferindo para o processo<br />

de conhecimento.<br />

Assim sendo, o professor precisaria investir-se<br />

de sua autori<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica para neutralizar<br />

a autori<strong>da</strong>de primordial. Rompendo o<br />

fascínio sedutor que essa autori<strong>da</strong>de exerce<br />

sobre ele e sobre o aluno, criará condições<br />

para que a relação pe<strong>da</strong>gógica centre-se no<br />

conhecimento.<br />

Maria de Lourdes S. Ornellas<br />

Observou-se que, no momento nomeado de<br />

durante a aula, as representações sociais ancora<strong>da</strong>s<br />

na relação transferencial se presentificaram,<br />

e a relação professor-aluno estabeleceu-se<br />

a partir <strong>da</strong> transferência do aluno e <strong>da</strong> contratransferência<br />

do professor.<br />

Pode-se pontuar que Freud (1900) estava<br />

certo, ao afirmar que o aluno transfere ao professor,<br />

de uma maneira singular, algo <strong>da</strong> relação<br />

entre pai e mãe, transfere também um saber<br />

que ele não tem e, assim, para estabelecer essa<br />

relação, o professor deve oferecer-se como<br />

detentor do saber que lhe é suposto na transferência.<br />

Observemos uma fala entre aluno e professor:<br />

Aluno: Prozinha, venha cá me tirar essa dúvi<strong>da</strong>,<br />

a senhora sabe, venha pró, sente aqui.<br />

Professor: Sei alguma coisa, um dia você chega lá.<br />

Aluno: Pró, você está elegante...<br />

Professor: Que bom saber disso.<br />

Aluno: Pró, me ensine esse exercício.<br />

Professor: Que aju<strong>da</strong> você precisa?<br />

Nessas falas, pode-se constatar que o aluno<br />

reconhece o saber do professor e este faz semblante,<br />

isto é, parece evidenciar que sabe e é<br />

essa a singular contribuição que a relação<br />

transferencial pode oferecer para a educação,<br />

que o aluno, diante <strong>da</strong> sua castração (não saber),<br />

possa encontrar no saber do professor um<br />

caminho para seu processo de crescimento,<br />

considerando que o sujeito procura no outro o<br />

saber sobre aquilo que lhe falta. Na relação com<br />

o analista, o sujeito busca o saber sobre aquilo<br />

que lhe falta, na relação com o professor na<br />

escola, o aluno supõe no professor o saber sobre<br />

seus estudos, projetos, medos e desejos. Em<br />

suma, é a falta que leva o aluno a transferir e<br />

esta tem como princípio constitutivo o sujeito<br />

suposto saber (Sss) 1 .<br />

Freud chega a afirmar que a relação transferencial<br />

está presente também na relação professoraluno.<br />

Para ele, trata-se de um fenômeno que<br />

permeia qualquer relação humana. Ë isso o que<br />

1 Lacan utiliza esta nomeação para explicar que o sujeito<br />

(paciente) atribui um saber ao analista. (1993, p.87)<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 211-225, jan./jun., 2006 221

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!