11.04.2013 Views

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Fala e escuta de professores em sala de aula<br />

Ajustes e Achados<br />

Pretende-se, neste momento, restituir o discurso<br />

dos professores em sala de aula, na medi<strong>da</strong><br />

em que ca<strong>da</strong> fala, com suas ausências e<br />

presenças, parece ter produzido uma nova descoberta<br />

a partir <strong>da</strong>s representações desvela<strong>da</strong>s<br />

neste estudo. Fala não tem um único sentido. A<br />

fala tem sempre um mais além atrás do que diz<br />

um discurso, há o que ele quer dizer e, atrás do<br />

que quer dizer, há ain<strong>da</strong> um certo dizer.<br />

220<br />

... esta palavra aliena<strong>da</strong> coloca o alente à escuta<br />

do que não sabia ter dito nem “pretendia” dizer;<br />

pode-se resistir à palavra interpretante, seja negando<br />

a sua identi<strong>da</strong>de – “não foi o que eu disse”,<br />

seja negando sua alteri<strong>da</strong>de – “foi exatamente<br />

o que eu queria dizer”; a fala integrante<br />

não bastou de compreender mais profun<strong>da</strong>mente<br />

o que foi dito, mas, apenas de deixar ouvir o<br />

que a fala disse. A fala fala e nela o homem reside.<br />

(FIGUEIREDO, 1994, p. 128-129)<br />

Fazer uma experiência com a fala é, <strong>da</strong> mesma<br />

forma, deixar-se atravessar por ela, acolhêla<br />

no seu poder mais próprio, ou seja, na sua<br />

alteri<strong>da</strong>de. Fazer uma experiência com a fala é<br />

preciso: “Por conseqüente, libertar a palavra para<br />

seu outro dizer, para seu dizer outro, isto implica<br />

em deixar que a fala fale e, mesmo quando as<br />

palavras brotem <strong>da</strong> minha boca, colocar-me à<br />

escuta”. (FIGUEIREDO, 1994, p. 122).<br />

Considerando o objeto deste estudo e que a<br />

fala é uma <strong>da</strong>s formas que permite ao sujeito expressar<br />

sua subjetivi<strong>da</strong>de, sua singulari<strong>da</strong>de e suas<br />

representações sociais, fiz a opção pela análise<br />

de discurso como técnica de análise dos <strong>da</strong>dos,<br />

uma vez que tal escolha me permitiria captar concepções,<br />

valores, atitudes e até mesmo contradições<br />

na fala dos sujeitos <strong>da</strong> pesquisa.<br />

Vale dizer que a categorização dos <strong>da</strong>dos<br />

foi organiza<strong>da</strong> à medi<strong>da</strong> que surgiram conteúdos<br />

latentes e manifestos nas falas. Em segui<strong>da</strong>,<br />

foram interpretados à luz <strong>da</strong>s teorias explicativas<br />

deste estudo, tomando como referência,<br />

as falas que emergiram <strong>da</strong>s observações em<br />

classe e <strong>da</strong>s entrevistas dos professores, sem,<br />

no entanto, perder de vista que coube ao pesquisador<br />

uma constante i<strong>da</strong> e volta ao material<br />

de coleta.<br />

A letra fala<strong>da</strong> e a letra escrita, conti<strong>da</strong>s nas<br />

observações e entrevistas dos sujeitos dessa<br />

análise, foram submeti<strong>da</strong>s à análise de discurso.<br />

Cabe lembrar que o que está dito, escrito é<br />

o ponto de parti<strong>da</strong>: a análise e interpretação é o<br />

processo a ser seguido e a contextualização é o<br />

pano de fundo que pode assegurar relevância.<br />

Para analisar a fala dos professores, foi preciso<br />

saber ouvir, sentir os tons, pausas, ritmos,<br />

de preferência, sem pressa, para que as falas<br />

tomassem forma e o imaginário se encarregasse<br />

de captar o belo. A fala é como o desenho,<br />

composto de um conjunto de linhas e<br />

contornos, em que o falante representa, traça,<br />

projeta e manifesta o que sente e também o<br />

que não sente.<br />

Assim posto, os ajustes e os achados a partir<br />

<strong>da</strong> fala dos professores produziram sentidos<br />

e me deixaram confortável para armar o “quebra-cabeça”,<br />

pedir licença ao leitor para traduzir<br />

a imagem o discurso e, desse modo, permitir<br />

que a mensagem fizesse eco.<br />

Nesse caminho, analisaram-se as representações<br />

sociais de professores sobre fala e escuta<br />

em sala de aula, compreendendo os<br />

diferentes significados e significantes destas<br />

representações com base no referencial teórico<br />

<strong>da</strong> psicanálise.<br />

A pesquisa mostrou que a fala e a escrita<br />

de professores em sala de aula estão ancora<strong>da</strong>s<br />

em representações de sedução, relação<br />

transferencial, ambivalência, repressão e<br />

frustração, observa<strong>da</strong>s nos momentos de recepção<br />

de chega<strong>da</strong>, durante a aula e de conclusão<br />

<strong>da</strong> aula.<br />

A sedução foi observa<strong>da</strong> no momento de<br />

recepção de chega<strong>da</strong> e se reatualiza na relação<br />

pe<strong>da</strong>gógica porque, <strong>da</strong><strong>da</strong> a assimetria existente<br />

entre professor e aluno, remete à<br />

polari<strong>da</strong>de inicial entre um que quer saber, saber-suposto,<br />

saber do professor – e um que não<br />

sabe e quer saber, o aluno.<br />

A relação pe<strong>da</strong>gógica entre um que detém<br />

o saber – o professor e o outro que quer saber<br />

– o aluno, reproduz a relação originária que é a<br />

própria relação de sedução: o aluno atualiza<br />

conflitos edipianos na sala de aula, onde a autori<strong>da</strong>de<br />

cindi<strong>da</strong> do professor personifica o co-<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 211-225, jan./jun., 2006

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!