Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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As ativi<strong>da</strong>des lúdicas na alfabetização político-estética de jovens e adultos<br />
Este gráfico 4 mostra que grande parte de<br />
adultos não se alfabetizou durante a infância<br />
por sofrerem privações sociais, principalmente<br />
a exploração do trabalho infantil. Esta situação<br />
de exclusão social confirma a exploração do<br />
trabalho de meninas e meninos brasileiros e de<br />
todo o mundo, conforme os <strong>da</strong>dos apresentados<br />
por Maurício Silva (2002):<br />
136<br />
De acordo com a OIT, 250 milhões de crianças<br />
entre 5 e 14 anos trabalham em todo o<br />
planeta. Desse número, estima-se que 140<br />
milhões sejam meninos e 110 milhões, meninas.<br />
Elas, assim como os meninos e as mulheres<br />
adultas, continuam sendo explorados<br />
em virtude de custarem menos para o capitalista,<br />
sendo, portanto, mais hábeis e por possuírem<br />
mãos mais delica<strong>da</strong>s que os homens.<br />
(SILVA, 2002, p.37)<br />
É necessário ressaltar que estes <strong>da</strong>dos anunciados<br />
não incluem a situação do trabalho infantil<br />
doméstico e não-remunerado que submete<br />
estas crianças a tarefas força<strong>da</strong>s, impedindoas<br />
de freqüentarem a escola na faixa etária<br />
adequa<strong>da</strong>, conforme conta a estu<strong>da</strong>nte do turno<br />
noturno desta escola pública:<br />
Eu nasci no interior <strong>da</strong> Bahia, em Ribeira do<br />
Pombal. Minha infância não foi boa não. A<br />
gente trabalhava na roça para aju<strong>da</strong>r na casa.<br />
Minha mãe tinha 10 filhos e eu ajudei a criar.<br />
Eu fazia comi<strong>da</strong>, lavava roupa, ia pegar água<br />
longe, por isso não pude estu<strong>da</strong>r. Eu ia para a<br />
escola um dia sim, um dia não. Tinha até semanas<br />
que eu nem ia. Eu e meus irmãos, a gente<br />
quase não brincava, porque o trabalho era<br />
pesado demais e não sobrava tempo. (Raimun<strong>da</strong><br />
de Jesus de Souza, 29 anos).<br />
No Brasil, crianças que passam por este tipo<br />
de situação são, na maior parte <strong>da</strong>s vezes, analfabetas<br />
e encontram-se vulneráveis, no ambiente<br />
de trabalho, aos maus-tratos físicos e<br />
psicológicos, bem como abuso emocional e sexual<br />
pelos patrões e familiares. Além disso, estas<br />
crianças sofrem privações de cunho<br />
emocional, conforme aponta Silva:<br />
... são priva<strong>da</strong>s do afeto e do apoio de seus pais,<br />
e sujeitas a humilhações por parte dos filhos de<br />
seus patrões, podendo, assim, serem afeta<strong>da</strong>s<br />
de maneira indelével em suas auto-estimas, enfim,<br />
impactando, do ponto de vista socioemocional,<br />
suas subjetivi<strong>da</strong>des que, assim, convertem-se<br />
em coisa. Esta forma de exploração é<br />
considera<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s formas de exploração infantil<br />
mais difundi<strong>da</strong>s e menos pesquisa<strong>da</strong>s, e<br />
que envolve muitos riscos para as crianças. (SIL-<br />
VA, 2002, p.39 e 40)<br />
Neste sentido, percebe-se que atuar no campo<br />
<strong>da</strong> alfabetização de jovens e adultos é defrontar-se<br />
com a exclusão de uma série de<br />
conhecimentos e práticas sociais importantes<br />
para a consoli<strong>da</strong>ção do bem-estar humano e social,<br />
desde a fase <strong>da</strong> infância. É confrontar-se<br />
com uma série de injustiças sociais a que estão<br />
submetidos os sujeitos que tanto contribuem para<br />
o desenvolvimento econômico e cultural do país.<br />
4 Fonte: Relatos realizados pelos estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> de<br />
Jovens e Adultos em sala de aula.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 133-146, jan./jun., 2006