Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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essa compreensão é “... na<strong>da</strong> mais é do que a<br />
per<strong>da</strong> <strong>da</strong> naturali<strong>da</strong>de humana, imposta pelo<br />
homem ao próprio homem.” (p. 26). O autor<br />
acrescenta que é equivocado entendimento de<br />
que o adulto, quando volta a jogar (brincar), se<br />
torna criança novamente. Acontece é que essas<br />
ativi<strong>da</strong>des desbloqueiam as resistências,<br />
ampliam sensações de prazer, possibilitam ao<br />
educador se conhecer, contribuem para uma<br />
melhor disponibili<strong>da</strong>de corporal e, assim, a pessoa<br />
se conscientiza <strong>da</strong>s suas possibili<strong>da</strong>des e<br />
limitações, além de despertar para uma atitude<br />
de escuta em relação aos circunstantes,<br />
para melhor compreendê-los e relacionar-se<br />
com eles.<br />
Em relação à crença que compreende que<br />
a competição é estimulante no processo educativo,<br />
não se limita às ativi<strong>da</strong>des lúdicas. Na<br />
ver<strong>da</strong>de, a competição perpassa a escola em<br />
vários aspectos. Num sentido mais amplo, essa<br />
crença foi percebi<strong>da</strong> em Teresinha e Margari<strong>da</strong><br />
e, em relação à competição presente nos<br />
jogos, com muita força, em Cândi<strong>da</strong> e em Margari<strong>da</strong>.<br />
Para a Professora Cândi<strong>da</strong>, a competição é<br />
um elemento estimulador. Ela diz, inclusive, que<br />
“Se não houver prêmio, eles vão querer brincar”.<br />
Por mais que pareça que os jogos em si<br />
são naturalmente competitivos, isso não é ver<strong>da</strong>de.<br />
Celso Antunes (2001) esclarece que “Não<br />
é sua natureza mas suas regras que mais claramente<br />
definem se é o mesmo competitivo ou<br />
cooperativo”. (p.12). Paulo Ghiraldelli Júnior<br />
(2000) também faz uma crítica à competição,<br />
ao notar que:<br />
A hipervalorização <strong>da</strong> competência e a proposição<br />
<strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong>de como um ideal educacional<br />
sugerem, reali<strong>da</strong>de, a volta ao “<strong>da</strong>rwinismo<br />
social” e à simples luta pela sobrevivência entre<br />
as diferentes espécies do reino animal, que termina,<br />
inevitavelmente, com o extermínio dos mais<br />
fracos pelos mais fortes. (p. 77)<br />
A valorização <strong>da</strong> competição, seja no processo<br />
de ensino-aprendizagem seja nos jogos,<br />
é contrária à compreensão de ludici<strong>da</strong>de aqui<br />
defendi<strong>da</strong>, pois não contribui para a educação<br />
humana nos seus aspectos formativos mais essenciais,<br />
tanto no trato consigo mesmo quanto<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 55-77, jan./jun., 2006<br />
Ilma Maria Fernandes Soares; Bernadete de Souza Porto<br />
com os outros, pois nega a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, a cooperação,<br />
a partilha, a interação.<br />
A criação de um trabalho lúdico que se paute<br />
nos pressupostos elencados no início desta<br />
seção, não significa modismo, mas justifica-se<br />
diante <strong>da</strong>s suas contribuições para a formação<br />
humana. Assim, é necessário que os/as professores/as<br />
tenham acesso aos conhecimentos<br />
sobre a ludici<strong>da</strong>de. Somente assim entenderão<br />
a importância desses aspectos e os incluirão<br />
com objetivos pe<strong>da</strong>gógicos.<br />
Quanto à desvalorização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />
e <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de isso só ocorre porque, de<br />
forma geral, as professoras desconhecem as<br />
inúmeras contribuições para o processo pe<strong>da</strong>gógico.<br />
3. AMARRANDO OS FIOS: ALGU-<br />
MAS POSSÍVEIS CONCLUSÕES<br />
As crenças sistematiza<strong>da</strong>s e a sua análise<br />
possibilitam fazer algumas considerações sobre<br />
a presença do elemento lúdico na escola. Nesse<br />
sentido, um dos resultados é que a resistência<br />
<strong>da</strong>s professoras não é somente aos jogos e<br />
brincadeiras, mas também a outras ativi<strong>da</strong>des<br />
que tragam em si o princípio <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de em<br />
que, portanto, haja maior participação <strong>da</strong>s crianças.<br />
Desse modo, percebo a centrali<strong>da</strong>de que<br />
os/as professores/as assumem em relação ao<br />
trabalho pe<strong>da</strong>gógico. Em vários momentos, durante<br />
a fala <strong>da</strong>s professoras, em especial de<br />
Teresinha e Margari<strong>da</strong>, é a sensação de desconforto<br />
que sentem, quando se propõem a fazer<br />
essas ativi<strong>da</strong>des, que determina continuar<br />
ou não um trabalho com esse caráter.<br />
Percebi, durante a pesquisa, que as professoras,<br />
diante <strong>da</strong> deficiência em sua formação,<br />
compreendem a ludici<strong>da</strong>de como recreação e<br />
confecção de ativi<strong>da</strong>des e recursos, ou seja, uma<br />
atribuição a mais no seu ofício. Dessa forma,<br />
não se sentem prepara<strong>da</strong>s, não consideram que<br />
isto faz parte do seu papel pe<strong>da</strong>gógico e, assim,<br />
não demonstram esse desejo de vivenciá-la com<br />
seus alunos. É necessário que eles enten<strong>da</strong>m<br />
que a ludici<strong>da</strong>de extrapola a utilização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />
lúdicas.<br />
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