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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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Coração de professor: o (des)encanto do trabalho sob uma visão sócio-histórica e lúdica<br />

docente é a mediação <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de, ou<br />

seja, do vinculo entre os conhecimentos espontâneos<br />

e científicos. Observamos que os professores,<br />

no primeiro momento do diálogo,<br />

tentam acolher as experiências de vi<strong>da</strong> dos educandos,<br />

buscam escutá-los nas suas expectativas,<br />

visão de mundo e sentimentos. Acreditamos<br />

que esta seja uma forma de cui<strong>da</strong>r que emerge<br />

do afeto positivo do profissional com seu trabalho,<br />

no qual ocorre um clima de liber<strong>da</strong>de, espontanei<strong>da</strong>de<br />

e respeito à comunicação e<br />

expressão recíprocas. Tal clima é nutrido pela<br />

ludici<strong>da</strong>de como dimensão do ser humano, que<br />

traz em si as características cita<strong>da</strong>s.<br />

Vemos como necessário para o desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> afetivi<strong>da</strong>de positiva no trabalho que,<br />

na formação inicial e continua<strong>da</strong>, o professor<br />

possa ser igualmente acolhido na expressão dos<br />

seus sentimentos e visão de mundo, constituindo<br />

vínculos entre sua experiência cotidiana e<br />

os saberes necessários para a práxis pe<strong>da</strong>gógica.<br />

Notamos que os professores pesquisados<br />

mostraram esta necessi<strong>da</strong>de quando argumentam<br />

que precisam compartilhar o cotidiano de<br />

sua prática para discutir as técnicas e ferramentas<br />

utiliza<strong>da</strong>s e compreender os fatores<br />

emocionais nela implicados, visando à formação<br />

de vínculos entre os educandos, com estes<br />

e os conteúdos, com os conteúdos em si.<br />

Como outro fun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia lúdica,<br />

apontamos o momento <strong>da</strong> análise que inclui<br />

a problematização e a instrumentalização. A<br />

problematização abrange a mediação do confronto<br />

com a reali<strong>da</strong>de e a ruptura dos conhecimentos<br />

consoli<strong>da</strong>dos para incorporação dos<br />

novos conhecimentos (GASPARIN, 2003).<br />

Analisamos este como momento importante<br />

para ação lúdica, pois esta cria Zona de Desenvolvimento<br />

Potencial, segundo Vigotski<br />

(1988). Neste aspecto, destacamos a necessi<strong>da</strong>de<br />

de desenvolver o comprometimento e a<br />

competência política, teórica e técnica do<br />

docente, potenciais indispensáveis para negociação<br />

dos significados no processo de mediação,<br />

onde o educador resume, valoriza,<br />

interpreta, age, decide e avalia.<br />

Na instrumentalização, foi possível observar<br />

que os professores conscientes ou incons-<br />

92<br />

cientemente, utilizam na sua sala de aula várias<br />

formas de expressão lúdica – como desenhos,<br />

poesias e música, auxiliando os educandos a<br />

elaborar uma representação mental dos conhecimentos<br />

analisados. Assim, os professores também<br />

nutrem seus educandos com ferramentas<br />

lúdicas, atuando nos campos onde brotam a criativi<strong>da</strong>de,<br />

o desafio, a tensão e o prazer no processo<br />

de aprender. Os depoimentos mostraram<br />

que os professores que assim atuam também<br />

se nutrem dessas ferramentas, sentindo-se mais<br />

engajados e comprometidos com sua práxis.<br />

Outro importante fun<strong>da</strong>mento que destacamos<br />

como componente integrante <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de<br />

no trabalho docente foi a catarse, ou seja, a<br />

expressão <strong>da</strong> nova forma de entender a reali<strong>da</strong>de<br />

(GASPARIM, 2003). Na pesquisa, disponibilizamos<br />

vários momentos em que o grupo<br />

declarou seus sentimentos e percepções sobre<br />

o curso, ressignificando as vivências e opiniões<br />

debati<strong>da</strong>s. Neste momentos, os professores afirmaram<br />

que o curso representou um “intervalo<br />

do seu cotidiano escolar” 14 no qual foi<br />

possível olhar para si mesmo (sentir, pensar<br />

e agir), se conhecer na companhia dos colegas<br />

com liber<strong>da</strong>de de expressão, espontanei<strong>da</strong>de<br />

e superação de pré-conceitos”.<br />

Além do autoconhecimento, o professores revelaram<br />

que o curso trouxe maior clareza sobre<br />

seu papel como sujeitos <strong>da</strong> práxis, sobre<br />

a crise de identi<strong>da</strong>de profissional que<br />

atravessam e sobre as várias dimensões que<br />

assumem o seu trabalho. Desta forma, entendemos,<br />

por que a catarse representa a síntese<br />

na perspectiva dialética <strong>da</strong> construção do conhecimento,<br />

em que foi possível perceber a<br />

consciência amplia<strong>da</strong>, a criativi<strong>da</strong>de, o conhecimento<br />

e autoconhecimento nos professores<br />

pesquisados.<br />

A partir de tais observações, reafirmamos<br />

nossa posição de que a formação docente integra<br />

a tensão entre objetivi<strong>da</strong>de, formação teórica<br />

e lúdica, e a subjetivi<strong>da</strong>de que sugere a<br />

aprendizagem do ser e do conviver no tempo e<br />

espaço pe<strong>da</strong>gógicos, carecendo de uma forma-<br />

14 Semelhante ao jogo, de acordo com Huizinga (2004): um<br />

intervalo na vi<strong>da</strong> cotidiana.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 79-98, jan./jun., 2006

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