Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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quanto à psicologia – o que leva a concluir que<br />
a representação social é um conceito psicossocial.<br />
A outra justificativa deriva <strong>da</strong> primeira, pois<br />
como os conceitos aglutinados de outras áreas<br />
são mais restritos, uma vez que tratam basicamente<br />
de objetos e não de fenômenos, constituem-se<br />
em relação ao próprio conceito de<br />
representação social, os mais operativos.<br />
Estas peculiari<strong>da</strong>des transformam o conceito de<br />
representação social em um conceito-chave que<br />
aponta mais para um conjunto de fenômenos e<br />
processos do que para objetos claramente diferenciados<br />
ou até mecanismos precisamente definidos.<br />
Mas talvez a própria natureza dos<br />
fenômenos, aos quais o conceito de representação<br />
social faz referência, requer um grau de complexibili<strong>da</strong>de<br />
conceitual e uma flexibili<strong>da</strong>de<br />
dificilmente compatível com critérios estritamente<br />
operativos. Assim, o tipo de reali<strong>da</strong>de social para<br />
o qual o conceito de representação social aponta<br />
está imbricado por um conjunto de elementos<br />
de natureza diversa: processos cognitivos, inserções<br />
sociais, fatores afetivos, sistema de valores...<br />
(SIC) que devem ter lugar simultaneamente<br />
no instrumento conceitual utilizado para elucidá-lo.<br />
(IBANEZ, 1988, p.32)<br />
Vale pontuar que a dificul<strong>da</strong>de na construção<br />
<strong>da</strong> conceituação não lhe retira o mérito de<br />
ser hoje um conceito fun<strong>da</strong>mental na psicologia<br />
social. A representação recebe a nomeação de<br />
social justamente porque é uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de<br />
conhecimento particular, que tem por função<br />
compreender comportamentos e estabelecer a<br />
comunicação entre sujeitos. Esse conhecimento<br />
se nutre <strong>da</strong>s ciências que, por sua vez, é apropria<strong>da</strong><br />
pelos sujeitos pertencentes a determinados<br />
grupos.<br />
A representação, portanto, é compartilha<strong>da</strong><br />
e elabora<strong>da</strong> por um determinado grupo, já que<br />
sua construção ocorre na relação dos sujeitos<br />
entre si e com os objetos. Nesse processo, desconstrói-se<br />
uma reali<strong>da</strong>de que é única, específica,<br />
mas que é compartilha<strong>da</strong> pela comunicação<br />
de sujeitos em interação com o outro. Não há<br />
representação social sem objeto e sem sujeito<br />
social, coletivo no individual, pertencente a um<br />
determinado grupo.<br />
Pode-se dizer que a representação social,<br />
ao estu<strong>da</strong>r a ação humana, expressa uma es-<br />
Maria de Lourdes S. Ornellas<br />
pécie de saber prático de como os sujeitos sentem,<br />
assimilam, aprendem e interpretam o mundo,<br />
inseridos no seu cotidiano, sendo, portanto,<br />
produzidos coletivamente na prática <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
e no decorrer <strong>da</strong> comunicação entre os<br />
sujeitos. “As representações sociais devem ser<br />
estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s articulando elementos afetivos, mentais<br />
e sociais e integrando, ao lado <strong>da</strong> cognição<br />
<strong>da</strong> linguagem e <strong>da</strong> comunicação, as relações<br />
sociais que afetam as representações e a reali<strong>da</strong>de<br />
material social e ideal sobre as quais elas<br />
intervirão”. (JODELET, 2001, p. 41)<br />
É possível pontuar que esse conhecimento<br />
tem uma base cognitiva e afetiva e, portanto,<br />
não constitui categoria bipolar, podendo, desse<br />
modo, afirmar que as representações sociais não<br />
são saberes articulados apenas ao cognitivo, mas<br />
se tecem, de forma dinamiza, em um processo<br />
histórico, que envolve tanto racionali<strong>da</strong>de quanto<br />
afetivi<strong>da</strong>de emotivi<strong>da</strong>de.<br />
Pesquisadores <strong>da</strong> área de <strong>Educação</strong>, e também<br />
fora dela, mostram-se preocupados em<br />
integrar aspectos afetivos e simbólicos na eluci<strong>da</strong>ção<br />
e análise <strong>da</strong>s representações sociais,<br />
concebendo que na ativi<strong>da</strong>de representativa o<br />
objeto deixa de existir como tal, para se converter<br />
num equivalente dos objetos aos quais<br />
foi vinculado como uma contingência psicossocial.<br />
Moscovici pensa representação associa<strong>da</strong><br />
às experiências subjetivas do sujeito, expressas<br />
na comunicação social simultaneamente como<br />
um produto e um processo: “... a ativi<strong>da</strong>de representativa<br />
constitui, portanto, um processo<br />
psíquico que permite tornar familiar e presente<br />
em nosso universo interior, um objeto que está<br />
distante e, de certo modo, ausente...” (MOS-<br />
COVICI, 1978, p.28)<br />
No papel de sujeitos cognitivos, afetivos e<br />
sociais, produzem e comunicam aos seus pares,<br />
incessantemente, suas próprias representações,<br />
designa<strong>da</strong>s tanto por conteúdos<br />
conscientes como por processos inconscientes.<br />
... identificar a natureza complexa <strong>da</strong>s representações<br />
sociais implica, inevitavelmente estabelecer<br />
um intercâmbio entre intersubjetivi<strong>da</strong>des e<br />
o coletivo, na combinação de um saber que não<br />
se dá apenas por processos cognitivos, mas que<br />
contém aspetos inconscientes emocionais, afe-<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 211-225, jan./jun., 2006 215