Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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dinâmicas de grupo para ensinar, mas aquela que<br />
transcende o conteúdo e a técnica e atinge o<br />
âmago <strong>da</strong> interação educador-educando, onde<br />
estão ancora<strong>da</strong>s a necessi<strong>da</strong>de, desejo, espontanei<strong>da</strong>de,<br />
liber<strong>da</strong>de, intencionali<strong>da</strong>de, disciplina,<br />
flexibili<strong>da</strong>de e dialogici<strong>da</strong>de no processo<br />
pe<strong>da</strong>gógico, como descreve Fortuna<br />
(2001):<br />
Uma aula ludicamente inspira<strong>da</strong> não é, necessariamente,<br />
aquela que ensina conteúdos com jogos,<br />
mas aquela em que as características do<br />
brincar estão presentes, influindo no modo de<br />
ensinar do professor, na seleção de conteúdos,<br />
no papel do aluno... a aula lúdica é aquela que<br />
desafia o aluno e o professor e situa-os como<br />
sujeitos do processo pe<strong>da</strong>gógico. A tensão do<br />
desejo de saber, a vontade de participar e a alegria<br />
<strong>da</strong> conquista impregnarão todos os momentos<br />
desta aula. (p. 116-117 – grifo nosso).<br />
Por isso, o caráter lúdico do trabalho pe<strong>da</strong>gógico<br />
não se reduz a um conjunto de técnicas<br />
ludope<strong>da</strong>gógicas e papéis legalmente definidos<br />
e registrados em receituários, pois estas ativi<strong>da</strong>des,<br />
quando mecanicamente realiza<strong>da</strong>s, podem<br />
não ser lúdicas. O jogo, neste contexto, é<br />
usado com uma visão mais abrangente, representando<br />
uma ação lúdica, entendi<strong>da</strong> como<br />
aquela que traz espontanei<strong>da</strong>de, expressivi<strong>da</strong>de,<br />
alegria e flexibili<strong>da</strong>de.<br />
Desta forma, podemos tecer alguns comentários<br />
que auxiliam na caracterização <strong>da</strong> ação<br />
lúdica. No ensino-aprendizagem, nem sempre<br />
os jogos e brincadeiras são lúdicos. Enquanto<br />
utilizados meramente como fim de divertimento<br />
ou restritos a transmissão de conhecimento,<br />
podem se tornar tão mecânicos e desprazerosos<br />
quanto algumas aulas expositivas taxa<strong>da</strong>s<br />
de monótonas e “bancárias” (FREIRE, 1985).<br />
Os jogos não se reduzem ao entretenimento,<br />
pois, quando usados com ludici<strong>da</strong>de, tornamse<br />
dispositivos fun<strong>da</strong>mentais para estabelecer<br />
vínculos no momento em que se realizam, à<br />
medi<strong>da</strong> em que trazem bem-estar e estimulam<br />
a criativi<strong>da</strong>de, facilitam a aprendizagem e a<br />
expressão. E, por último, não somente os jogos<br />
e brincadeiras podem ser utilizados como recursos<br />
lúdicos no processo de ensino, mas qualquer<br />
outra experiência vivi<strong>da</strong> nesta prática que<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 79-98, jan./jun., 2006<br />
Sueli Barros <strong>da</strong> Ressurreição; Bernadete de Souza Porto<br />
proporciona entrega, envolvimento, expressivi<strong>da</strong>de<br />
e ampliação <strong>da</strong> consciência.<br />
Porto (2004) esclarece que o lúdico numa<br />
ativi<strong>da</strong>de não é necessariamente um entretenimento,<br />
mas pode ser uma leitura ou escrita criativa,<br />
o silêncio, o choro, configurando-se como<br />
ação integradora. E é por isso que não é o que<br />
fazemos com a ativi<strong>da</strong>de e sim o para que fazemos<br />
que torna uma ativi<strong>da</strong>de lúdica e integrativa.<br />
Daí a necessi<strong>da</strong>de de distinguir a “ativi<strong>da</strong>de<br />
produtiva lúdica” <strong>da</strong> “ativi<strong>da</strong>de recreativa ou de<br />
entretenimento” 13 a fim de que nem a ludici<strong>da</strong>de<br />
seja reduzi<strong>da</strong> à recreação nem os jogos e<br />
brincadeiras se limitem aos recursos didáticos.<br />
A “ativi<strong>da</strong>de produtiva lúdica” diz respeito a uma<br />
ativi<strong>da</strong>de efetiva, onde o sujeito se entrega a<br />
ela com múltiplas possibili<strong>da</strong>des de interação<br />
consigo mesmo e com os outros e que abre<br />
caminhos para construção mais prazerosa e<br />
autônoma do conhecimento, partindo de uma<br />
motivação interna. Portanto, pode ser realiza<strong>da</strong><br />
de varia<strong>da</strong>s formas, desde uma brincadeira espontânea<br />
até uma leitura de um texto. As ativi<strong>da</strong>des<br />
recreativas, por sua vez, são tão<br />
necessárias quanto a primeira para o desenvolvimento<br />
do ser humano, pois configuram o momento<br />
em que ele possa brincar livre e<br />
espontaneamente e onde também ocorre ludici<strong>da</strong>de,<br />
porém não produzem conhecimento <strong>da</strong><br />
mesma forma que a primeira.<br />
Nesta perspectiva, entendemos que o lúdico,<br />
no trabalho docente, ocorre quando há sintonia<br />
entre os princípios pe<strong>da</strong>gógicos e os<br />
princípios <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de, propiciando maior<br />
abertura de ca<strong>da</strong> um para vi<strong>da</strong> e resultando<br />
numa experiência que vai <strong>da</strong> tensão ao prazer,<br />
do autoconhecimento ao heteroconhecimento,<br />
<strong>da</strong> espontanei<strong>da</strong>de à intencionali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong><br />
comunicação à expressão, dos limites à autonomia,<br />
<strong>da</strong> emoção à razão.<br />
Com arrimo nestes <strong>da</strong>dos e na concepção<br />
dialética do conhecimento, concluímos que um<br />
dos fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> ação lúdica no trabalho<br />
13 Cipriano C. Luckesi,(2004), aula ministra<strong>da</strong> na disciplina<br />
Ludope<strong>da</strong>gogia III, no curso de Pós-graduação na FACED/<br />
UFBA.<br />
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