Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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O especial dos jogos e brincadeiras no atendimento às diferenças<br />
A proposta de ensino envolvendo a utilização<br />
do lúdico não é nova e tem sido compartilha<strong>da</strong><br />
por docentes não apenas <strong>da</strong><br />
<strong>Educação</strong> Infantil como também do Ensino<br />
Fun<strong>da</strong>mental. Este provável “consenso” fun<strong>da</strong>menta-se<br />
em estudos psicogenéticos que<br />
respal<strong>da</strong>m o uso de jogos com fins pe<strong>da</strong>gógicos<br />
considerando a sua importância para o<br />
desenvolvimento infantil.<br />
Estudos <strong>da</strong> neurociência também têm apontado<br />
para essa direção tendo em vista as descobertas<br />
de que o brincar coloca em ativi<strong>da</strong>de<br />
os hemisférios direito e esquerdo do cérebro,<br />
sendo ca<strong>da</strong> hemisfério dominante para alguns<br />
comportamentos. O hemisfério direito é dominante<br />
para: habili<strong>da</strong>des espaciais; processo<br />
emocional; atenção visual; memória auditiva e<br />
de frases; reconhecimento de objetos e figuras;<br />
música. O hemisfério esquerdo é mais especializado<br />
em habili<strong>da</strong>des de linguagem,<br />
matemática e lógica. No entanto, os dois trabalham<br />
em conjunto trocando informações através<br />
do corpo caloso. Assim, ao colocar em<br />
ativi<strong>da</strong>de esses dois hemisférios, o jogo potencia<br />
a inovação, interação social, internalização<br />
de conceitos e capaci<strong>da</strong>de de expressão, além<br />
de promover o desenvolvimento psicomotor<br />
(SANTOS, 2001).<br />
Todos esses estudos apontam para características<br />
essenciais do jogo, tais como suas dimensões<br />
educativa e lúdica. Para que o jogo<br />
seja utilizado como uma estratégia metodológica,<br />
ampliando o enfoque do seu caráter recreativo,<br />
precisa ser analisado em suas possibili<strong>da</strong>des<br />
de potencializador do processo de construção<br />
de conhecimento, que é a principal função <strong>da</strong><br />
escola.<br />
148<br />
É na sala de aula que a ludici<strong>da</strong>de ganha espaço,<br />
pois a criança se apropria de maneira mais prazerosa<br />
dos conhecimentos, aju<strong>da</strong>ndo na construção<br />
de novas descobertas, desenvolvendo e<br />
enriquecendo sua personali<strong>da</strong>de e, ao mesmo<br />
tempo, permitindo ao professor avaliar o crescimento<br />
gra<strong>da</strong>tivo do aluno, numa dimensão que<br />
vai além <strong>da</strong>s tradicionais provas classificatórias<br />
(SANTOS, 2001, p. 15).<br />
Porém, entender o jogo como estratégia<br />
metodológica não significa reduzi-lo a um mero<br />
instrumento didático, pois o jogo, como tal, é<br />
também conteúdo. Os conteúdos inerentes ao<br />
jogo contribuem para promover o desenvolvimento<br />
de estruturas cognitivas, psicomotoras,<br />
afetivas e morais, criando possibili<strong>da</strong>des de construção<br />
de atitudes necessárias ao exercício <strong>da</strong><br />
autonomia e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.<br />
To<strong>da</strong>via, ain<strong>da</strong> que assuma a dimensão<br />
educativa com finali<strong>da</strong>de de ensino, sendo utilizado<br />
como recurso pe<strong>da</strong>gógico ou conteúdo,<br />
o jogo é uma é ativi<strong>da</strong>de essencialmente<br />
lúdica. E certamente uma condição sine qua<br />
non, para considerar-se um jogo como tal, é<br />
o seu caráter lúdico. Portanto, utilizá-lo em<br />
sala de aula é trazer de volta o sentido <strong>da</strong><br />
“palavra grega utiliza<strong>da</strong> para escola - SCHO-<br />
LÉ (ócio, descanso, vagar), [que] traz a idéia<br />
de uma prática lúdica, menos rígi<strong>da</strong> e severa”<br />
(SANTOS, 1998, p. 53). Esta proposta<br />
de construção do conhecimento transversaliza<strong>da</strong><br />
por ativi<strong>da</strong>des lúdicas tem sido defendi<strong>da</strong><br />
numa proposta de educação inclusiva,<br />
como forma de promover o desenvolvimento<br />
infantil e de favorecer o atendimento às diferenças<br />
na sala de aula.<br />
A proposta de educação inclusiva assumi<strong>da</strong><br />
oficialmente no Brasil a partir <strong>da</strong> Declaração<br />
de Salamanca, em 1994, e <strong>da</strong> Lei de Diretrizes<br />
e Bases <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> Nacional – LDB<br />
9.394/96 – tem sido permea<strong>da</strong> pela idéia de<br />
a<strong>da</strong>ptação curricular para atender às necessi<strong>da</strong>des<br />
educativas especiais que se apresentam<br />
na escola. Essa compreensão de a<strong>da</strong>ptação<br />
curricular deve estar embasa<strong>da</strong>, entre outros<br />
aspectos, na proposta de funcionali<strong>da</strong>de do currículo<br />
para os alunos com necessi<strong>da</strong>des especiais.<br />
Entende-se por funcionali<strong>da</strong>de do currículo<br />
a adequação dos seus objetivos ao<br />
desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des necessárias à<br />
vi<strong>da</strong> cotidiana de forma a promover a autonomia<br />
de todos os sujeitos que estão incluídos no<br />
espaço escolar. Diante disso, coloca-se para<br />
os educadores dessa chama<strong>da</strong> escola inclusiva<br />
o desafio de construir um currículo funcional,<br />
considerando-se o que foi dito anteriormente<br />
acerca <strong>da</strong> importância do jogo no<br />
processo de ensino e de aprendizagem de crianças<br />
com necessi<strong>da</strong>des especiais.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 147-156, jan./jun., 2006