Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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Ban<strong>da</strong>s, filarmônicas e mestres de ban<strong>da</strong> <strong>da</strong> Bahia: formação de músicos e ci<strong>da</strong>dãos<br />
<strong>da</strong> mesma cor, os quais vêm ser músicos itinerantes<br />
desde tempos imemoriais”.<br />
Manuel Querino, em seu livro Bahia de Outrora,<br />
de 1916 (QUERINO, apud TINHORÃO<br />
1998, p. 162), narra a participação dos barbeiros,<br />
nos fins do século XIX, na ain<strong>da</strong> hoje conheci<strong>da</strong><br />
Festa do Bonfim: “E todos subiam e<br />
desciam acompanhados pelos ternos de barbeiros,<br />
ao som de cantatas apropria<strong>da</strong>s, numa alegria<br />
indescritível. Enquanto uns se entregavam<br />
ao serviço <strong>da</strong> lavagem, outros, a um lado <strong>da</strong><br />
igreja, entoavam chulas e cançonetas, acompanhados<br />
de violão”.<br />
Pelo visto a música de barbeiros perdura até<br />
nossos dias. No caso <strong>da</strong> Bahia ain<strong>da</strong> existem<br />
vestígios desses grupos em ci<strong>da</strong>des do interior.<br />
Sobre isso o Mestre Bernardo <strong>da</strong> Silva dá um<br />
testemunho, acrescentando uma suposta origem<br />
<strong>da</strong> filarmônica através do grupo de barbeiros:<br />
166<br />
Ain<strong>da</strong> conheci uma aqui. Vi tocar aqui em Serrinha<br />
em [19]52 um grupo de barbeiro de Tanque<br />
Grande, eu vi. Era uma coisa até engraça<strong>da</strong>, viu?<br />
Era. Era tudo de ouvido. E <strong>da</strong>í do grupo de barbeiro<br />
se resolveu criar escolas, com a finali<strong>da</strong>de<br />
de fazer música. De estu<strong>da</strong>r música, canto e <strong>da</strong>nça,<br />
não é? Se destinava a tudo isso, o canto a<br />
<strong>da</strong>nça e a música. Depois se desmembrou, não<br />
é? As escolas de <strong>da</strong>nça, as de canto e as de<br />
música. Aí surgiram as filarmônicas, que é diferente<br />
dos grupos de barbeiros. Enquanto os barbeiros<br />
eram músicos que tocavam de ouvido, as<br />
filarmônicas tocavam por música, como é até hoje,<br />
não é? (SILVA, 2002).<br />
2. Ban<strong>da</strong>s de Músicas e Filarmônicas<br />
e o ensino de música<br />
O século XIX no Brasil é marcado pelo surgimento<br />
de importantes manifestações musicais<br />
como a chega<strong>da</strong> aos Salões Imperiais de <strong>da</strong>nças<br />
em voga na Europa como a Polca, a Mazurca,<br />
o Schotisch, a Quadrilha; pelo surgimento<br />
do Choro; o advento do Nacionalismo Musical<br />
não só no Brasil, mas em outros países do mundo;<br />
e pelo movimento que pode ser considerado<br />
o mais amplo, difuso – ocorrido em todo o<br />
Brasil concomitantemente – e uma <strong>da</strong>s mais<br />
importantes manifestações culturais brasileiras:<br />
a Ban<strong>da</strong> de Música e a Filarmônica, que se<br />
constituíram como ver<strong>da</strong>deiros laboratórios <strong>da</strong>s<br />
diferentes tendências de tudo que acontecia na<br />
música no Brasil, e no mundo, apontando, para<br />
os anos que viriam, características estéticomusicais<br />
muito próprias dentro do amplo universo<br />
<strong>da</strong> cultural musical brasileira.<br />
As Socie<strong>da</strong>des Filarmônicas surgiram oficialmente<br />
e em suas formações como são vistas<br />
até hoje, a partir do advento oficial <strong>da</strong> Ban<strong>da</strong><br />
Militar no Brasil Colonial, quando foi determina<strong>da</strong><br />
a organização de uma ban<strong>da</strong> de música<br />
em ca<strong>da</strong> Regimento de Infantaria.<br />
Com o decreto de 20 de agosto de 1802, ficou<br />
determina<strong>da</strong> a organização, em ca<strong>da</strong> regimento<br />
de infantaria, de uma ban<strong>da</strong> de música com instrumentação<br />
fixa, passando o seu financiamento<br />
<strong>da</strong>s mãos <strong>da</strong> oficiali<strong>da</strong>de para o Erário régio.<br />
Outro decreto, de 27 de março de 1810, estabeleceu<br />
que em ca<strong>da</strong> um dos quatro regimentos de<br />
Infantaria e Artilharia <strong>da</strong> corte, fosse forma<strong>da</strong><br />
uma ban<strong>da</strong> de música com 12 ou 16 músicos, não<br />
podendo este número ser aumentado por motivo<br />
algum. Um novo decreto, de 11 de dezembro<br />
de 1817, determinou aos batalhões de Infantaria<br />
e de Caçadores a organização de suas respectivas<br />
ban<strong>da</strong>s de música, utilizando-se os seguintes<br />
instrumentos: duas primeiras clarinetas,<br />
sendo uma delas também o mestre, duas segun<strong>da</strong>s<br />
clarinetas, um flautim, uma requinta, duas<br />
trompas, dois clarins, dois fagotes, um trombão<br />
ou serpentão, um segundo serpentão, um bombo<br />
e uma caixa de rufo. (REIS, apud SCHWEBEL<br />
1987, p. 8).<br />
As Socie<strong>da</strong>des Filarmônicas, de Euterpe ou<br />
Lítero Musicais são ver<strong>da</strong>deiros centros culturais<br />
de formação musical e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, que têm<br />
como objetivo desenvolver em ca<strong>da</strong> indivíduo<br />
uma nobre e importante quali<strong>da</strong>de humana: a<br />
sensibili<strong>da</strong>de. Essas socie<strong>da</strong>des atuam como<br />
extensões <strong>da</strong> família na formação educacional<br />
e músico-profissional do sujeito na socie<strong>da</strong>de,<br />
incorporando-o eticamente na coletivi<strong>da</strong>de. Segundo<br />
afirmação de Fred Dantas, “Elas eram<br />
constituí<strong>da</strong>s de uma diretoria que se interessava<br />
pela criação de bibliotecas, salas para audição<br />
de poemas e apresentações de <strong>da</strong>nça”.<br />
(http://www.casa<strong>da</strong>sfilarmonicas.org.br/). As<br />
Ban<strong>da</strong>s liga<strong>da</strong>s a essas socie<strong>da</strong>des apresentamse<br />
em coretos, festas e comemorações cívicas<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 163-171, jan./jun., 2006