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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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mos, porque na visão do sistema nós somos ninguém<br />

(pausa). Então eu tive a oportuni<strong>da</strong>de de<br />

fazer exposição, mostrar artesanato, uma coisa<br />

basea<strong>da</strong> na cultura local, na cultura de origem de<br />

remanescente do Quilombo Oca do Tatu (...), são<br />

marcas que não são esqueci<strong>da</strong>s por quem participa<br />

e pelos que vão assistir; são coisas que vão<br />

se construindo, se descobrindo, se reeducando,<br />

porque a educação oficial ela é muitas vezes tradicional<br />

e não trabalha uma reali<strong>da</strong>de, uma identi<strong>da</strong>de<br />

mesmo <strong>da</strong> pessoa se gostar, gostar de ser<br />

educadora e se <strong>da</strong>r valor ao que faz, ser o que ela<br />

é, saber que ela pode crescer, ser inteligente,<br />

ter a certeza de que nós podemos fazer na comuni<strong>da</strong>de<br />

e mostrar. Então tem tudo isso de bom no<br />

MIAC. Tenho muito a aprender ain<strong>da</strong>. (Educadora<br />

E – MARINALVA GÓES).<br />

A relação que a educadora faz entre “si, os<br />

outros e o meio” (PINEAU, 1985) demonstra<br />

um aprendizado tecido de forma contínua e relacional<br />

entre os seus saberes, a sua identi<strong>da</strong>de<br />

docente e de sujeito <strong>da</strong> educação e <strong>da</strong> História.<br />

Dentre os muitos entraves <strong>da</strong> formação docente,<br />

talvez o mais preponderante seja o <strong>da</strong> fragmentação,<br />

pela “omni-ausência de duas grandes<br />

reali<strong>da</strong>des à pessoa do professor e à organização<br />

<strong>da</strong> escola” (Nóvoa, 2002, p. 56). Em “formação<br />

de professores e trabalho pe<strong>da</strong>gógico”,<br />

Nóvoa (2002) apresenta o que seria, na sua visão,<br />

uma nova concepção <strong>da</strong> formação docente<br />

e a constrói ancorando-a no que chama de<br />

“trilogia <strong>da</strong> formação continua<strong>da</strong>: produzir a<br />

vi<strong>da</strong>, a profissão e a escola”. Esta trilogia é,<br />

sobretudo, um apelo a uma epistemologia que<br />

seja capaz de: “investir a pessoa e a sua experiência;<br />

investir a profissão e os seus saberes;<br />

investir a escola e os seus projectos” (2002, 56-<br />

62), conforme se observa na assertiva de Malaquias:<br />

Na ver<strong>da</strong>de os professores estão ávidos por<br />

novas propostas; dizer que eles não querem<br />

na<strong>da</strong>, não condiz com a ver<strong>da</strong>de. Eles foram<br />

formados para não quererem na<strong>da</strong>, é diferente.<br />

Então ele já vem <strong>da</strong> tradição do não querer na<strong>da</strong>,<br />

mas quando você propõe, percebe que não é<br />

bem assim, só que ele não sabe mais que postura<br />

tomar, porque já foi modificado pela ideologia<br />

do sistema, que é reprodutiva, adormeceu a sua<br />

memória, sua visão de mundo, mas quando<br />

começa a despertar, começa também a ver um<br />

Izabel Dantas de Menezes<br />

mundo diferente, e aí ca<strong>da</strong> um segue uma<br />

caminha<strong>da</strong> diferente, uns vão mais rápido outros<br />

mais devagar, ca<strong>da</strong> um caminha no seu ritmo no<br />

sentido de querer melhorar (...); nosso trabalho<br />

aqui tem sido feito baseado no resgate <strong>da</strong> autoestima.<br />

10 (Educador F – MALAQUIAS)<br />

Realmente, é uma prática recorrente no<br />

Brasil depositar apenas na figura do professor<br />

a responsabili<strong>da</strong>de pelos baixos índices de aprovação<br />

e aproveitamento discente: “a prevalência<br />

do modelo tradicional de ensino: o professor<br />

se sente o todo-poderoso, repete conceitos e<br />

não sabe interagir com os alunos (...)” (Paulo<br />

Renato – Ministro <strong>da</strong> <strong>Educação</strong>, em 2000 - em<br />

entrevista à Folha de São Paulo, 29/11/2000).<br />

Para a revitalização política e epistemológica<br />

<strong>da</strong> formação contínua, é necessário que se considere<br />

a dimensão pessoal, profissional e organizacional,<br />

em seus diferentes níveis e contextos,<br />

para uma efetiva formação identitária, pe<strong>da</strong>gógica,<br />

e também política do educador inserido<br />

num determinado contexto.<br />

É importante frisar que, para a revitalização<br />

desta formação, assim concebi<strong>da</strong>, os caminhos<br />

mais fecundos são trilhados a partir <strong>da</strong> atitude<br />

reflexiva sobre si mesmo, sobre o mundo, numa<br />

relação dinâmica e dialógica com o outro. Assim,<br />

é possível rever o instituído e instituir outras<br />

possibili<strong>da</strong>des democráticas, de troca de<br />

experiências e saberes, de construção de conhecimentos<br />

que venham a colaborar com o que<br />

ca<strong>da</strong> educador deseja para si, para os outros e<br />

para a sua comuni<strong>da</strong>de...<br />

Então, o MIAC representa um espaço caminhando<br />

para o espírito democrático, porque a democracia<br />

a gente está em constante construção;<br />

10 O professor é diretor <strong>da</strong> Escola Renan Baleeiro, parceira do<br />

MIAC. No momento ele fala <strong>da</strong> participação e reação docente<br />

frente à relação entre a escola Renan e os projetos, parcerias<br />

com o MIAC e outros grupos culturais <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de no<br />

“jortudo”, jorna<strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gógica – momento também de formação<br />

–, e no dia-a dia. Porque na Renan vários espaços são<br />

formativos: “pela primeira vez, o Colégio Renan Baleeiro<br />

participa desse projeto cultural através do projeto Corre Beco.<br />

O forró do trem é o forró <strong>da</strong> alegria, e está contando com a<br />

participação dos professores no evento, <strong>da</strong>nçando forró e<br />

viva a alegria! (gritos!!!). É aprendizado do resgate <strong>da</strong> cultura<br />

nordestina e o resgate <strong>da</strong> nossa auto-estima, também pelo<br />

nordestino trem de ferro, uma orla lin<strong>da</strong> que precisa ser mais<br />

cui<strong>da</strong><strong>da</strong> e mais respeita<strong>da</strong>.” (AIDÊ) (Depoimento concedido<br />

durante a ativi<strong>da</strong>de festiva <strong>da</strong> Renan no Trem <strong>da</strong> Calça<strong>da</strong> em<br />

Paripe - Bairro de Salvador).<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 185-200, jan./jun., 2006 195

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