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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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E segundo Igaiara Índio dos Reis 3 :<br />

A Filarmônica, ela é uma corporação musical<br />

onde existem sócios. É como se fosse uma coisa<br />

priva<strong>da</strong>, já entendeu? Então tem a diretoria, têm<br />

sócios, os sócios contribuem, e tal. E a ban<strong>da</strong> de<br />

música não. A ban<strong>da</strong> de música, no caso <strong>da</strong> ban<strong>da</strong><br />

Maestro Wanderley, é uma coisa pública, entendeu?<br />

Ela é paga pelo poder público, e<br />

musicalmente tem muita diferença. Ah, tem muita<br />

diferença, tem muita diferença, porque a ban<strong>da</strong><br />

de música, a ban<strong>da</strong> de música profissional,<br />

ela justamente, ela pega o que há de melhor, de<br />

tarimbado <strong>da</strong>s filarmônicas. Ela incorpora, já entendeu?<br />

E a filarmônica não. (REIS, 2003).<br />

Quando Igaiara Índio fala que a “Ban<strong>da</strong> de<br />

Música pega o que há de melhor, de tarimbado<br />

<strong>da</strong>s Filarmônicas, ela incorpora”, ele está se<br />

referindo aos bons músicos que são formados<br />

pelas Filarmônicas e que, geralmente, vão tocar<br />

nas Ban<strong>da</strong>s de Música. As filarmônicas<br />

foram grandes formadoras de músicos no Brasil.<br />

Sobre isso podem ser cita<strong>da</strong>s palavras de<br />

Vicente Salles, um grande estudioso desse tipo<br />

de tradição musical: “a ban<strong>da</strong> de música é, pois,<br />

o conservatório do povo e é, ao mesmo tempo,<br />

nas comuni<strong>da</strong>des mais simples, uma associação<br />

democrática, que consegue desenvolver o<br />

espírito associativo e nivelar as classes sociais.<br />

No Brasil, tem sido, além disso, celeiro dos<br />

músicos de orquestra, no que tange a madeiras,<br />

metais e percussão”. (SALLES, 1985, p. 11).<br />

O termo ban<strong>da</strong> também se refere à filarmônica,<br />

como um sinônimo. O termo filarmônica é<br />

particularmente usado no estado <strong>da</strong> Bahia, mais<br />

do que em qualquer outro estado. Ban<strong>da</strong> é o<br />

termo mais utilizado no Brasil.<br />

No Brasil, as primeiras manifestações de<br />

ban<strong>da</strong> de música são encontra<strong>da</strong>s na Bahia.<br />

De acordo com Almei<strong>da</strong> (apud KIEFER, 1976,<br />

p. 19):<br />

... visitando a Bahia, em 1610, o francês Pyrard<br />

de Laval cita um potentado de então, cujo nome<br />

não menciona, mas que diz ter sido capitão-general<br />

de Angola, o qual possuía uma ban<strong>da</strong> de<br />

música de trinta figuras, todos negros escravos,<br />

cujo regente era um francês provençal. E como<br />

devesse ser melômano, queria que a todo instante<br />

tocasse a sua orquestra, a acompanhar, ain<strong>da</strong>,<br />

uma massa coral “ 4 .<br />

Juvino Alves<br />

Um tipo de corporação musical muito importante<br />

no Brasil colonial foi aquela dos choromeleiros:<br />

5<br />

Os conjuntos instrumentais dos choromeleiros<br />

é que nunca devem ter faltado às festivi<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> Senhora do Rosário, como também, muito provavelmente,<br />

deviam abrilhantar o dia <strong>da</strong> coroação<br />

dos reis e rainhas angolas ou crioulos. As<br />

charamelas constituíam especiali<strong>da</strong>de dos negros,<br />

escravos ou não. Trata-se seguramente de<br />

uma herança direta <strong>da</strong> cultura portuguesa, implanta<strong>da</strong><br />

no nordeste brasileiro já desde remotas<br />

eras, inclusive no meio indígena. (DINIZ,<br />

apud CARNEIRO, 1998, p. 17).<br />

A música de barbeiros foi um outro tipo de<br />

manifestação musical ocorri<strong>da</strong> nesse mesmo<br />

período no Brasil e, em particular, na Bahia e<br />

no Rio de Janeiro. Através de relatos históricos<br />

é possível constatar a existência de grupos<br />

musicais bem organizados chamados de choromeleiros<br />

e barbeiros que contribuíram enormemente<br />

para a formação do que hoje chamamos<br />

de Ban<strong>da</strong> de Música e Filarmônica. Segundo<br />

Tinhorão (1998, p. 160), em 1802 o negociante<br />

inglês Thomas Lindley, preso no Forte do Mar,<br />

na Bahia, por tentativa de contrabando, via passar,<br />

“freqüentemente, ban<strong>da</strong>s de música em<br />

grandes lanchas, tocando pelo caminho rumo<br />

às vilas <strong>da</strong> vizinhança, na baía, para comemorar<br />

o aniversário de algum santo ou por ocasião<br />

de alguma festa especial”. E ain<strong>da</strong> acrescenta:<br />

“Esses músicos são pretos retintos, ensaiados<br />

pelos diversos barbeiros-cirurgiões <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,<br />

3 Igaiara Índio dos Reis é compositor, trombonista e tenente<br />

<strong>da</strong> Polícia Militar <strong>da</strong> Bahia.<br />

4 Esta ban<strong>da</strong> é também referi<strong>da</strong> por Campos, João <strong>da</strong> Silva,<br />

em artigo intitulado “O lendário Bângala”, publicado in<br />

Quatro Séculos de História <strong>da</strong> Bahia, Álbum Comemorativo<br />

do 4º Centenário <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de de Salvador <strong>da</strong> <strong>Revista</strong> Fiscal <strong>da</strong><br />

Bahia, 1949, pág 210-211. Para este autor, o Bângala (Capitão-mor<br />

Balthazar de Aragão) fora o organizador <strong>da</strong> referi<strong>da</strong><br />

ban<strong>da</strong> de música – também denomina<strong>da</strong> de “saubara” –<br />

composta de 30 escravos negros e regi<strong>da</strong> por um francês <strong>da</strong><br />

Provença.<br />

5 Os choromeleiros eram conjuntos musicais de caráter militar<br />

e religioso formados por instrumentos de palheta, conhecido<br />

como charamela (antigo instrumento de palheta<br />

dupla, de som estridente, do qual descendem o oboé e o<br />

fagote). O termo “choromelleyros” (ou charamelleiros)<br />

abrangia não apenas os tocadores <strong>da</strong> charamela, mas também<br />

os de outros instrumentos de sopro. (CARNEIRO,<br />

1998, 17)<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 163-171, jan./jun., 2006 165

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