11.04.2013 Views

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Arte em movimento: a potenciali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> arte na formação de educadores<br />

196<br />

então possibilita esses momentos de tensionamento<br />

do pensar, é tensionar e chamar a comuni<strong>da</strong>de,<br />

diversas comuni<strong>da</strong>des, grupos que pensam<br />

mais a ci<strong>da</strong>de e o país de forma diferente; e o<br />

mais bonito é que, por mais que ca<strong>da</strong> ser que<br />

está ali representando um grupo ou instituição,<br />

ca<strong>da</strong> um deve ter suas ansie<strong>da</strong>des e querer que<br />

as suas perspectivas, o seu projeto, sejam logo<br />

correspondidos. Mas até por uma necessi<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> natureza <strong>da</strong> história não dá para querer que<br />

as resoluções dos problemas sejam matematicamente<br />

resolvidos, é geralmente uma coisa tensiona<strong>da</strong><br />

que pulsa por mais que a gente busque<br />

pensar objetivamente o mundo e a educação.<br />

(Educador J – ROBSON POETA).<br />

Observa-se que a discussão sobre o reconhecimento<br />

dos direitos e <strong>da</strong> democratização<br />

<strong>da</strong> participação dos sujeitos e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />

nos projetos pe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong> escola e do modelo<br />

de socie<strong>da</strong>de passa por assumir a tensão inerente<br />

à concretização destas questões. Lembro<br />

que a Nova LDB (Lei nº 9.394/96) diz que:<br />

... os estabelecimentos de ensino, respeita<strong>da</strong>s<br />

as normas comuns e as do seu sistema de ensino,<br />

terão a incumbência, entre outras, de elaborar<br />

e executar sua proposta pe<strong>da</strong>gógica (...),<br />

articular-se com as famílias e a comuni<strong>da</strong>de, criando<br />

processos de integração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de com<br />

a escola (...), construindo conselhos escolares<br />

com representação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />

No entanto, este direito, consagrado na legislação,<br />

de participação dos sujeitos como “atores/autores”<br />

dos rumos <strong>da</strong> escola, nem sempre<br />

é garantia de respeito e execução. A atuação<br />

ativa docente na escola não é uma tarefa simples,<br />

passa por reconhecer estas tensões que<br />

envolvem não apenas questões pe<strong>da</strong>gógico/<br />

metodológicas, como também políticas e de<br />

poder. Cabe destaque ao depoimento que se<br />

segue:<br />

O primeiro impacto é o que nós estávamos discutindo:<br />

a questão <strong>da</strong> sexuali<strong>da</strong>de que era tabu;<br />

foi o maior impacto, e aí a supervisora achava<br />

que a gente não devia tratar disso, que não tínhamos<br />

competência para educar a sexuali<strong>da</strong>de.<br />

Depois veio a questão do poder, começamos a<br />

ser referência na escola; as mães dos meninos<br />

iam lá para saber por que os filhos, que antes<br />

não gostavam de ficar na escola, passaram a<br />

querer ficar na escola o dia todo; isso incomo-<br />

dou. Vinham à eleição de diretoria e aí na cabeça<br />

do grupo a gente estava fazendo aquele trabalho,<br />

porque queria ocupar o lugar de direção,<br />

apesar de nos convi<strong>da</strong>rem para fazer parte <strong>da</strong><br />

chapa e termos rejeitado, isso incomo<strong>da</strong>va. Na<br />

época, o trabalho foi tão forte que a Secretaria<br />

de <strong>Educação</strong> foi lá assistir a um trabalho nosso,<br />

porque não acreditavam que o que estávamos<br />

dizendo era ver<strong>da</strong>de (...), então vem sempre a<br />

questão do poder; estávamos incomo<strong>da</strong>ndo, diziam<br />

que o trabalho <strong>da</strong> gente estava aparecendo<br />

muito mais. (Educadora H – NELCY PIAGGIO)<br />

Este dilema <strong>da</strong> participação se estende até<br />

a comuni<strong>da</strong>de e suas organizações e movimentos<br />

sociais que, entre ranços e avanços, acreditam<br />

que é possível participar e instituir uma<br />

escola ci<strong>da</strong>dã, democrática para a sua comuni<strong>da</strong>de.<br />

O MIAC é um deles; para o Movimento:<br />

... a escola, espaço formal de educação, é o foco<br />

central. Através do diálogo entre esta e o MIAC,<br />

trocando experiências e saberes, podemos contribuir<br />

para que a escola se torne mais viva e<br />

mais democrática, incorporando a arte, a cultura,<br />

os espaços de escuta entre adultos e adolescentes,<br />

e os trabalhos planejados, avaliados, executados<br />

coletivamente. (Texto – MIAC, 1999).<br />

As Ações de Mobilização Regionaliza<strong>da</strong>s –<br />

AMR 11 foram oportuni<strong>da</strong>des formativas para<br />

os educadores do MIAC atuarem na sua comuni<strong>da</strong>de.<br />

O fragmento de diálogo em destaque,<br />

no parágrafo anterior, evidencia algumas<br />

situações que foram vivi<strong>da</strong>s durante e a partir<br />

<strong>da</strong>s AMR. Elas nasceram <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de<br />

ca<strong>da</strong> grupo/pessoa/instituição <strong>da</strong> Rede MIAC<br />

trabalhar mais diretamente com a sua comuni<strong>da</strong>de,<br />

mobilizar a escola e as organizações existentes<br />

no seu bairro/região em prol <strong>da</strong> educação<br />

pública e de quali<strong>da</strong>de. Outra ativi<strong>da</strong>de, cita<strong>da</strong><br />

no diálogo, aconteceu em 2004, na Escola Estadual<br />

Renan Baleeiro, em Águas Claras - Salvador,<br />

onde o MIAC, através de oficinas<br />

artísticas, ro<strong>da</strong>s de discussão e apresentações<br />

culturais, intercambiou saberes, ações, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

entre os grupos e instituições presentes.<br />

11 AMR – Foi uma estratégia de organização do Modelo<br />

Artístico Pe<strong>da</strong>gógico, movimento que visava a desenvolver<br />

mobilizações e trabalhos artísticos e pe<strong>da</strong>gógicos nas comuni<strong>da</strong>des,<br />

reconhecendo a arte, a cultura e os sujeitos de ca<strong>da</strong><br />

locali<strong>da</strong>de.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 185-200, jan./jun., 2006

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!