Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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Arroyo (2000, p. 19), ao estu<strong>da</strong>r o imaginário<br />
social do professor, na socie<strong>da</strong>de tecnocrática,<br />
observa que este é visto como “apêndice”, mero<br />
“recurso técnico”, pois a gestão tecnocrática nega<br />
a centrali<strong>da</strong>de do sujeito no trabalho em troca<br />
<strong>da</strong>s técnicas, conteúdos e métodos. Assinala que<br />
o “ofício de mestre”, assim chamado por ele, é<br />
uma imagem construí<strong>da</strong> social, histórica, cultural<br />
e politicamente e, por isto, está amarra<strong>da</strong> a interesses<br />
que extrapolam a escola.<br />
O autor questiona até que ponto a ativi<strong>da</strong>de<br />
docente é um “ofício descartável”, destacando a<br />
especifici<strong>da</strong>de deste ofício. Supõe o domínio de<br />
um saber específico e de uma identi<strong>da</strong>de profissional<br />
no campo <strong>da</strong> ação. Afirmamos que<br />
deste saber específico e de sua qualificação dependem<br />
a escola e outros espaços educativos.<br />
Para Arroyo (2000), ter esse ofício significa<br />
orgulho, satisfação. É ter afirmação e defesa<br />
de uma identi<strong>da</strong>de individual e coletiva, por isso,<br />
remete-nos à memória, aos artífices, a uma ação<br />
qualifica<strong>da</strong> e profissional. Os professores são<br />
mestres de um ofício que só eles sabem fazer:<br />
“porque aprenderam seus segredos, seus saberes”<br />
e uma “resistente cultura” contra a tecnocracia<br />
e ao lemas pragmáticos utilitários<br />
impostos pela política educacional.<br />
Convergindo para este pensamento, Nóvoa<br />
(1995) sublinha que as mu<strong>da</strong>nças e inovações<br />
pe<strong>da</strong>gógicas são inteiramente dependentes do<br />
processo identitário do professor. O autor entende<br />
este processo como um espaço dinâmico<br />
de lutas e conflitos, de uma maneira de ser e<br />
estar na profissão e se alimenta do tempo para<br />
assimilar e acomo<strong>da</strong>r as transformações.<br />
Na mesma direção, Pimenta (2002, p. 15-<br />
19) defende a posição de que o trabalho do professor<br />
ca<strong>da</strong> vez mais se torne necessário para<br />
a socie<strong>da</strong>de na constituição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, na<br />
superação <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des sociais e do fracasso<br />
escolar. Conceitua identi<strong>da</strong>de com uma<br />
construção do sujeito historicamente situado, não<br />
sendo exclusivamente individual nem exclusivamente<br />
social. E, como tal, a profissão professor<br />
emerge de um contexto histórico como<br />
resultado <strong>da</strong>s deman<strong>da</strong>s sociais que, dinamicamente,<br />
vão se transformando e adquirindo novas<br />
características, ressignificando os papéis,<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 79-98, jan./jun., 2006<br />
Sueli Barros <strong>da</strong> Ressurreição; Bernadete de Souza Porto<br />
reafirmando e revisando hábitos, prática e teorias.<br />
Como é também individual, a identi<strong>da</strong>de<br />
profissional é forma<strong>da</strong> pelo modo de ser de<br />
ca<strong>da</strong> professor, de sentir, de situar-se e relacionar-se<br />
no mundo e perceber a reali<strong>da</strong>de.<br />
No seu estudo sobre a construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />
do professor, divide os saberes <strong>da</strong> docência<br />
em três: saber <strong>da</strong> experiência, do conhecimento<br />
e pe<strong>da</strong>gógicos. Nesta tônica, o saber <strong>da</strong><br />
experiência constitui-se em dois níveis. O primeiro<br />
é pessoal, é o saber sobre ser professor<br />
por meio <strong>da</strong> história de vi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> experiência<br />
acumula<strong>da</strong>. O segundo nível é profissional, produzido<br />
no cotidiano de sua práxis docente, num<br />
processo permanente de reflexão sobre sua<br />
prática em interação com os alunos, colegas e<br />
conteúdos teóricos.<br />
Já o saber sobre o conhecimento não significa<br />
apenas informação teórica, mas o significado<br />
que tais conhecimentos têm para si próprio<br />
e para a socie<strong>da</strong>de. O saber pe<strong>da</strong>gógico, no<br />
processo identitário do professor, é formado,<br />
segundo a autora, no confronto entre os conhecimentos<br />
<strong>da</strong> Pe<strong>da</strong>gogia e as estratégias utiliza<strong>da</strong>s<br />
pelos professores na sua práxis.<br />
Os autores, há pouco citados, reconhecem<br />
que os saberes são constitutivos <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />
profissional do professor, por sua vez, interdependente<br />
do seu eu pessoal. Assim, valorizam<br />
o profissional como sujeito do seu próprio trabalho,<br />
como agente importante para transformação<br />
social.<br />
Em nossa pesquisa, observamos, nos depoimentos,<br />
que os professores percebem o valor<br />
social de seu trabalho, o compromisso ético,<br />
político e socioafetivo que envolve esta ativi<strong>da</strong>de.<br />
Percebemos também como desafiador o<br />
papel de “ampliar a visão de mundo” dos educandos,<br />
preocupando-se em levá-los à reflexão<br />
crítica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e à autonomia de pensamento.<br />
Notamos que eles têm a consciência de<br />
que sua ativi<strong>da</strong>de exige, a todo instante, reflexão<br />
sobre a ação, grande compreensão do seu<br />
processo, pois se configura como fun<strong>da</strong>mentalmente<br />
intelectual. Exige, ain<strong>da</strong>, uma conciliação<br />
constante entre as técnicas e os saberes, e<br />
contextualização destes em face <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />
na qual se encontram. Notamos ain<strong>da</strong> que eles<br />
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