Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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2. Os jogos e brincadeiras no processo<br />
educativo e no atendimento<br />
às diferenças<br />
A escola é, por excelência, um espaço que<br />
abriga diferenças, sejam culturais, religiosas, étnicas<br />
ou políticas. Porém, apesar de estar idealmente<br />
“aberta” para receber as diferenças, tendo<br />
em vista o mote de educação para todos, a<br />
escola tem demonstrado dificul<strong>da</strong>de de trabalhar<br />
com algumas diferenças como, por exemplo, diferenças<br />
físicas, sensoriais e cognitivas.<br />
Abrir o espaço escolar para inclusão destas<br />
diferenças ultrapassa a idéia de garantia de<br />
acesso. Esta idéia aponta para um entendimento<br />
equivocado de que, garantido o acesso, os<br />
sujeitos que apresentam estas diferenças devem<br />
se adequar às condições ofereci<strong>da</strong>s pela<br />
escola. Esta é a lógica que permeia o paradigma<br />
<strong>da</strong> integração, ou seja, a escola faz sua<br />
parte “consentindo” em abrir o seu espaço para<br />
sujeitos com tais diferenças, porém estes devem<br />
buscar condições para garantir sua permanência<br />
e sucesso no ensino escolar.<br />
Estar aberto para a inclusão de alunos com<br />
necessi<strong>da</strong>des educacionais especiais na escola<br />
regular implica, sobretudo num investimento <strong>da</strong><br />
escola em a<strong>da</strong>ptar-se para atender devi<strong>da</strong>mente<br />
essa nova deman<strong>da</strong>. Isso requer adequações<br />
que envolvem desde a estrutura física do espaço<br />
escolar até alterações na proposta curricular.<br />
Porém, para que estas alterações curriculares<br />
aconteçam, é necessário investimento na<br />
formação continua<strong>da</strong> do educador que desenvolve<br />
os atos de currículo.<br />
Esta deman<strong>da</strong> de a<strong>da</strong>ptação do currículo implica<br />
em situações de alterações significativas<br />
que envolvem mu<strong>da</strong>nças em termos de introdução<br />
ou eliminação de conteúdos, objetivos e/ou<br />
critérios de avaliação; ou não-significativas que<br />
não implicam em grandes modificações com relação<br />
à proposta curricular desenvolvi<strong>da</strong> para os<br />
demais alunos. Contudo, o que determina as<br />
modificações curriculares é a proposta de atenção<br />
às necessi<strong>da</strong>des e diferenças apresenta<strong>da</strong>s<br />
pelos alunos e, sobretudo, a confiança em suas<br />
potenciali<strong>da</strong>des de aprender e se desenvolver.<br />
Nesta perspectiva, o jogo, enquanto linguagem<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 147-156, jan./jun., 2006<br />
Susana Couto Pimentel<br />
estruturante do humano, assume a dimensão de<br />
mediação <strong>da</strong> pessoa com necessi<strong>da</strong>de especial<br />
na escola, tornando-se uma proposta eficaz de<br />
atendimento às necessi<strong>da</strong>des.<br />
No trabalho com jogos e brincadeiras são<br />
aponta<strong>da</strong>s distintas possibili<strong>da</strong>des e finali<strong>da</strong>des:<br />
1. recreativa; 2. ensino de conteúdos escolares;<br />
3. diagnóstica, a fim de se ajustar o ensino<br />
às necessi<strong>da</strong>des infantis; 4. ação espontânea<br />
prazerosa e livre (KISHIMOTO, 2001).<br />
No entanto, para que o jogo alcance ao máximo<br />
o seu potencial no desenvolvimento infantil,<br />
é necessário que ele seja planejado<br />
intencionalmente como forma de atender às necessi<strong>da</strong>des<br />
apresenta<strong>da</strong>s pelas crianças.<br />
Descobri que o jogo e a brincadeira não é apenas<br />
uma forma de divertimento, mas algo de suma importância<br />
para o desenvolvimento cognitivo <strong>da</strong><br />
criança, agindo como facilitador de sua aprendizagem,<br />
além disso, estimula o pensamento criativo,<br />
desenvolve coordenação motora, promove a<br />
interação social e aju<strong>da</strong> a adquirir valores éticos e<br />
morais. (...) Passei a inserir o lúdico no meu plano<br />
diário não como algo solto, mas com o objetivo<br />
de tornar as aulas mais agradáveis e levar os alunos<br />
a uma melhor compreensão através de jogos<br />
e brincadeiras (M. F. S. R/ Aluna do Curso de<br />
Pe<strong>da</strong>gogia/ Noturno – Auto-Avaliação).<br />
Na transcrição acima, observa-se que a docente<br />
em questão aponta a sua descoberta do<br />
potencial do jogo e, por isso, passa a incluí-lo<br />
como elemento em seu planejamento.<br />
Pesquisas (AGUIAR, 2004; MIRANDA,<br />
1999) têm demonstrado o potencial do jogo nos<br />
processos de ensino e aprendizagem de alunos<br />
com necessi<strong>da</strong>des educativas especiais. Conteúdos<br />
que envolvam a formação de conceitos<br />
e as habili<strong>da</strong>des operatórias de identificar (a<br />
partir de percepção <strong>da</strong>s características dos objetos<br />
como: cor, textura, forma, consistência),<br />
ordenar, classificar e generalizar têm sido trabalhados<br />
mais eficazmente com a utilização de<br />
jogos como procedimentos de ensino.<br />
No episódio descrito a seguir, se observa a<br />
professora <strong>da</strong> Escola 1 1 trabalhando, a partir<br />
1 A turma trabalha<strong>da</strong> é uma classe de 1ª série de uma escola<br />
especial com um total de seis alunos presentes naquele dia.<br />
Todos os alunos apresentam deficiência mental (DM) estando<br />
na faixa etária de 14 a 26 anos.<br />
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