Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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efletir a respeito de suas proposta e elas, firmes<br />
em seu propósito, não abriam mão <strong>da</strong> apresentação.<br />
Tornou-se impossível evitar que as<br />
crianças apresentassem seus Jogos Dramáticos.<br />
Slade afirma que o Jogo Dramático não é<br />
Teatro e, por isso, não deve ser apresentado.<br />
Para ele:<br />
Todos são fazedores, tanto ator como público,<br />
indo para onde querem e encarando qualquer<br />
direção que lhes apraz durante o jogo. A ação<br />
tem lugar por to<strong>da</strong> parte em volta de nós e não<br />
existe a questão de quem deve representar para<br />
quem e quem deve ficar sentado vendo quem<br />
fazendo o quê! (1978; p.18).<br />
Compreendo o pensamento de Slade (1978),<br />
porém acredito que a apresentação não invali<strong>da</strong><br />
o caráter de Jogo Dramático. Também, penso<br />
que mesmo no palco as crianças continuam<br />
no jogo dramático, fazendo e refazendo as regras.<br />
O público, para as crianças, não se constitui<br />
enquanto platéia, elemento constituinte do<br />
Teatro, e sim enquanto convi<strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s crianças<br />
a assistirem seu jogo, seu Teatro. Não há<br />
um representar, naquele momento elas estão<br />
jogando e partilhando esse momento. Tal exercício,<br />
além de desinibir e de fortalecer a autoestima,<br />
também facilitará a absorção, mais<br />
tarde, dos Jogos Teatrais.<br />
Nossa referência principal para a criança<br />
apresentar ou não sua cena era o seu desejo,<br />
independente <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de. Nosso lema era um aju<strong>da</strong>r<br />
o outro, respeitando as diferenças, os tamanhos.<br />
Não existia nenhuma censura, seja<br />
estética, seja etária. Acredito que as crianças<br />
vivenciavam seu jogo dramático no palco, não<br />
apresentavam Teatro. A platéia, por sua vez,<br />
assistia a um Jogo Dramático, não a uma peça<br />
teatral.<br />
Normalmente a platéia não se dá conta do<br />
jogo dramático e cobra um comportamento teatral,<br />
fazendo crítica do tipo: falaram baixo, ficaram<br />
o tempo todo de costas, ficaram muito<br />
juntinhas, e tantas outras. Para evitar esse equívoco<br />
procuramos, antes <strong>da</strong>s apresentações, informar<br />
a platéia sobre o que ela ia assistir: um<br />
jogo dramático, um jogo teatral, uma colagem<br />
de cenas, uma construção coletiva, uma a<strong>da</strong>ptação<br />
de texto, uma releitura ou uma peça de<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 99-115, jan./jun., 2006<br />
Rilmar Lopes <strong>da</strong> Silva<br />
Teatro. Neste processo a platéia mostrou-se<br />
como uma grande alia<strong>da</strong>, pois além <strong>da</strong> participação<br />
enquanto platéia, muitas pessoas se ofereciam<br />
para aju<strong>da</strong>r: montar e desmontar o<br />
cenário; recolher doações de roupas, adereço<br />
e maquiagem; maquiar as crianças; costurar,<br />
reformar roupas e tantas outras ativi<strong>da</strong>des. A<br />
força <strong>da</strong> coletivi<strong>da</strong>de era pulsante, o que tornava<br />
fértil a existência do Teatro.<br />
Nossas construções cênicas foram tomando<br />
forma a ca<strong>da</strong> ano, a ca<strong>da</strong> experiência. A<br />
cultura teatral na Brilho do Cristal se tornou um<br />
fato. Após a montagem do Casamento <strong>da</strong><br />
Roça na festa junina de 1994 nasceu o Grupo<br />
de Teatro Infantil do Brilho, que funcionava<br />
à tarde, fora do horário escolar.<br />
O Grupo de Teatro Infantil do Brilho se<br />
encontrava duas vezes na semana. Além <strong>da</strong>s<br />
aulas de Teatro confeccionávamos nossas roupas,<br />
nossos adereços e nosso cenário. Os textos<br />
encenados eram construções coletivas do<br />
grupo a partir de um determinado tema ou estória,<br />
defini<strong>da</strong> pelas crianças. De maneira improvisa<strong>da</strong><br />
construíamos nossas cenas que mais<br />
tarde se tornariam nossos textos, nossa construção<br />
coletiva. Nossos textos inicialmente eram<br />
construídos apenas na orali<strong>da</strong>de, a partir de estórias<br />
infantis. Recontávamos várias vezes e,<br />
de posse do entendimento <strong>da</strong> estória, as crianças<br />
improvisavam e recriavam sem nenhuma<br />
dificul<strong>da</strong>de.<br />
Para escrever nossos textos, como as crianças<br />
ain<strong>da</strong> não tinham uma fluência na escrita,<br />
primeiramente trabalhei com pequenos<br />
relatórios. Nos relatórios pedia para que elas<br />
contassem o que estavam fazendo nos encontros<br />
do grupo de Teatro. O segundo exercício,<br />
antes de chegarmos à escrita do nosso texto,<br />
foi ca<strong>da</strong> um escrever sobre seu personagem.<br />
Depois passamos a construir nossos roteiros e,<br />
a partir dos roteiros, começamos a escrever<br />
nossos diálogos, que se tornaram nossos textos.<br />
Trabalhávamos com pequenas construções<br />
coletivas: esquetes e colagem de cenas. Os<br />
temas dessas construções eram livres ou baseados<br />
nas temáticas dos eventos <strong>da</strong> Brilho do<br />
Cristal. O Teatro nos <strong>da</strong>va ânimo, nos fazia criar,<br />
pensar, imaginar. Quanto mais nos encon-<br />
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