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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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Ao lado dos fatores ligados às políticas públicas<br />

de formação, os professores apontaram<br />

o “apartheid profissional”, que os discrimina e<br />

rotula como desinteressados e incompetentes.<br />

Além disso, são, em geral, responsabilizados pelo<br />

fracasso escolar dos estu<strong>da</strong>ntes, reforçando<br />

rótulos e adjetivos que lhes são atribuídos e interferindo<br />

no envolvimento afetivo <strong>da</strong> sua ativi<strong>da</strong>de.<br />

Quando partem para a reivindicação dos seus<br />

direitos e melhores condições de trabalho, são<br />

chamados de “baderneiros” pelas autori<strong>da</strong>des<br />

que ameaçam puni-los se permanecerem organizados<br />

nos movimentos grevistas. Por outro<br />

lado, a atuação do sindicato apresenta-se ambígua:<br />

ora cumpre o seu papel, fortalecendo a<br />

identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> categoria e conseguindo a adesão<br />

de um grande número de professores nos<br />

movimentos de luta, ora não consegue sustentar<br />

a própria força, trazendo para os profissionais<br />

envolvidos exaustão, abatimento e inércia,<br />

afetando-lhes a auto-estima.<br />

Os fatores que atingem diretamente o trabalho<br />

pe<strong>da</strong>gógico, ou fatores primários 5 , atuam<br />

diretamente na auto-estima do docente, à medi<strong>da</strong><br />

que este é negado como sujeito desta ativi<strong>da</strong>de.<br />

Nos depoimentos, predominaram as<br />

precárias condições físicas e materiais, superlotação<br />

<strong>da</strong>s salas, sobrecarga de trabalho, mecanismos<br />

de controle exercidos pela gestão<br />

escolar, falta de acolhimento no espaço onde<br />

atuam. Observamos como tais entraves ou adversi<strong>da</strong>des<br />

se apresentam como dificul<strong>da</strong>des<br />

para relações humanas na escola, para o vínculo<br />

afetivo do professor com seu produto, para<br />

a prática <strong>da</strong> dialogici<strong>da</strong>de (FREIRE, 1985 ) e<br />

para seu equilíbrio emocional. Notamos que o<br />

desgaste do professor frente a esta reali<strong>da</strong>de<br />

pode ser propulsor de sua “desistência simbólica”<br />

ou síndrome de Burnout e dos sintomas de<br />

estresse dos quais são vítimas.<br />

Um outro entrave muito debatido foram os<br />

mecanismos de pressão e regulação dos gestores<br />

educacionais sobre o docente. Dentre estes,<br />

os professores destacaram o exame de<br />

Certificação Ocupacional 6 , tido como um comprovante<br />

de que o professor não tem vez nem<br />

voz nos programas que dizem respeito ao seu<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 79-98, jan./jun., 2006<br />

Sueli Barros <strong>da</strong> Ressurreição; Bernadete de Souza Porto<br />

próprio desempenho. Tal exame, segundo depoimento<br />

do grupo, submeteu os professores a<br />

uma prova desqualificadora e potencializou os<br />

rótulos e estigmas sociais contra a imagem deste<br />

profissional. A avaliação, <strong>da</strong> forma como foi<br />

realiza<strong>da</strong>, trouxe sentimentos de indignação,<br />

humilhação e desconfiança crescente em relação<br />

aos órgãos gestores.<br />

Concor<strong>da</strong>mos com Vasconcelos (2003),<br />

quando afirma que o professor não é vítima nem<br />

vilão dessa história. Não sofre integralmente<br />

discriminação social, é também valorizado e<br />

reconhecido em diversos contextos e seu trabalho<br />

oferece flexibili<strong>da</strong>de para controlar e recriar<br />

o seu processo; mas também não merece<br />

ser apontado como responsável pelas mazelas<br />

do sistema educacional que o forma, ou deforma,<br />

por meio de métodos bancários e sob o<br />

império <strong>da</strong> práxis mimética, embora cobre dele<br />

uma postura autônoma e reflexiva.<br />

Como nos disse uma professora, integrante<br />

do grupo pesquisado, a partilha desses problemas<br />

ou entraves parece deixar o “fardo mais<br />

leve”. Mas, a quem recorrer e com quem compartilhar?<br />

Ao coordenador pe<strong>da</strong>gógico? Uma<br />

figura “formal” no espaço escolar que não é<br />

forma<strong>da</strong> para praticar a “escuta” e, muitas vezes,<br />

em razão <strong>da</strong>s circunstâncias, se posiciona<br />

contra os professores, conforme depoimento do<br />

grupo. A direção? Esta ora provoca medo por<br />

meio de pressões e chantagens, ora age com<br />

extrema indiferença ou apatia aos dilemas cotidianos.<br />

Aos colegas? É preciso superar a concorrência<br />

e a ausência de ética nesta profissão,<br />

fatores que contribuem para o isolamento do<br />

professor em seu trabalho e para desarticulação<br />

política deste em face <strong>da</strong> luta pelos seus<br />

direitos.<br />

Nossas observações e estudos realizados nos<br />

permitiram afirmar que o “corpo emocional”<br />

5 Esteve (1999, p. 27), no seu estudo sobre o mal-estar,<br />

chamou de fatores primários ou diretos aqueles que “incidem<br />

diretamente sobre a ação do professor em sala de aula, gerando<br />

tensões associa<strong>da</strong>s a sentimentos e emoções negativas.”<br />

E as condições externas que incidem sobre a ação<br />

docente de fatores secundários ou contextuais.<br />

6 Processo de avaliação dos conhecimentos e habili<strong>da</strong>des<br />

dos docente, um dos projetos prioritários do programa “Educar<br />

para Vencer” do governo do Estado <strong>da</strong> Bahia.<br />

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