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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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sentires mais despojados, o cui<strong>da</strong>do primoroso<br />

e sensível para com a plastici<strong>da</strong>de do estésico,<br />

<strong>da</strong> fruição estética do mundo, potencializado<br />

através <strong>da</strong>s linguagens de Arte, nos conduz aos<br />

territórios <strong>da</strong> Ética. Assim, os sentimentos do<br />

bem, <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> paz, <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de, do altruísmo<br />

etc. são compreendidos como constitutivos<br />

<strong>da</strong> magnitude <strong>da</strong> condição humana. Estética<br />

e Ética configuram assim, instâncias estruturantes<br />

e constituintes <strong>da</strong> condição humana, de<br />

forma implica<strong>da</strong> e coexistente, na complexi<strong>da</strong>de<br />

de sua inteireza aberta e híbri<strong>da</strong>.<br />

Nesse horizonte compreensivo, as expressões<br />

<strong>da</strong> Arte, em sua condição mais originária e anímica,<br />

agregam coexistencialmente a Ética e a Estética,<br />

o bem e o belo, a forma e o conteúdo, a<br />

delicadeza e a elegância, o útil e o agradável, o<br />

sentimento e o pensamento, no cui<strong>da</strong>do com essa<br />

inteireza dinâmica e in-tensiva <strong>da</strong> condição eternamente<br />

precária e inacaba<strong>da</strong> do existir humano.<br />

O advento <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de, do cui<strong>da</strong>do com<br />

o sensível, <strong>da</strong> busca <strong>da</strong> delicadeza, do espírito de<br />

fineza e de poetici<strong>da</strong>de, proporcionados pelas<br />

expressões <strong>da</strong> Arte, pode, portanto, propiciar o<br />

burilar do estado anímico de nosso ser-sendo, na<br />

busca permanente <strong>da</strong> vivência dos valores humanos,<br />

<strong>da</strong>s metamorfoses que nos renovam e<br />

vivificam, que nos tornam melhores uns com os<br />

outros. O elã do estado poético pode operar a<br />

alquimia que converte o feio em bonito, o metal<br />

pesado em ouro, a lama em lótus, mediante os<br />

processos in-tensivos de transmutação de valores,<br />

de sentires e de posturas que nos tornam<br />

mais humanos, amorosos e altivos. Possibilitanos<br />

compreender e vivenciar os paradoxos e<br />

ambigüi<strong>da</strong>des do humano em que nosso existir<br />

se constitui de dor e de prazer, de tristeza e de<br />

alegria, de feieza e de boniteza. As expressões<br />

<strong>da</strong> Arte podem nos proporcionar estados de “harmonia<br />

conflitual” em que aprendemos a <strong>da</strong>nçar<br />

melhor com os fluxos tensoriais de suas ambivalências,<br />

de suas torsões pregnantes.<br />

A Arte se instaura na interligação e no entrecruzamento<br />

entre Caos e Cosmos, entre<br />

Desordem e Ordem, como instâncias que potencializam<br />

os processos de criação e de transmutação.<br />

Ela é androgínica ao fomentar a<br />

juntura simbiótica e in-tensiva entre masculino<br />

Miguel Almir Lima de Araújo<br />

(Apolo) e feminino (Dioniso), como potenciali<strong>da</strong>des<br />

energéticas que constituem a inteireza<br />

de nosso ser-sendo. Simbiose que se traduz na<br />

relação de coexistência fecun<strong>da</strong> e criante entre<br />

essas polari<strong>da</strong>des interpolares. Essa coexistência<br />

não incide na redução de uma polari<strong>da</strong>de<br />

na outra. É no interfluxo <strong>da</strong> relação de copulação<br />

entre as diferenças – na interpolari<strong>da</strong>de –<br />

que podem ser fecun<strong>da</strong>dos os processos de<br />

engravi<strong>da</strong>ção e de partejamento do novo, dos<br />

sentidos anímicos do existir.<br />

As potenciali<strong>da</strong>des criadoras e transmutantes<br />

<strong>da</strong>s expressões <strong>da</strong> Arte, nas texturas do estado<br />

poético, quando conduzi<strong>da</strong>s pela inteligência<br />

sensível e espirituosa, quando mobiliza<strong>da</strong>s por<br />

sentimentos mais altivos e sublimes, mediante o<br />

poder incomensurável de nossa imaginação e<br />

sensibili<strong>da</strong>de criantes, opera com nossas dores,<br />

conflitos e angústias como motes, como forças e<br />

momentos germinais que podem, como vimos,<br />

nos inspirar para os fluxos de transformação, de<br />

partejamentos renovantes e alargantes.<br />

Assim, o feixe tensorial dos conflitos, <strong>da</strong>s dores<br />

do mundo que nos perturbam e até nos fazem<br />

chorar, com sua agudeza cortante, podem se<br />

configurar como momentos promissores <strong>da</strong>s travessias<br />

e se tornar passagens alvissareiras. Passagens<br />

que, mediante nossa sensibili<strong>da</strong>de e<br />

imaginação criantes, podem se desdobrar no riso<br />

desmesurado <strong>da</strong> contenteza que resulta do nascimento<br />

amanhecente do novo vivificante.<br />

Na proporção em que as expressões <strong>da</strong> Arte<br />

tocam nossos sentimentos mais fundos e singelos,<br />

elas nos dis-põem e mobilizam para momentos<br />

celebrativos em que, despojados e<br />

abertos, podemos compartilhar com os outros<br />

nossas alegrias e tristezas, nossos sonhos e utopias;<br />

em que podemos urdir a teia dos laços<br />

afetivos <strong>da</strong> compaixão, <strong>da</strong> empatia, <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de,<br />

<strong>da</strong> fraternura. A festa que as manifestações<br />

<strong>da</strong> Arte nos propiciam pode fazer jorrar<br />

a sinergia que nos entrelaça e ecofraterniza<br />

no cultivo dos valores e sentimentos mais preciosos,<br />

nos impelindo às buscas <strong>da</strong> beleza suprema<strong>da</strong>;<br />

nos infunde o elã do anímico que faz<br />

vicejar a dinâmica in-tensiva <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de na<br />

multiplici<strong>da</strong>de através <strong>da</strong> plastici<strong>da</strong>de de suas<br />

formas simbólicas.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 157-162, jan./jun., 2006 161

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