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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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Eclipse do Lúdico<br />

fessores, mas a educação do ser por inteiro.<br />

Afirma Argan que é somente na arte que pode<br />

ser alcança<strong>da</strong> “a uni<strong>da</strong>de entre a estrutura do<br />

sujeito e a estrutura do objeto, na medi<strong>da</strong> em<br />

que esta é justamente a reali<strong>da</strong>de que se cria a<br />

partir do encontro do homem com o mundo.<br />

Uma civilização sem arte estaria destituí<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

continui<strong>da</strong>de entre objeto e sujeito, <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de<br />

fun<strong>da</strong>mental do real” (apud DEHEINZELIN,<br />

1996, p. 93).<br />

A arte seria, assim, propiciadora <strong>da</strong>s relações<br />

entre interiori<strong>da</strong>de e exteriori<strong>da</strong>de. O saber<br />

sensível e artístico, somado ao saber<br />

didático, fariam, então, do professor, um leitor<br />

inteligente <strong>da</strong> alma humana, correspondendo,<br />

com justiça, ao que as crianças precisam e desejam<br />

saber.<br />

Segundo Cristina Allessandrini (1992), através<br />

<strong>da</strong> arte podemos desenvolver níveis superiores<br />

de cognição; habili<strong>da</strong>des cognitivas desenvolvi<strong>da</strong>s,<br />

tradicionalmente, através <strong>da</strong> linguagem,<br />

podem ser desenvolvi<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> arte. A<br />

autora sustenta, ain<strong>da</strong>, que há certos bloqueios,<br />

no processo <strong>da</strong> aprendizagem, que impedem o<br />

indivíduo de utilizar-se do raciocínio e <strong>da</strong> linguagem<br />

verbal para exprimir-se. Aspectos sempre<br />

tão requeridos pela escola, aliás, estes são,<br />

via de regra, as únicas vias de aquisição do saber<br />

de que se utiliza a escola. A autora relata<br />

que na sua experiência como psicope<strong>da</strong>goga,<br />

mediante a linguagem extra-verbal (plástica,<br />

musical, gestual), o indivíduo expressa sentimento,<br />

pensamento e necessi<strong>da</strong>des. Esse trabalho<br />

é facilitador para que o educando contacte com<br />

suas próprias dificul<strong>da</strong>des conceituais. Num trabalho<br />

que alia arte à cognição, as estruturas do<br />

pensamento se desenvolvem operacionalizando<br />

o fazer artístico e criativo, assim, o indivíduo<br />

é trabalhado na sua inteireza. “Do ponto de vista<br />

psicológico, há o resgate do ser total e integrado<br />

em sua reali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> criador e transformador,<br />

ativo e reflexivo na sua participação<br />

social” (ALESSANDRINI, 1992, p. 12).<br />

Fun<strong>da</strong>mentalmente, pode-se dizer que para<br />

aprendermos todos os nossos sentidos são postos<br />

à prova: ouvir, ver, cheirar, tocar, sentir o<br />

sabor… o sabor do saber. Com efeito, o termo<br />

saber vem do latim – sapere – e na origem,<br />

20<br />

significa ter gosto, sabor. Onde ficou perdido<br />

este elo?<br />

Aprendemos melhor se utilizamos estes canais<br />

de conhecimento, estas vias de acesso ao<br />

saber. Ativamos a cognição pela ação criativa.<br />

No momento em que estamos a criar, os nossos<br />

poros se abrem à nova aprendizagem. As funções<br />

cognitivas superiores – analisar, generalizar,<br />

compreender, deduzir, imaginar – estariam,<br />

assim, em melhores condições de estruturar as<br />

aprendizagens, como diria Vygotsky.<br />

Alessandrini sustenta que “a mu<strong>da</strong>nça na<br />

aprendizagem propõe uma variação interna e<br />

neuronal. Novas estruturas neuro-psicológicas<br />

são ativa<strong>da</strong>s ao se descobrir o refazer criativo”<br />

(1992, p.12). A assimilação de novas experiências<br />

concorre, assim, para as mu<strong>da</strong>nças nos processos<br />

mentais, a percepção se amplia e os<br />

processos que envolvem o raciocínio passam a<br />

incluir ca<strong>da</strong> vez mais abstrações. “O pensamento<br />

humano começa a apoiar-se no raciocínio lógico<br />

amplo; a esfera <strong>da</strong> imaginação criadora toma<br />

forma, o que por sua vez expande enormemente<br />

o mundo subjetivo do homem” (LURIA, 1990,<br />

apud ALESSANDRINI, 1992, p. 12).<br />

Na escola muito pouco se articulam os fatores<br />

afetivos e cognitivos, e a arte poderia garantir<br />

este elo. O não aprender – uma doença<br />

crônica nas escolas públicas, em geral – pode<br />

advir dessa falta de articulação. Fagali afirma<br />

a respeito <strong>da</strong> não-aprendizagem:<br />

… um dos pontos críticos desta não-aprendizagem<br />

se refere à falta de integração mundo internomundo<br />

externo, teoria-prática, conhecimento-vi<strong>da</strong>,<br />

passivi<strong>da</strong>de-ativi<strong>da</strong>de, recepção-ação e construção,<br />

a percepção de parte e o todo, as linguagens<br />

verbais e não-verbais. Em suma, a compartimentalização,<br />

as cisões e desintegrações têm sido o grande<br />

mal que interfere no não aprender, na não transformação<br />

e na não-criação. (1992, p. 7).<br />

Penso que estas cisões, menciona<strong>da</strong>s pela<br />

autora, e presentes, via de regra, na mediação<br />

didática mecânica, estão na raiz <strong>da</strong> insatisfação<br />

crescente que tem se apoderado de educadores<br />

e educandos. A não-aprendizagem afeta<br />

enormemente a confiança que o professor poderia<br />

gerar em si mesmo e no poder do seu<br />

trabalho. No entanto, ele constata, ca<strong>da</strong> vez<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 15-25, jan./jun., 2006

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