Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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Se der a gente brinca: crenças <strong>da</strong>s professoras sobre ludici<strong>da</strong>de e ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />
62<br />
mente libera os professores para passar mais tempo<br />
com as crianças. O professor se torna um<br />
organizador efetivo <strong>da</strong> situação de aprendizagem,<br />
na qual ele reconhece, afirma e apóia as<br />
oportuni<strong>da</strong>des para a criança aprender à sua própria<br />
maneira em seu próprio nível e a partir de<br />
suas experiências passa<strong>da</strong>s (conhecimentos prévios).<br />
(p. 101).<br />
Pela análise dessa citação, mesmo reconhecendo<br />
as inúmeras atribuições <strong>da</strong>s professoras,<br />
percebo que outra atitude poderá ser toma<strong>da</strong><br />
diante do exercício <strong>da</strong> profissão docente, de uma<br />
forma que se torne menos desgastante e mais<br />
proveitosa para educandos e educadores.<br />
Entendo, ain<strong>da</strong>, que o sentimento de insatisfação<br />
<strong>da</strong>s professoras está ligado a outra crença:<br />
Queria uma sala homogênea! Quando me<br />
refiro a essa crença, estou expressando tanto o<br />
desejo <strong>da</strong>s professoras de que todos os alunos<br />
se comportem e apren<strong>da</strong>m igualmente, tendo<br />
os “melhores” alunos como parâmetro, quanto<br />
à crença de que, independentemente do contexto<br />
socioeconômico e histórico, as crianças<br />
devem se comportar <strong>da</strong> mesma forma.<br />
No que se refere à discussão sobre o tempo<br />
<strong>da</strong>/na escola e a influência deste na vivência <strong>da</strong><br />
ludici<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des lúdicas na escola,<br />
sistematizei a crença o tempo <strong>da</strong> escola deve<br />
ser bem utilizado. Tal convicção encontra-se<br />
alicerça<strong>da</strong> em outras assim descritas:<br />
No que tange à crença de que o tempo <strong>da</strong><br />
escola deve ser bem utilizado, observo que as<br />
suas compreensões dizem respeito ao fato de<br />
que só é bem utilizado o período escolar se for<br />
dirigido ou relacionado para o ensino ou avaliação<br />
dos conteúdos. Qualquer ativi<strong>da</strong>de que fuja<br />
desse terreno é considera<strong>da</strong> “per<strong>da</strong> de tempo”,<br />
“momento roubado ao ensino”, como nos afirma<br />
Miguel Arroyo (2000). É possível identificar,<br />
na citação de Regina Leite Garcia (2000),<br />
a mesma compreensão de Miguel Arroyo,<br />
quando expressa que para os professores:<br />
... tudo o que não seja aula formal na sala de<br />
aula, com trabalho no quadro, livro aberto, muito<br />
dever de casa e avaliação “muito severa”, é<br />
per<strong>da</strong> de tempo, num mundo tão competitivo,<br />
em que é preciso aproveitar o tempo, ao máximo,<br />
na corri<strong>da</strong> para o sucesso. Recreio, aula de arte,<br />
aula de educação física, qualquer ativi<strong>da</strong>de fora<br />
<strong>da</strong> sala de aula, tudo é per<strong>da</strong> de tempo, na avaliação<br />
do Banco Mundial, de onde emanam to<strong>da</strong>s<br />
as diretrizes <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> Brasileira hoje. (p. 7-8)<br />
Vale a pena chamar a atenção para o fato<br />
de que o controle do tempo na escola não incomo<strong>da</strong><br />
somente os educandos, mas também as<br />
professoras. A este respeito, considero ilustrativa<br />
a fala <strong>da</strong> Professora Mariazinha:<br />
Outro entrave é o tempo pe<strong>da</strong>gógico, a exigência<br />
desse tempo pe<strong>da</strong>gógico, que a gente tem<br />
que ficar, como é que eu digo (pausa) tem uma<br />
rigidez nesse tempo pe<strong>da</strong>gógico de sala de aula,<br />
de conteúdo. É uma coisa, assim, meio que mecânica<br />
mesmo no trabalho com os alunos. É uma<br />
exigência acima <strong>da</strong> gente e aí eu acho que falta<br />
um coordenador pe<strong>da</strong>gógico, também, para orientar<br />
essa divisão desse tempo, de tal forma que<br />
as crianças possam ter recreação, possa participar<br />
de jogos, possam até ter outra pessoa na<br />
sala que divi<strong>da</strong> com o professor ou que conte<br />
uma historia, ou dê aula de matemática.<br />
Essa constatação de Mariazinha em relação<br />
à rigidez demonstra como a escola está<br />
organiza<strong>da</strong> segundo uma lógica mercadológica,<br />
onde o tempo é algo que determina, sufoca e<br />
inibe a presença de ativi<strong>da</strong>des prazerosas no<br />
espaço escolar. Nesse caso, o tempo e as ativi<strong>da</strong>des<br />
escolares estão organizados de forma a<br />
atenderem às necessi<strong>da</strong>des do capital, <strong>da</strong> qualificação<br />
para o trabalho.<br />
A Professora Mariazinha é quem nos traz<br />
outra denúncia (em sua autobiografia), em relação<br />
à vivência <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de na escola, no<br />
que se refere ao tempo:<br />
As condições para que as crianças possam brincar<br />
na escola (em algumas escolas por onde<br />
passei) estão “escondi<strong>da</strong>s” Não há uma cultura<br />
que considere o tempo <strong>da</strong> brincadeira, como<br />
tempo pe<strong>da</strong>gógico e que seja valorizado como<br />
tal. As crianças não têm, ou melhor, não proporcionamos<br />
às crianças a criação do hábito<br />
de brincar, temos dificul<strong>da</strong>de de oferecer alternativas,<br />
falo do coletivo <strong>da</strong>s escolas.<br />
A partir dessa constatação, explano sobre o<br />
medo evidenciado por muitos/as professores/<br />
as de serem considerados/as irresponsáveis e<br />
incompetentes na sua tarefa de educar pelo fato<br />
de utilizarem ativi<strong>da</strong>des lúdicas em sala de aula.<br />
Essa idéia será modifica<strong>da</strong> quando forem re-<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 55-77, jan./jun., 2006