Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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mem com o trabalho e que ressaltam a importância<br />
<strong>da</strong> dimensão subjetiva <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de laboral<br />
para a saúde do trabalhador.<br />
Dentre estas pesquisas, pode ser destaca<strong>da</strong><br />
a do espanhol Esteve (1999) sobre o mal-estar<br />
docente, na qual analisa a crise contemporânea<br />
na profissão do educador e onde conclui que,<br />
nos últimos vinte anos, não só na Espanha, como<br />
em todo o mundo, o modelo socioeconômico<br />
acelerado mudou de forma significativa o perfil<br />
dos professores, suas relações e condições de<br />
trabalho na escola.<br />
Tais mu<strong>da</strong>nças acarretam pressões psicológicas<br />
e sociais constantes sobre a ativi<strong>da</strong>de<br />
docente, provocando efeitos permanentes de<br />
caráter negativo, denominados de “mal-estar”,<br />
que afetam a personali<strong>da</strong>de dos professores.<br />
O autor observa que, embora o mal-estar se<br />
manifeste de forma individual no professor<br />
(frustração, tensão, ansie<strong>da</strong>de, esgotamento),<br />
apresenta-se como problema coletivo, ou seja,<br />
tem raízes no contexto social onde se insere.<br />
Neste sentido, aponta alguns fatores desencadeantes,<br />
como por exemplo: aumento <strong>da</strong>s responsabili<strong>da</strong>des<br />
e exigências sobre os educadores,<br />
resultando em acúmulo de funções antes<br />
designa<strong>da</strong>s a outras instituições, a exemplo <strong>da</strong><br />
família; a subvalorização <strong>da</strong> afetivi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong><br />
representação social docente nos programas de<br />
formação; precárias condições de trabalho e<br />
modificações no status social medido pelo nível<br />
salarial; falta de autonomia e controle sobre<br />
o próprio trabalho.<br />
No Brasil, Codo (1999), numa extensa pesquisa<br />
realiza<strong>da</strong> em todos os estados brasileiros,<br />
com cinqüenta e dois mil professores do ensino<br />
fun<strong>da</strong>mental e médio, constatou que as mu<strong>da</strong>nças<br />
educacionais contemporâneas fragmentam<br />
o trabalho destes profissionais, causando-lhes<br />
uma tensão emocional constante e impondo-lhes<br />
uma cisão entre seu “eu profissional” e seu “eu<br />
pessoal”.<br />
Esta cisão pode provocar, segundo o autor,<br />
um estado de apatia, um desencanto que o faz<br />
“perder o fogo” na sua ativi<strong>da</strong>de, e que, uma<br />
vez não mediado, pode resultar num estresse 3<br />
ocupacional crônico denominado de Síndrome<br />
de Burnout ou Síndrome <strong>da</strong> Desistência.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 79-98, jan./jun., 2006<br />
Sueli Barros <strong>da</strong> Ressurreição; Bernadete de Souza Porto<br />
Também observamos, nestes últimos anos,<br />
que a Lei de Diretrizes e Bases (Lei nº 9.394)<br />
de 20 de dezembro de 1996, os Parâmetros<br />
Curriculares Nacionais (PCN) e os pilares para<br />
<strong>Educação</strong> para o século XXI, defendidos no<br />
relatório de Delors (2001), trouxeram propostas<br />
de mu<strong>da</strong>nças significativas sobre as responsabili<strong>da</strong>des<br />
e competências para os professores<br />
e sua formação. Dessa forma, abriram vasto<br />
campo para pesquisa sobre profissionalização<br />
e formação de professores.<br />
A segun<strong>da</strong> fonte de nossa aspiração ao tema<br />
vem de nossa experiência na regência <strong>da</strong>s disciplinas<br />
Psicologia <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> e Psicomotrici<strong>da</strong>de,<br />
nos cursos de licenciatura <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
do Estado <strong>da</strong> Bahia (UNEB), nas quais<br />
observamos que as queixas dos alunos-professores<br />
se resumiam, às vezes, em fadiga, sentimento<br />
de impotência, ausência de motivação e<br />
despersonalização, o que de fato os tornavam,<br />
a priori, mais vulneráveis à chama<strong>da</strong> “queimadura<br />
interna” ou Burnout (CODO,1999).<br />
Percebíamos que o resultado <strong>da</strong> sobrecarga<br />
de responsabili<strong>da</strong>des ocupacionais, a falta de<br />
condições de administrar a sua própria ativi<strong>da</strong>de<br />
e o esquecimento de sua pessoa afetiva dota<strong>da</strong><br />
de sonhos e de estima própria poderiam<br />
propiciar um desencanto no trabalho.<br />
E, finalmente, a terceira fonte, advém do<br />
nosso exercício clínico, na área de Psicoterapia<br />
Corporal, onde tivemos oportuni<strong>da</strong>de de ouvir o<br />
cliente-professor, sobre o quanto seu trabalho<br />
estava sendo fatigante na medi<strong>da</strong> em que proporcionava<br />
poucas condições para o investimento<br />
afetivo, assim como para a sua realização<br />
profissional.<br />
Nesta trilha, pensamos que as ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />
e as vivências psicocorporais, inseri<strong>da</strong>s<br />
num espaço que possibilite aos professores compartilharem<br />
seus impasses e questionamentos<br />
enfrentados no cotidiano de sua práxis, podem<br />
ser um meio de ampliação de contato com os<br />
3 Codo (1999) esclarece que não se pode confundir Burnout<br />
com estresse. O estresse é um esgotamento pessoal com<br />
interferência na vi<strong>da</strong> do sujeito e não necessariamente na<br />
sua relação com o trabalho. O Burnout envolve atitudes e<br />
condições negativas com relação aos usuários, clientes, organização<br />
e trabalho.<br />
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