11.04.2013 Views

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Se der a gente brinca: crenças <strong>da</strong>s professoras sobre ludici<strong>da</strong>de e ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />

Essa visão <strong>da</strong> escola é ain<strong>da</strong> mais contingente<br />

quando volta<strong>da</strong> para a educação <strong>da</strong>s crianças<br />

<strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s populares. Autores como<br />

Nelson Marcellino (1990), Miguel Arroyo<br />

(1991), Gisela Wajskop (1995) e Gilles Brougère,<br />

(1998) entendem que as crianças <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s<br />

populares não encontram nas escolas<br />

públicas a mesma freqüência de ativi<strong>da</strong>des prazerosas<br />

como as crianças que vão às escolas<br />

particulares. Essa denúncia é grave e necessita<br />

um cui<strong>da</strong>do mais atento à visão de escola e<br />

criança que vigora nas escolas públicas.<br />

2.3 Discutindo as crenças <strong>da</strong>s professoras<br />

sobre seus/suas alunos/<br />

as: outra forma de conhecer as suas<br />

convicções diante ludici<strong>da</strong>de e<br />

<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />

Com essa discussão objetivo analisar as crenças<br />

<strong>da</strong>s professoras sobre infância, em especial<br />

a respeito <strong>da</strong>s crianças <strong>da</strong>s classes populares,<br />

buscando demonstrar como essas crenças interferem<br />

na vivência <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />

lúdicas na escola que atende às cama<strong>da</strong>s<br />

populares e no seu papel como educadoras.<br />

Dessa forma, está sistematiza<strong>da</strong> seguindo a<br />

descrição e análise de cinco crenças básicas:<br />

Como são carentes! As crianças <strong>da</strong> escola<br />

pública são muito violentas! As crianças <strong>da</strong>s<br />

cama<strong>da</strong>s populares não valorizam a escola!<br />

Os alunos têm que ficar quietos! Elas só<br />

gostam de brincar! Eu não sei ensinar brincando!<br />

As crianças aprendem melhor brincando!<br />

Conhecer as convicções que as professoras<br />

constituíram sobre seus/suas alunos/as é<br />

importante para este estudo porque entendo que<br />

é a partir delas que esses profissionais se posicionam<br />

frente à ludici<strong>da</strong>de e às ativi<strong>da</strong>des lúdicas.<br />

É válido dizer que essas crenças também<br />

influenciam na auto-imagem que as crianças<br />

fazem e na elaboração de propostas educacionais<br />

para essas crianças.<br />

A primeira crença sobre infância, que foi<br />

observa<strong>da</strong> em to<strong>da</strong>s as professoras, foi a que<br />

denominei como são carentes! A carência é<br />

64<br />

vista em diferentes aspectos, todos eles relacionados<br />

ao déficit de aprendizagem nutricional,<br />

cultural e afetiva. O fato de as crianças com as<br />

quais trabalham serem moradoras de bairro<br />

popular e pertencerem à classe social menos<br />

favoreci<strong>da</strong> torna essa crença ain<strong>da</strong> mais robusta.<br />

No que se refere a essa convicção, foi interessante<br />

observar que to<strong>da</strong>s as professoras pesquisa<strong>da</strong>s<br />

se ativeram aos fatores extra-escolares<br />

como causadores de carência e, em especial,<br />

aos aspectos familiares.<br />

Outra crença que também merece atenção,<br />

especialmente nos dias atuais, em que a relação<br />

professor-aluno tem sido um dos principais<br />

problemas enfrentados pelos docentes, diz respeito<br />

à convicção de que as crianças <strong>da</strong> escola<br />

pública são muito violentas. Percebi isso<br />

em Cândi<strong>da</strong>, Teresinha e Margari<strong>da</strong>, como uma<br />

interferência na relação que as professoras estabelecem<br />

com as crianças <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s populares,<br />

influenciando para que a ludici<strong>da</strong>de e as<br />

ativi<strong>da</strong>des lúdicas não se encontrem presentes<br />

na sala de aula nem na escola. Assim como na<br />

crença anterior, essa compreensão demonstra<br />

a responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> família em relação ao<br />

caráter “violento” <strong>da</strong>s crianças. Acreditar que<br />

as crianças <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s populares são violentas<br />

interfere negativamente para a vivência lúdica<br />

na escola freqüenta<strong>da</strong> por essa parte <strong>da</strong><br />

população.<br />

Similar a desvalorização <strong>da</strong> escola. Também<br />

percebi uma outra convicção que compreende<br />

que as crianças <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s populares não<br />

valorizam a escola. Essa convicção esteve<br />

evidente em Margari<strong>da</strong> e Teresinha, quando<br />

comparam as crianças <strong>da</strong> escola pública e <strong>da</strong><br />

escola priva<strong>da</strong>: o comportamento e a aprendizagem<br />

delas, além <strong>da</strong> forma de acompanhamento<br />

dos pais.<br />

Diante <strong>da</strong> afirmativa de que as crianças e<br />

seus pais não valorizam a escola, questionei a<br />

Margari<strong>da</strong> o que diferencia as crianças <strong>da</strong> escola<br />

pública e <strong>da</strong> escola particular e ela respondeu:<br />

A cobrança é maior. Eu acho que tem a cobrança<br />

dos pais que pagam, eles cobram mais porque<br />

eles estão pagando e querem ver retorno. E<br />

aqui na escola pública, não. Eles não cobram,<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 55-77, jan./jun., 2006

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!