Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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las onde esses/as profissionais atuam e as suas<br />
salas de aula devem ser entendi<strong>da</strong>s como espaço<br />
de formação para o qual convergem reprodução<br />
e inovação. Como constatam Manuel<br />
Jacinto Sarmento (1994) e Rita de C. Silva<br />
(2000), porém, é mais preponderante a reprodução,<br />
inclusive com forte influência dos professores<br />
antigos sobre os iniciantes, fazendo<br />
com que, aos poucos, os seus ideais e conhecimentos<br />
sobre o ensino, aprendidos nos cursos<br />
de formação, sejam substituídos pela rotina e<br />
pelo tradicionalismo. Esse “rito de passagem”,<br />
como denomina Manuel Sarmento (1994), ocorre,<br />
principalmente, porque o jovem professor é<br />
obrigado a enfrentar uma escola fecha<strong>da</strong>, domina<strong>da</strong><br />
pela burocracia, hábitos, e que é resistente<br />
às inovações pe<strong>da</strong>gógicas.<br />
Nesse momento, acredito que as crenças dos<br />
professores se tornam mais fortes, pois, ao perceberem<br />
que alguns conhecimentos obtidos nos<br />
cursos de formação não resolvem os problemas<br />
mais emergenciais, recorrem ao período<br />
em que eram alunos/as, quando, na sua percepção,<br />
as coisas <strong>da</strong>vam certo – especialmente<br />
quando se trata <strong>da</strong>s questões referentes à<br />
disciplina e aprendizagem – ou eram mais fáceis<br />
para o educador.<br />
Com base nos recursos metodológicos utilizados,<br />
detectei as seguintes crenças: Ser professor<br />
é como se fosse mãe! Professor clareia<br />
caminhos! A gente transmite conteúdos!<br />
A análise dessas convicções nos faz compreender<br />
a necessi<strong>da</strong>de de uma redefinição <strong>da</strong><br />
profissionali<strong>da</strong>de docente, em que os/as professores/as<br />
adotem novas atitudes individuais e<br />
coletivas, abdiquem do caráter de sacerdócio e<br />
assumam o caráter profissional do seu ofício,<br />
incorporando não somente aspectos racionais,<br />
baseados no Iluminismo, mas também afetivos,<br />
corporais, artísticos dentre outros.<br />
A crença a gente transmite conteúdos demonstra<br />
o caráter reducionista do papel formativo<br />
do professor e interfere na vivência <strong>da</strong><br />
ludici<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des lúdicas na escola.<br />
Enfatizo que essa transmissão está atrela<strong>da</strong> e,<br />
na maioria <strong>da</strong>s vezes, limita<strong>da</strong>, aos conteúdos<br />
que constam no livro didático adotado pela professora.<br />
É importante mencionar que esse pa-<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 55-77, jan./jun., 2006<br />
Ilma Maria Fernandes Soares; Bernadete de Souza Porto<br />
râmetro de avaliação do professor, se encontra<br />
presente em to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de e é sedimentado<br />
nos cursos de formação de professores/as.<br />
Miguel Arroyo (2000) faz uma crítica aos cursos<br />
de formação, explicando que:<br />
O modelo de escola e de mestre que os centros<br />
reproduzem na ocupação dos tempos e espaços<br />
é para o aulismo, para ser meros aulistas. Essas<br />
lacunas no aprendizado são irreparáveis. Como<br />
esses mestres vão valorizar a escola como espaço<br />
cultural, de socialização, de convívio, de trocas<br />
humanas se a escola em que estu<strong>da</strong>ram e se<br />
formaram não equaciona tempos, espaços, ativi<strong>da</strong>des<br />
de cultura, convívio e socialização? (p.131).<br />
Tal crença desconsidera a aprendizagem, tornando-se<br />
um processo mecânico, impessoal e<br />
exterior aos sujeitos envolvidos. Diante dessa crença<br />
relativa à função docente, atrela<strong>da</strong> à transmissão<br />
de conteúdo, é possível afirmar que para as<br />
professoras, os conteúdos são supremos.<br />
A supervalorização dos conteúdos é algo<br />
marcante no trabalho <strong>da</strong>s professoras e faz com<br />
que muitas considerem, mesmo que tacitamente,<br />
que o sentido do seu fazer pe<strong>da</strong>gógico se<br />
restrinja à transmissão de conteúdos, recaindo<br />
no “aulismo”. Essa concepção as torna defensivas<br />
em relação às propostas de renovação<br />
pe<strong>da</strong>gógica. No entanto, a necessi<strong>da</strong>de premente<br />
que enfatizo no que diz respeito à função do/<br />
a professor/a na contemporanei<strong>da</strong>de, não significa<br />
abdicar dos conhecimentos historicamente<br />
elaborados, mas assumir o seu caráter formador<br />
numa perspectiva mais ampla, como a criativi<strong>da</strong>de,<br />
a sensibili<strong>da</strong>de, a imaginação e a<br />
afetivi<strong>da</strong>de que sempre foram secun<strong>da</strong>riza<strong>da</strong>s<br />
do currículo escolar.<br />
Ao mesmo tempo, percebo embuti<strong>da</strong> a essa<br />
crença <strong>da</strong> supremacia dos conteúdos outra convicção<br />
relaciona<strong>da</strong> ao papel <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des lúdicas:<br />
as ativi<strong>da</strong>des lúdicas nas séries iniciais<br />
só devem estar presentes na escola se o objetivo<br />
for a transmissão de conteúdo.<br />
As três vezes em que pude observar Cândi<strong>da</strong><br />
utilizando jogos com os seus alunos foram<br />
para reforçar um conteúdo trabalhado em sala<br />
de aula. A professora falou, durante a entrevista,<br />
que aproveita do prazer que as crianças sen-<br />
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