Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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em que se tenta nomear, fazer relações entre<br />
as construções simbólicas com a reali<strong>da</strong>de social<br />
e dirige seu campo epistêmico para entender<br />
como esta reali<strong>da</strong>de constrói a leitura dos<br />
símbolos presentes no cotidiano que move ca<strong>da</strong><br />
sujeito à ação. Na condição de pesquisadora,<br />
pergunto: não seria essa capaci<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r uma<br />
nova forma às coisas pela ativi<strong>da</strong>de psíquica<br />
que constitui uma representação social?<br />
A fala é costura<strong>da</strong> a partir de um emaranhado<br />
de representações sociais que servem<br />
de trama articula<strong>da</strong> nas esferas <strong>da</strong>s relações<br />
sociais, ou seja, pela sua própria relação dialética<br />
com a cultura e a reali<strong>da</strong>de. Escutar a fala e<br />
exercitar a escuta exige, ao mesmo tempo, o<br />
sentido <strong>da</strong>s representações sociais que elas<br />
apresentam.<br />
Kaes (2001), ao pensar sobre representação<br />
social numa vertente psicanalítica, elabora<br />
a hipótese de que a representação é um trabalho<br />
de lembranças <strong>da</strong>quilo que está ausente, que<br />
está em falta. Logo, a representação tanto quanto<br />
a psicanálise indicam uma ausência, se formam<br />
como traço e reprodução de um objeto<br />
perdido.<br />
A representação social do professor sobre<br />
fala e escuta em sala de aula, de que trata este<br />
artigo, busca superar dualismos, estabelecer<br />
interfaces com outros campos do saber, para<br />
dizer o que não pode ser dito internamente, mas<br />
que ain<strong>da</strong> insiste em dizer, representação e psicanálise<br />
não constituem ambigüi<strong>da</strong>des, parece<br />
que algo evidente se desvela, mistura-se numa<br />
sintonia de tons e formas, e expressa o desejo<br />
de colocar o homem para realizar a tarefa que<br />
o mestre ensinou. “Assim como o planeta gira<br />
em torno de um corpo central enquanto ro<strong>da</strong><br />
em torno do seu próprio eixo, assim também o<br />
indivíduo humano participa do curso do desenvolvimento<br />
<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, ao mesmo tempo<br />
em que persegue o seu próprio caminho <strong>da</strong><br />
vi<strong>da</strong>.” (FREUD, 1976, p.163)<br />
Representação e psicanálise são como a<br />
imagem do tecelão: alguns fios aprecem partidos,<br />
outros estão unidos desenhando em seu<br />
trajeto uma peça necessariamente interminável.<br />
Então, posso suspirar mais alivia<strong>da</strong> ante o<br />
esforço feito para encontrar na cultura um ca-<br />
Maria de Lourdes S. Ornellas<br />
minho por meio do qual representação social e<br />
psicanálise se encontram, mesmo sabendo que<br />
a incerteza atormenta o laço possível.<br />
Trilhas e atalhos<br />
A partir <strong>da</strong> delimitação do problema, o contexto<br />
escolhido para a coleta de <strong>da</strong>dos foi uma<br />
escola pública do Ensino Médio, situa<strong>da</strong> em<br />
Salvador-Bahia. Os sujeitos que colaboraram<br />
com a realização deste estudo pertencem a<br />
uma classe do ensino médio, de ambos os sexos,<br />
encontrando-se na faixa etária de 16 a 19<br />
anos. A classe serviu de palco para que se<br />
pudesse proceder à observação dos professores.<br />
Optou-se por escutar, mediante observação<br />
e entrevista, quatro professores durante<br />
cem dias. Em segui<strong>da</strong> foi estabelecido que a<br />
aula seria observa<strong>da</strong> com base em três momentos<br />
distintos: recepção de chega<strong>da</strong>, durante<br />
a aula e conclusão <strong>da</strong> aula. Com relação ao<br />
tempo, esses momentos foram assim divididos:<br />
recepção de chega<strong>da</strong> (dez minutos), durante a<br />
aula (trinta minutos) e conclusão <strong>da</strong> aula (dez<br />
minutos).<br />
Os registros de ca<strong>da</strong> um desses momentos<br />
foram reorganizados em categorias descritivas,<br />
o que permitiu uma primeira leitura dos <strong>da</strong>dos<br />
e, em segui<strong>da</strong>, as categorias teórico-interpretativas<br />
foram também construí<strong>da</strong>s, quando se<br />
buscou o referencial <strong>da</strong> teoria psicanalítica, o<br />
que contribuiu para o processo <strong>da</strong> análise.<br />
Com relação às categorias teórico-interpretativas<br />
<strong>da</strong>s observações do momento de recepção<br />
de chega<strong>da</strong>, observou-se que a sedução<br />
se fez presente, a relação transferencial mostrou-se<br />
durante a aula, enquanto que, no momento<br />
de conclusão <strong>da</strong> aula, destacou-se a<br />
repressão e a reatualização <strong>da</strong> sedução. As<br />
categorias teórico-interpretativas <strong>da</strong>s entrevistas<br />
foram agrupa<strong>da</strong>s em: ambivalência e frustração.<br />
Trilhas e atalhos são nomeações do que chamamos<br />
de método, este não constitui norma<br />
autônoma, mas deve subordinar-se a uma construção<br />
teórica no sentido de captar o objeto na<br />
sua especifici<strong>da</strong>de, no seu ágalma.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 211-225, jan./jun., 2006 219