Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Essa transfiguração se traduz na composição<br />
e na materialização de formas poéticas que<br />
apresentam a in-tensi<strong>da</strong>de de nossos sentimentos<br />
e desejos, de nossas sensações e inquietudes,<br />
de nossos sonhos e delírios, nas sagas <strong>da</strong>s<br />
tragicomédias do humano. Formas poéticas que<br />
se plasmam mediante a potência de nossa sensibili<strong>da</strong>de<br />
e imaginação criantes com suas ressonâncias<br />
quânticas. A plastici<strong>da</strong>de estésica<br />
dessas estampas poéticas, teci<strong>da</strong>s com a fineza<br />
de seus relevos e cores, de seus silêncios e<br />
sons, de seus recurvamentos e espessuras, proporciona<br />
novos sentires e sentidos, novos modos<br />
e perspectivas de relação com a vi<strong>da</strong>, com<br />
o mundo, em seus fluxos escorrentes.<br />
A Arte, ao tocar com intensi<strong>da</strong>de na imanência<br />
de nossa sensibili<strong>da</strong>de, de nossa intuitivi<strong>da</strong>de,<br />
de nosso imaginário mítico, portanto, dos<br />
desvãos <strong>da</strong> condição humana, em suas instâncias<br />
originárias e pregnantes e em nosso estar<br />
sendo-no-mundo-com-os-outros, nos conduz aos<br />
confins do indizível, <strong>da</strong> desmesura, dos estados<br />
incontornáveis, curvos e admiráveis do existir;<br />
nos conduz ao âmago magmático de nosso coração<br />
e de nossa alma, nos anima com os feixes<br />
do elã vital; infunde o anímico.<br />
Mobilizando nossos sentires mais in-tensos<br />
e inefáveis, a Arte nos inspira e nos leva a estados<br />
de fruição e de encantamento, nos precipita<br />
no estado poético, na poetici<strong>da</strong>de do<br />
ser-sendo, em que a vi<strong>da</strong> pode resplandecer,<br />
com seu fulgor aurorecente, e assim, pode florejar<br />
a sua pujança primavérica.<br />
As expressões <strong>da</strong> Arte, ao nos mobilizar para<br />
esses estados intensos em que se desbor<strong>da</strong>m<br />
os sentimentos mais pregnantes e vastos, para<br />
os ermos do “sentimento do mundo”, pode nos<br />
possibilitar a dissolução de nós e de couraças<br />
que nos aprisionam e nos enrijecem; pode nos<br />
aproximar com mais intimi<strong>da</strong>de e desnu<strong>da</strong>mento<br />
de nós mesmos e dos outros. O estado de<br />
fluidez e de ludici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s proezas <strong>da</strong> Arte, no<br />
jogo de seus movimentos sincopados, de seus<br />
matizes de gratui<strong>da</strong>de e de inutileza, co-move<br />
e mobiliza o corpo e o espírito nas travessuras<br />
<strong>da</strong>s folias e na abertura graciosa do riso que<br />
estampa alegria e contenteza. Viceja o feixe<br />
lampejante dos sentimentos de ternura e de<br />
Miguel Almir Lima de Araújo<br />
acolhimento, de compaixão e de cordiali<strong>da</strong>de<br />
na partilha e na fruição <strong>da</strong>s coisas simples, <strong>da</strong><br />
grandeza supremal dos enigmas <strong>da</strong> existência<br />
humana e dos seres do universo.<br />
As formas expressivas <strong>da</strong> Arte, em seu sentido<br />
mais originário, despontam a partir <strong>da</strong>s dimensões<br />
imensuráveis de nosso imaginário<br />
mítico, mitopoético, e traduzem arquétipos profundos<br />
de nosso inconsciente coletivo. Dessa<br />
forma, as imagens, os símbolos <strong>da</strong> Arte, re-velam<br />
sonhos, desejos e crenças coletivas que<br />
povoam a humani<strong>da</strong>de, em suas cama<strong>da</strong>s mais<br />
fun<strong>da</strong>s e sutis, em seus repertórios mitopoéticos<br />
vastos, inspiradores e alumbrantes. Projetam<br />
o estan<strong>da</strong>rte de nossas utopias e esperanças<br />
na dinâmica de seus ritos de celebração e de<br />
re-encantação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
A Arte não explica, nos implica. O explicar<br />
tende a separar e fragmentar. O implicar nos<br />
cumpliciza, nos en-volve e nos empatiza com<br />
os outros, com a vi<strong>da</strong>, com as coisas. Com essa<br />
potenciali<strong>da</strong>de de nos dis-por para a abertura<br />
simpatizante e aproximante, de fomentar os liames<br />
que entrelaçam, a Arte, em seus sentidos<br />
originários, pode compelir a atitudes abertas e<br />
simpáticas que nos fraternizam, que nos ecofraternizam<br />
(com todo o universo). Nos conduz<br />
a posturas de reconhecimento do brilho de<br />
ca<strong>da</strong> estrela humana (de si mesmo e dos outros)<br />
na constelação <strong>da</strong> teia do humano, do ecohumano.<br />
Dessa forma, podemos sorver a<br />
fruição <strong>da</strong>s centelhas, <strong>da</strong>s energias, dos “agregados<br />
sensíveis” que fazem vibrar a radiância<br />
do humano, do profana e divinamente humano,<br />
através dos elos que nos sinergizam e que nos<br />
entrelaçam na afirmação de nossa condição de<br />
seres singulares e semelhantes, com a plurali<strong>da</strong>de<br />
de nossas diferenças.<br />
Irradiados com esse elã sensível, podemos<br />
converter as formas singulares de nossas diferenças<br />
em condições que nos dis-põem a<br />
compartilhar a diversi<strong>da</strong>de de sentimentos e<br />
de valores, por meio <strong>da</strong>quilo que nos une – o<br />
liame e o núcleo <strong>da</strong> condição humana: o pulsar<br />
de nossos corações e o vibrar de nossas<br />
almas. Pulsar que nos faz arrepiar na in-tensi<strong>da</strong>de<br />
do laço terno do abraço caloroso que nos<br />
amoriza.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 157-162, jan./jun., 2006 159