Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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cesso de (co)laboração do desenho como sistema<br />
semiótico é o livro Imaginação e linguagem<br />
no desenho <strong>da</strong> criança, <strong>da</strong> Profª. Drª.<br />
Suely Ferreira, baseado em sua dissertação de<br />
mestrado defendi<strong>da</strong> na Unicamp (FERREIRA,<br />
1998).<br />
Conheci a professora Suely quando ela fazia<br />
parte <strong>da</strong> diretoria <strong>da</strong> Federação de Arte-<br />
Educadores do Brasil-FAEB. Depois, sempre<br />
acabávamos nos “batendo” em encontros <strong>da</strong><br />
FAEB e <strong>da</strong> Associação de Arte-Educadores<br />
de São Paulo-AAESP – ou em seminários <strong>da</strong><br />
International Society for Cultural and Activity<br />
Research-ISCAT (Socie<strong>da</strong>de Internacional<br />
pela Ativi<strong>da</strong>de e Pesquisa Cultural).<br />
Suely informa que as quatro etapas identifica<strong>da</strong>s<br />
ao longo do desenvolvimento psicográfico<br />
<strong>da</strong> criança por Vygotsky são: (1) Escalão de<br />
esquemas; (2) Escalão de formalismo e esquematismo;<br />
(3) Escalão <strong>da</strong> representação mais<br />
aproxima<strong>da</strong> do real e (4) Escalão <strong>da</strong> representação<br />
propriamente dita (1998, p. 29).<br />
Pessoalmente, prefiro denominar as etapas<br />
descritas por Vygotsky de: (1) etapa simbólica<br />
em substituição a “escalão de esquemas” –<br />
porque, como ele próprio afirma, “el pequeño<br />
artista es mucho más simbolista que naturalista”<br />
(VYGOTSKY, 1982, p. 96); (2) etapa simbólico-formalista<br />
no lugar de “escalão de<br />
formalismo e esquematismo” – porque, nesse<br />
período, ele afirma que já se começa “a sentirse<br />
la forma y la línea” (1982, p. 97); (3) etapa<br />
formalista veraz (ou formalista-verossímil) em<br />
substituição a “escalão de representação mais<br />
aproxima<strong>da</strong> do real” – na qual passa a existir,<br />
segundo ele, uma “representación veraz” dos<br />
objetos desenhados (1982, p. 97) e (4) etapa<br />
formalista plástica (ou formalista propriamente<br />
dita) no lugar de “escalão <strong>da</strong> representação propriamente<br />
dita” – porque, nesta etapa, Vygotsky<br />
afirma ser possível identificar-se “la imagem<br />
plástica” (1982, 99).<br />
Daqui em diante usarei os termos que apresentei<br />
acima para designar as etapas que caracterizam<br />
ca<strong>da</strong> um dos períodos escalonados<br />
por Vygotsky, descrevendo-os. Mas vale a pena<br />
lembrar: Vygotsky efetua um recorte no desenvolvimento<br />
cultural do grafismo infantil despre-<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 117-132, jan./jun., 2006<br />
Ricardo Ottoni Vaz Japiassu<br />
zando a “pré-história” do desenho. Por exemplo,<br />
a fase dos rabiscos, garatujas e “<strong>da</strong> expressão<br />
amorfa de elementos gráficos isolados” não<br />
interessa aos objetivos que ele possui em seu<br />
ensaio psicológico (1982, p. 94).<br />
De fato, o desenho – enquanto sistema semiótico<br />
– só existe efetivamente após o período<br />
dos rabiscos. No período dos rabiscos certamente<br />
não se pode falar de ativi<strong>da</strong>de representacional<br />
stricto sensu por parte <strong>da</strong> criança. A intenção<br />
de Vygotsky no livro – já disse – é demonstrar<br />
as interrelações entre a imaginação criadora<br />
e a criação artística infantil ,conforme elas se<br />
apresentam e podem ser observa<strong>da</strong>s ao longo<br />
particularmente de três formas de expressão<br />
estética na escolarização do sujeito: Literatura,<br />
Teatro e Artes Visuais/Desenho.<br />
Vygotsky no livro – volto a dizer – está a discutir<br />
a constituição social de uma importante função<br />
psíquica cultural: a imaginação criadora.<br />
Seu objeto de estudo não é o grafismo infantil<br />
enquanto tal mas, antes, as relações entre a imaginação<br />
criadora e a criação artística em<br />
geral (JAPIASSU, 2001). O desenvolvimento<br />
gráfico-plástico <strong>da</strong> criança é abor<strong>da</strong>do por ele<br />
muito rapi<strong>da</strong>mente. E só se justifica no livro por<br />
ser útil ao seu empenho de demonstrar o modo<br />
como a imaginação criadora se amplia e adquire<br />
um funcionamento qualitativamente superior<br />
ao longo do desenvolvimento cultural do<br />
sujeito ao interagir com o pensamento verbal.<br />
Verifica-se que a argumentação elabora<strong>da</strong><br />
por Vygotsky no oitavo capítulo do livro – onde<br />
ele abor<strong>da</strong> o grafismo infantil – é desenvolvi<strong>da</strong><br />
em diálogo com os resultados de pesquisas de<br />
estudiosos <strong>da</strong> expressão psicográfica <strong>da</strong> criança<br />
de sua época (BARNÉS; BAKUSHINSKII;<br />
BÜLLER; KERSCHENSTEINER; LA-<br />
BUNSKAYA & PESTEL; LEVINSTEIN;<br />
LUQUENS; POSPIÉLOVA; RICCI; SAKÚ-<br />
LINA e SELLY). O ensaio traz também um<br />
pequeno anexo com a reprodução de aproxima<strong>da</strong>mente<br />
duas dezenas de ilustrações coleta<strong>da</strong>s<br />
por estes pesquisadores – e às quais<br />
Vygotsky recorre para demonstrar a pertinência<br />
de sua “etapização”.<br />
Os aspectos invariantes do grafismo infantil<br />
são demonstrados por ele através de de-<br />
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