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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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Do desenho <strong>da</strong>s palavras à palavra do desenho<br />

<strong>da</strong> psicologia sócio-histórica na abor<strong>da</strong>gem ao<br />

desenho como sistema cultural de representação<br />

semiótica.<br />

Por exemplo, a “etapização” do grafismo<br />

infantil formula<strong>da</strong> por Vygotsky deixa “de fora”<br />

todo um período <strong>da</strong> aquisição do sistema de representação<br />

do desenho que me parece ser de<br />

fun<strong>da</strong>mental importância para a formação do(a)<br />

professor(a) <strong>da</strong> educação infantil e séries iniciais<br />

do ensino fun<strong>da</strong>mental. Além disso, o que<br />

se tem acesso, hoje, em língua portuguesa - a<br />

respeito <strong>da</strong> “etapização” <strong>da</strong> expressão psicográfica<br />

infantil formula<strong>da</strong> por Vygotsky – resulta<br />

de traduções livres, ou melhor, de traduções<br />

<strong>da</strong> tradução do russo para o espanhol.<br />

Até a elaboração deste artigo, não se tinha<br />

notícia do interesse de qualquer editora do país<br />

em adquirir os direitos de publicação, em português,<br />

do ensaio psicológico em que Vygotsky<br />

abor<strong>da</strong> a problemática <strong>da</strong> construção do sistema<br />

semiótico do desenho – publicado sob o título<br />

La Imaginación y el arte em la infância<br />

pela editora Akal de Madrid (VYGOTSKY,<br />

1982).<br />

Vygotsky, em ver<strong>da</strong>de, não se propõe a investigar<br />

ali o processo de apropriação do desenho<br />

como processo semiótico. O que ele faz no<br />

livro é: (1) sinalizar a matriz conceitual que deve<br />

ser utiliza<strong>da</strong> na (co)laboração de conhecimentos<br />

a respeito do grafismo infantil numa perspectiva<br />

histórico-cultural e (2) destacar alguns<br />

aspectos visuais invariantes do desenho <strong>da</strong><br />

criança que caracterizam etapas muito níti<strong>da</strong>s<br />

do processo de desenvolvimento do grafismo,<br />

discutindo-os (VYGOTSKY, 1982).<br />

Apenas no oitavo capítulo desse livro é que<br />

Vygotsky abor<strong>da</strong> o grafismo infantil. Seu foco<br />

ali é o desenho como expressão observável <strong>da</strong><br />

imaginação criadora humana. O objetivo <strong>da</strong><br />

sua publicação é, antes, o de demonstrar a tese<br />

<strong>da</strong> constituição social <strong>da</strong> imaginação enquanto<br />

função psicológica cultural e de como ela é redimensiona<strong>da</strong><br />

pelo pensamento verbal (JAPI-<br />

ASSU, 2001).<br />

Sueli Ferreira esclarece isso muito bem: “a<br />

teoria de Vygotsky apresenta um avanço no<br />

modo de interpretação do desenho” porque “(a)<br />

a figuração reflete o conhecimento <strong>da</strong> criança;<br />

120<br />

e (b) seu conhecimento, refletido no desenho, é<br />

o <strong>da</strong> sua [<strong>da</strong> criança] reali<strong>da</strong>de conceitua<strong>da</strong>,<br />

constituí<strong>da</strong> pelo significado <strong>da</strong> palavra” (FER-<br />

REIRA, 1998, p. 40).<br />

A nomenclatura para caracterizar as etapas<br />

do grafismo infantil e a “etapização” <strong>da</strong> expressão<br />

psicográfica <strong>da</strong> criança que apresento<br />

a seguir é, portanto, uma iniciativa que traduz o<br />

meu esforço docente no sentido de tentar<br />

re(a)presentar uma abor<strong>da</strong>gem ao grafismo infantil<br />

que possa <strong>da</strong>r conta de estabelecer um<br />

elo entre os pressupostos teórico-metodológicos<br />

<strong>da</strong> teoria histórico-cultural <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de-<br />

CHAT e o relativismo estético pós-moderno –<br />

no qual se fun<strong>da</strong>mentam as diretrizes educacionais<br />

para a compreensão <strong>da</strong>s produções artísticas<br />

na contemporanei<strong>da</strong>de.<br />

O que basicamente faço a seguir é: (1)<br />

(re)tomar o conceito de esquema formulado<br />

por Viktor Lowenfeld e W. Lambert Brittain<br />

(LOWENFELD & BRITTAIN, 1977); 1 (2)<br />

apoiar-me em parte <strong>da</strong> nomenclatura utiliza<strong>da</strong><br />

por estes psicólogos para caracterizar etapas<br />

do grafismo infantil (LOWENFELD, 1954);<br />

(3) buscar estabelecer um diálogo entre a terminologia<br />

que proponho e aquela originalmente<br />

utiliza<strong>da</strong> por Vygotsky (FERREIRA, 1998;<br />

VYGOTSKY, 1982); e, por fim, (4) justificar<br />

a pertinência dos termos dos quais me sirvo<br />

para caracterizar as etapas do processo de<br />

apropriação do sistema do desenho. Antes,<br />

contudo, é meu dever apresentar ao leitor a<br />

nomenclatura e a “etapização” originalmente<br />

formula<strong>da</strong>s por Vygotsky.<br />

A evolutiva do grafismo infantil<br />

segundo Vygotsky<br />

Sabe-se que o primeiro estudo brasileiro que<br />

mencionou a nomenclatura utiliza<strong>da</strong> por<br />

Vygotsky para caracterizar as etapas do pro-<br />

1 O uso <strong>da</strong> palavra esquema por Lowenfeld & Brittain<br />

difere do uso que Vygotsky faz deste vocábulo em sua proposta<br />

terminológica para a caracterização <strong>da</strong>s etapas do<br />

grafismo infantil. Adoto o conceito de esquema de<br />

Lowenfeld & Brittain como ponto de parti<strong>da</strong> para propor a<br />

nomenclatura que apresento aqui.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 117-132, jan./jun., 2006

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