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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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eles não aju<strong>da</strong>m a gente a fazer um trabalho,<br />

tem que ter continuação. Aqui a gente passa<br />

um dever de casa e os alunos não fazem. Já o<br />

aluno <strong>da</strong> escola particular, não. Eu acho que<br />

os pais cobram muito porque eles estão pagando.<br />

Eu acho que os pais que colocam os filhos<br />

numa escola particular, têm outro conhecimento,<br />

tem outra educação, sabe?! Os pais aqui<br />

botam os meninos pra estu<strong>da</strong>r porque precisam,<br />

mas vê que não é importante. Já os meninos<br />

<strong>da</strong> escola particular, ele sabe que é<br />

importante estu<strong>da</strong>r e ter uma profissão, para<br />

eles é a coisa mais importante que qualquer<br />

outra coisa poder ter uma profissão. (...) Para<br />

mim, é essa a diferença.<br />

Em relação a essa comparação entre os alunos<br />

e os pais <strong>da</strong> rede de ensino pública e priva<strong>da</strong>,<br />

Gimeno Sacristán (1996) nos chama a<br />

atenção para a noção de que:<br />

... essa comparação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do sistema<br />

público com a do privado desconsidera duas<br />

premissas metodológicas básicas: as condições<br />

socioeconômicas e culturais dos alunos<br />

dos dois sistemas; os objetivos educacionais,<br />

assim como as condições materiais, humanas,<br />

técnicas e metodológicas dispostas para a sua<br />

consecução. (p. 128)<br />

Ain<strong>da</strong> nesse sentido, Vera Corrêa (2000)<br />

salienta que a escola particular não é melhor,<br />

mas que o seu ensino é “adequado” a uma determina<strong>da</strong><br />

classe social. Assim, a baixa quali<strong>da</strong>de<br />

<strong>da</strong> escola pública, entre outras questões,<br />

decorre do fato de ela não se a<strong>da</strong>ptar à classe<br />

social que a freqüenta, majoritariamente, as classes<br />

populares. Diante disso, justificam-se muitas<br />

<strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s pelos alunos<br />

<strong>da</strong>s classes minotirárias na sua formação escolar.<br />

A noção de desinteresse dos pais e <strong>da</strong>s crianças<br />

<strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s populares traz a dificul<strong>da</strong>de<br />

em aprender no campo individual e não no social.<br />

Não se questiona, por exemplo, sobre o<br />

fato de que os conhecimentos que a escola valoriza<br />

não fazem parte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de cotidiana<br />

dessas crianças; ao contrário, nega-se a sua<br />

reali<strong>da</strong>de, objetivando inculcar-lhes outros conhecimentos<br />

considerados singulares e ver<strong>da</strong>deiros.<br />

É necessário olhar com maior atenção<br />

a esse desinteresse <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s populares à<br />

escola. Régine Sirota (1994) contribui nesse<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 55-77, jan./jun., 2006<br />

Ilma Maria Fernandes Soares; Bernadete de Souza Porto<br />

sentido, ao expressar que a frágil participação<br />

de crianças de classes populares na escola não<br />

significa desinteresse ou desinvestimento em<br />

relação à escola primária, mas uma atitude reativa<br />

de defesa diante de uma situação contraditória.<br />

(p. 106)<br />

Essa desvalorização <strong>da</strong> escola também é<br />

senti<strong>da</strong> pelas professoras, em cuja avaliação as<br />

crianças não se comportam como deveriam.<br />

Esse problema, no entanto, se agrava, ain<strong>da</strong><br />

mais, porque existe nesses profissionais a convicção<br />

de os alunos têm que ficar quietos.<br />

Essa crença é tão presente que foi manifesta<br />

por to<strong>da</strong>s as professoras, com exceção de Mariazinha.<br />

Iniciarei a discussão dessa crença abor<strong>da</strong>ndo<br />

o papel passivo <strong>da</strong>s crianças de forma mais<br />

geral e demonstrarei como essa crença se manifesta<br />

frente à vivência lúdica na escola. Considero<br />

interessante trazer nessa seção uma fala<br />

<strong>da</strong> Professora Margari<strong>da</strong>, em que esta convicção<br />

aparece com muita clareza:<br />

Não sei se é porque eu cobro muito de mim, eu<br />

acho que eu deveria ter uma aula assim, com<br />

todos alunos sentadinhos, ninguém levantasse,<br />

ficassem só ouvindo. Eu acho que eu sou<br />

incapaz de dominar a classe, me sinto fraca,<br />

apesar de que eu vejo que às vezes..., eu vejo<br />

que a falha não é minha, sabe, mas eu queria<br />

ter uns alunos sentadinhos, bonitinhos pra tudo<br />

que eu pudesse ensinar, sem dificul<strong>da</strong>des.<br />

Com a crença tão arraiga<strong>da</strong> de que os estu<strong>da</strong>ntes<br />

têm que assumir atitude passiva, não é<br />

difícil perceber que as ativi<strong>da</strong>des lúdicas na escola<br />

e, em especial, na sala de aula, estão ausentes,<br />

mas, quando são utiliza<strong>da</strong>s, são<br />

escolhi<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des em que requeiram um<br />

mínimo de movimento por parte <strong>da</strong>s crianças.<br />

Mais uma vez, usando como exemplo a fala <strong>da</strong><br />

Professora Margari<strong>da</strong>, quero assinalar que a<br />

presença <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de em sala de aula tem<br />

relação direta com a nossa compreensão, saberes<br />

e crenças sobre a criança:<br />

Deixo. Eles brincam muito, às vezes quando eu<br />

chego eu dou um tempinho pra eles conversarem,<br />

botar os assuntos em dia, principalmente,<br />

segun<strong>da</strong>-feira. Agora, sem correrem, para evitar<br />

está correndo e se baterem um no outro.<br />

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