Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Século XXI: o jogo necessário para o aprendizado e para o mundo do trabalho<br />
logo em segui<strong>da</strong>, decepciona-se ao perceber que<br />
o seio <strong>da</strong> mãe não é ele, e por isso, ele busca<br />
suportar a reali<strong>da</strong>de por meio <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de –<br />
repete-se na relação estabeleci<strong>da</strong> entre o ser<br />
humano e a disputa que trava consigo mesmo<br />
para definir o que é “reali<strong>da</strong>de interior” e o que<br />
é “reali<strong>da</strong>de exterior” ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. E, sendo<br />
assim, para que este ser humano não sucumba,<br />
obviamente, faz-se mister criar.<br />
Neste sentido, percebe-se que o “objeto transicional”<br />
antecede a função simbólica que virá<br />
quando a criança já puder distinguir entre fantasia<br />
e objetivi<strong>da</strong>de. Enquanto brinca na transicionali<strong>da</strong>de,<br />
a criança repousa <strong>da</strong> árdua e<br />
incessante tarefa de ter que discriminar a reali<strong>da</strong>de<br />
interna <strong>da</strong> externa, isto porque, o “objeto<br />
transicional” “é oriundo do exterior, segundo<br />
nosso ponto de vista, mas não o é, segundo o<br />
ponto de vista do bebê. Tampouco provém de<br />
dentro; não é uma alucinação” (WINNICOTT,<br />
1988, p. 18).<br />
Dito de outro modo, o “objeto transicional”,<br />
fruto e berço <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de, tem como função<br />
preencher o vazio produzido pela ausência do<br />
corpo materno. Ou seja, ele é constituído para<br />
evocar a união perdi<strong>da</strong> com a mãe e re-significar<br />
a ausência materna. Destacamos que, ao<br />
longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de estudos de Winnicott, observa-se<br />
que, muito rapi<strong>da</strong>mente, o “objeto transicional”<br />
será mais importante do que o objeto<br />
originário. Isto é, com ele a criança poderá suportar<br />
a espera pelo reencontro sem se desesperar,<br />
e ain<strong>da</strong>, explorará os limites ao testar a<br />
durabili<strong>da</strong>de do mundo, ou ain<strong>da</strong>, nas palavras<br />
de Winnicott “(...) a criança fica com a ilusão<br />
de que o mundo pode ser criado e de que o que<br />
é criado é o mundo” (1994, p. 44).<br />
Do nosso ponto de vista, conforme assinalamos<br />
acima, a angústia vivencia<strong>da</strong> pela criança,<br />
desde o momento do nascimento, é também<br />
vivencia<strong>da</strong> pelo jovem e pelo adulto. Dito de<br />
outro modo, esta necessi<strong>da</strong>de de encontrar substitutos<br />
para o que realmente se deseja e o quê e<br />
quando, de modo incerto, se poderá ter, exige<br />
que nos mantenhamos nesta ilusão saudável,<br />
aspecto constituinte <strong>da</strong> essência humana.<br />
Sendo assim, na próxima parte deste artigo,<br />
trataremos, especificamente, <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de<br />
46<br />
viver “fenômenos transicionais” entendidos por<br />
Winnicott (2001, 1994, 1990, 1988) como o “jogar”,<br />
o “brincar”. E neste sentido os sujeitos de<br />
nosso interesse serão os adultos e a obrigatorie<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> permanência no mundo do trabalho<br />
para a própria sobrevivência.<br />
Apenas para adiantar o posicionamento que<br />
aqui defenderemos, procuraremos demonstrar<br />
que há a possibili<strong>da</strong>de de que as relações de<br />
trabalho sejam entendi<strong>da</strong>s na perspectiva do<br />
“jogo”, <strong>da</strong> existência de “objetos transicionais”<br />
e, por isso, podem tornam-se salutares, além de<br />
promoverem e acolherem a “criativi<strong>da</strong>de”.<br />
Vejamos, primeiramente, os significados que<br />
a palavra “criativi<strong>da</strong>de” pode ter e como ela<br />
auxilia na reflexão do conceito winnicottiano de<br />
“espaço potencial”, terreno cuja natureza é o<br />
jogo, de fronteiras indetermina<strong>da</strong>s, que compõe<br />
a nossa reali<strong>da</strong>de.<br />
Criativi<strong>da</strong>de e mundo do trabalho:<br />
algumas considerações<br />
Conforme falávamos, a zona psíquica que<br />
intermedeia a reali<strong>da</strong>de exterior e a interior é a<br />
matriz <strong>da</strong> experiência cultural, a qual Winnicott<br />
(2001, 1994, 1990, 1988) denomina “espaço<br />
potencial”. Segundo o referido autor, a atenção<br />
de diferentes estudiosos tem focalizado as reali<strong>da</strong>des<br />
psíquica, pessoal e interna do sujeito de<br />
modo parcial. Conseqüência desta lacuna é o<br />
fato de que a experiência cultural não encontrou<br />
seu ver<strong>da</strong>deiro lugar nas teorias utiliza<strong>da</strong>s<br />
pelos analistas em seus trabalhos. Justamente<br />
neste vazio, a obra de Winnicott floresce, pois<br />
ele se preocupa intensamente com o espaço <strong>da</strong><br />
produção <strong>da</strong> cultura para Winnicott ou ain<strong>da</strong> o<br />
“espaço <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong>de”.<br />
Criativi<strong>da</strong>de, neste contexto, é um conceito<br />
de difícil definição, pois, por mais que se tente<br />
delimitá-lo, ele ain<strong>da</strong> parece incompleto em contato<br />
com as múltiplas dimensões humanas.<br />
Ao longo de sua obra, Ostrower (1990) apresenta<br />
a criativi<strong>da</strong>de como geração <strong>da</strong> cultura e<br />
corrobora, do nosso ponto de vista, com a proposta<br />
winnicottiana. Para ela, a composição de<br />
novos arranjos de idéias já conhecidos, que de-<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 43-53, jan./jun., 2006