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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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Se der a gente brinca: crenças <strong>da</strong>s professoras sobre ludici<strong>da</strong>de e ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />

Assim, optar por continuar com um trabalho tradicionalista<br />

é mais tranqüilo e fácil, pois não<br />

mexe com seu sistema de crenças.<br />

Como contribuição teórica no campo <strong>da</strong>s<br />

crenças, penso ter esse estudo concorrido no<br />

sentido de aju<strong>da</strong>r a esclarecer o seu conceito,<br />

no sentido de que, ao analisar as crenças <strong>da</strong>s<br />

professoras, três características podem aju<strong>da</strong>r<br />

na compreensão e delimitação desse campo de<br />

estudo. São elas:<br />

a) As crenças que os/as professores formulam<br />

sobre o processo pe<strong>da</strong>gógico não se<br />

separam <strong>da</strong>s questões pessoais, mas a elas<br />

se misturam, pois suas convicções são frutos<br />

<strong>da</strong>s vivências pessoais e profissionais.<br />

Dessa forma, considero que as crenças, assim<br />

como os saberes dos/as professores/as,<br />

como argumenta Maurice Tardif (2002), são<br />

existenciais, no sentido de que são constituí<strong>da</strong>s<br />

a partir do que se acumulou em termos de<br />

experiência de vi<strong>da</strong> e foram elabora<strong>da</strong>s a partir<br />

<strong>da</strong> sua forma de sentir, pensar e atuar no/sobre<br />

o mundo.<br />

Acredito, também, que a identi<strong>da</strong>de pessoal<br />

do/a professor/a se encontra perpassa<strong>da</strong> pelas<br />

suas vivências profissionais. Nesse sentido,<br />

considero relevante citar, como exemplo principal<br />

dessa constatação, a atitude <strong>da</strong> Professora<br />

Mariazinha, que, conforme ela mesma<br />

demarca, a sua relação com a docência é permea<strong>da</strong><br />

pela experiência de ser mãe de uma criança<br />

especial. Percebi que, em relação a essa<br />

professora, o seu interesse em se conhecer, a<br />

ela possibilita maior abertura em buscar conhecer<br />

os alunos, como seres diferentes, nem por<br />

isso com menor valor.<br />

b) As crenças são pensa<strong>da</strong>s a partir de<br />

uma interpretação parcial <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, mas<br />

são usa<strong>da</strong>s para explicar genericamente diferentes<br />

situações, sem um conhecimento mais<br />

sistematizado do fato.<br />

Essa segun<strong>da</strong> característica diz respeito ao<br />

caráter de generalização <strong>da</strong>s crenças. Essa proprie<strong>da</strong>de<br />

ocorre diante <strong>da</strong> interpretação que<br />

generaliza algo contingente, que pode ter ocorrido<br />

somente uma vez. Essa característica é<br />

resultante do fato de que as convicções naturalizam<br />

o que parece estranho, o que, de alguma<br />

74<br />

forma, está associado à característica <strong>da</strong> segurança<br />

que as crenças nos proporcionam.<br />

Essa generalização ocorre pelo aspecto pragmatista<br />

<strong>da</strong>s convicções, que busca controlar<br />

diferentes setores sem maior compreensão dos<br />

porquês, que podem ser heterogêneos. Os principais<br />

elementos <strong>da</strong> pesquisa ,que me fizeram<br />

perceber essa característica foram o posicionamento<br />

generalizado <strong>da</strong>s professoras, por<br />

exemplo, em relação às crianças e seus membros<br />

familiares; a função <strong>da</strong> escola; as convicções<br />

sobre o trabalho docente, à ludici<strong>da</strong>de e<br />

às ativi<strong>da</strong>des lúdicas. Tal generalização, diante<br />

de um comportamento, fato ou experiência, por<br />

exemplo, torna-se visível, quando se utiliza termos,<br />

como todos e nunca. Essa marca <strong>da</strong>s crenças<br />

é perigosa, porque pode nos levar a enganos,<br />

diante <strong>da</strong> questão de que a interpretação de um<br />

recorte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de não é a ver<strong>da</strong>de em si, pois<br />

é um conhecimento parcial. Além do mais, não<br />

se reflete sobre as causas, nem tampouco sobre<br />

os efeitos dessa generalização, o que faz<br />

gerar a característica seguinte.<br />

c) As crenças influenciam na criação de<br />

estereótipos.<br />

Esse aspecto, extremamente ligado à generalização,<br />

demonstra a dimensão ideológica <strong>da</strong>s<br />

crenças, pois a estereotipação é decorrente de<br />

um conhecimento sem maior fun<strong>da</strong>mentação e<br />

análise. Desse modo, perpetuam-se compreensões<br />

e comportamentos que, muitas vezes, limitam<br />

ou desvirtuam determinado objeto, sujeito<br />

e práticas.<br />

A pesquisa demonstrou mais fortemente os<br />

estereótipos <strong>da</strong>s convicções <strong>da</strong>s professoras<br />

quando essas se referiam aos alunos e famílias<br />

<strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s populares, na relação educandoeducador<br />

e também em relação à ludici<strong>da</strong>de e<br />

às ativi<strong>da</strong>des lúdicas. Essas crenças encontramse<br />

permea<strong>da</strong>s por idéias negativas e/ou fecha<strong>da</strong>s,<br />

sendo que, muitas vezes, são desprovi<strong>da</strong>s<br />

do conhecimento real dessas questões. Mesmo<br />

sem esse conhecimento mais aprofun<strong>da</strong>do, essas<br />

convicções se multiplicam, exercendo forte<br />

poder na prática pe<strong>da</strong>gógica dessas professoras<br />

no momento em que norteiam o trabalho<br />

que elas realizam como se fossem a “própria<br />

reali<strong>da</strong>de”. No sentido <strong>da</strong> vivência lúdica, cito,<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 55-77, jan./jun., 2006

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