Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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QUEIROZ, Delcele Mascarenhas. Universi<strong>da</strong>de e desigual<strong>da</strong>de: brancos e negros<br />
no ensino superior. Salvador: Líber Livro, 2004. 167 p.<br />
268<br />
Ações Afirmativas, Ensino Superior e Políticas Públicas<br />
Jocélio Teles dos Santos *<br />
QUEIROZ, Delcele Mascarenhas. University and Inequality: Whites and<br />
Blacks in Superior Education. Salvador: Líber Livro, 2004. 167 p.<br />
Nos últimos meses a Universi<strong>da</strong>de Federal<br />
<strong>da</strong> Bahia vive uma experiência inédita. O sistema<br />
de cotas implantado provocou reações<br />
diversas que podem ser vistas na imprensa,<br />
seja em matérias sobre as ações judiciais ou<br />
em cartas dos leitores. Vários são os argumentos<br />
utilizados para a defesa ou a crítica à<br />
adoção <strong>da</strong>s ações afirmativas. Um deles é o<br />
percentual que a UFBA reservou para os alunos<br />
oriundos <strong>da</strong> escola pública: 43%. Esse<br />
questionamento aparece na própria universi<strong>da</strong>de<br />
ou em debates que se multiplicam em<br />
várias ci<strong>da</strong>des do país. Qual foi o critério lógico<br />
para tal reserva de vagas? A resposta se<br />
encontra no livro recém-publicado, Universi<strong>da</strong>de<br />
e Desigual<strong>da</strong>de. Brancos e Negros no<br />
Ensino Superior, de Delcele Mascarenhas<br />
Queiroz, professora <strong>da</strong> <strong>Uneb</strong>. Em 1997, o Programa<br />
A Cor <strong>da</strong> Bahia <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Filosofia<br />
e Ciências Humanas apoiou uma pesquisa<br />
proposta por Delcele Queiroz.<br />
Tratava-se de uma incursão inédita: um levantamento<br />
sobre a distribuição dos alunos em<br />
termos de cor, gênero, escolari<strong>da</strong>de dos pais,<br />
ren<strong>da</strong> familiar. Até aquele ano, vários eram os<br />
estudos no país sobre desigual<strong>da</strong>des raciais em<br />
espaços como o mercado de trabalho. Mas, não<br />
havia um desenvolvimento sistemático de algo<br />
similar com relação à educação superior. Havia,<br />
com certeza, muito impressionismo, ou o<br />
popular “achismo”. A razão era que o quesito<br />
cor não existia nos formulários de inscrição para<br />
o vestibular em nenhuma universi<strong>da</strong>de do país.<br />
A realização <strong>da</strong> pesquisa provocou reações<br />
<strong>da</strong>s mais diversas, desde o questionamento de<br />
pais, estu<strong>da</strong>ntes, professores e a administração<br />
central <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de sobre a necessi<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> resposta a uma pergunta que é similar ao<br />
que respondemos no censo demográfico. Lembro-me<br />
de reações em programas de televisão<br />
e rádio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de do Salvador como, por exemplo,<br />
“Eu acho que não tem na<strong>da</strong> a ver!”, “Se a<br />
UFBA quer saber a cor é por que quer discriminar.”<br />
A pesquisa realiza<strong>da</strong> por Delcele Queiroz<br />
na UFBA se estendeu, em 2000, para outras<br />
instituições públicas do país como a UFRJ,<br />
UFPR, UnB e UFMA, assim como as reações<br />
à inclusão do quesito cor nos formulários <strong>da</strong>s<br />
universi<strong>da</strong>des. Se, naquele período, não se falava<br />
em sistema de cotas no país, por outro lado<br />
um levantamento científico acerca <strong>da</strong> distribuição<br />
dos alunos por cursos de prestígio (Medicina,<br />
Engenharias, Odontologia, Direito, Comunicação-Jornalismo)<br />
nas universi<strong>da</strong>des indicava<br />
o secular dilema brasileiro: a possibili<strong>da</strong>de de<br />
inclusão de negros em espaços de prestígio indicava,<br />
de imediato, a sensação de incômodo,<br />
quando não de tergiversações.<br />
A pesquisa realiza<strong>da</strong> na UFBA deu como<br />
resultado a elaboração <strong>da</strong> tese de doutorado e,<br />
* Professor do Depto. de Antropologia e Diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais <strong>da</strong> UFBA. Endereço para<br />
correspondência: Rua Carlos Conceição, 42, Residencial Praia de Buraquinho, Casa 7 E, Buraquinho – 42700-000<br />
Lauro de Freitas-Bahia - CEP – E-mail: jocelio@ufba.br<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 268-269, jan./jun., 2006