Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Eclipse do Lúdico<br />
Para Cipriano Luckesi (2004), o conceito de<br />
ludici<strong>da</strong>de se expande para além <strong>da</strong> idéia de<br />
lazer restrito à experiência externa, ampliando<br />
a compreensão para um estado de consciência<br />
pleno e experiência interna. Segundo o autor:<br />
18<br />
... quando estamos definindo ludici<strong>da</strong>de como<br />
um estado de consciência, onde se dá uma experiência<br />
em estado de plenitude, não estamos falando,<br />
em si <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des objetivas que podem<br />
ser descritas sociológica e culturalmente como<br />
ativi<strong>da</strong>de lúdica, como jogos ou coisa semelhante.<br />
Estamos, sim, falando do estado interno do<br />
sujeito que vivencia a experiência lúdica. Mesmo<br />
quando o sujeito está vivenciando essa experiência<br />
com outros, a ludici<strong>da</strong>de é interna; a<br />
partilha e a convivência poderão oferecer-lhe, e<br />
certamente oferecem, sensações do prazer <strong>da</strong><br />
convivência, mas, ain<strong>da</strong> assim, essa sensação é<br />
interna de ca<strong>da</strong> um, ain<strong>da</strong> que o grupo possa<br />
harmonizar-se nessa sensação comum; porém um<br />
grupo, como grupo, não sente, mas soma e engloba<br />
um sentimento que se torna comum; porém,<br />
em última instância, quem sente é o sujeito.<br />
(LUCKESI, 2005, p. 6). 2<br />
Neste sentido, o conceito do que é lúdico<br />
repousa sobre a idéia do prazer que reside no<br />
que se faz, como disse, há pouco tempo, o jornalista<br />
Ruy Castro: “O prazer não está em dedicar<br />
um tempo programado para o ócio. O<br />
prazer é residente. Está dentro de nós, na maneira<br />
como a gente se relaciona com o mundo”.<br />
O conceito defendido atravessa, pois, essa<br />
idéia <strong>da</strong> permanência no jogo, no sentir prazer<br />
e inteireza naquilo que se faz.<br />
Na escola, entretanto, essa dimensão tão<br />
natural aos seres humanos e a outros animais<br />
parece bastante descola<strong>da</strong> <strong>da</strong>s práticas cotidianas.<br />
Em seu mais recente livro, Maturana e<br />
Verden-Zoller (2004) sustentam, inclusive, que<br />
o amar e o brincar são fun<strong>da</strong>mentos esquecidos<br />
do humano e, contraditoriamente, estruturantes<br />
deste. Isto posto, cabe in<strong>da</strong>garmos acerca<br />
do espaço que a escola tem deixado para o brincar:<br />
De que maneira a ludici<strong>da</strong>de se faz presente<br />
ali? O que entendemos por ensino lúdico?<br />
Em primeiro lugar precisamos diferenciar<br />
ludici<strong>da</strong>de de ativi<strong>da</strong>de lúdica: o centro <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de,<br />
segundo a concepção que defendemos<br />
aqui, reside no que se vivencia de forma plena<br />
em ca<strong>da</strong> momento. Ou seja, no ensino lúdico,<br />
significa ensinar um <strong>da</strong>do objeto de conhecimento<br />
na <strong>da</strong>nça <strong>da</strong> dialética entre focalização<br />
e ampliação do olhar. Sem perder o foco do<br />
trabalho, entregar-se a ele. Muitas experiências<br />
de ensino em que se entremeiam ativi<strong>da</strong>des<br />
lúdicas deixam margem para uma dicotomia<br />
entre conteúdo curricular e ludici<strong>da</strong>de. A realização<br />
de ativi<strong>da</strong>des lúdicas na sala de aula não<br />
significa dizer que se está ensinando ludicamente,<br />
se este elemento aparece como acessório.<br />
O ensino lúdico é aquele em que se inserem<br />
conteúdos, métodos criativos e o enlevo em se<br />
ensinar e, principalmente, aprender. A esse propósito,<br />
Luckesi acentua:<br />
A metáfora criativa pode ser utiliza<strong>da</strong> dentro <strong>da</strong><br />
área de conhecimento com a qual trabalhamos<br />
ou fora dela. Proponho que um “ensino lúdico”<br />
deva servir-se <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s metáforas<br />
criativas dentro do foco <strong>da</strong> disciplina com a qual<br />
trabalhamos e não fora dela. O ensino lúdico, a<br />
meu ver, permite a nós e aos nossos educandos<br />
olhar os conteúdos que estamos estu<strong>da</strong>ndo com<br />
um “pescoço flexível”, que pode olhar o objeto<br />
de investigação e compreensão de diversos ângulos,<br />
mas sem suprimir ou escurecer o objeto<br />
de investigação. Ele é o mediador <strong>da</strong> investigação<br />
entre os sujeitos; o foco de atenção de educador<br />
e educandos está sobre esse objeto e<br />
trocam experiências a partir dele. A <strong>da</strong>nça em<br />
torno dele é que é lúdica e criativa. (LUCKESI,<br />
2005). 3<br />
A metáfora criativa a que chama atenção<br />
Cipriano seria, nessa perspectiva, a mola mestra<br />
de um ensino realmente lúdico – uma prática<br />
de ensino onde quem ensina e quem aprende<br />
se encontram enlevados na realização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des,<br />
mesmo que a aula seja no mais puro e<br />
bom estilo expositivo. Com isso não se está<br />
querendo dizer que as aulas expositivas sejam<br />
lúdicas por si só. To<strong>da</strong> e qualquer aula é lúdica<br />
na medi<strong>da</strong> em que professor e estu<strong>da</strong>ntes se<br />
encontrem prazerosamente integrados e focados<br />
no conteúdo que se tem a trabalhar. Seria<br />
2 Disponível em www.luckesi.com.br. Acesso em: 18 fev.<br />
2006.<br />
3 Conteúdo de mensagem eletrônica envia<strong>da</strong> ao Grupo de<br />
Estudos e Pesquisas sobre <strong>Educação</strong> e Ludici<strong>da</strong>de - GEPEL –<br />
<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia, no ano de 2005.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 15-25, jan./jun., 2006