Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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Século XXI: o jogo necessário para o aprendizado e para o mundo do trabalho<br />
em silêncio e trabalhar” (DE MASI, 2000, p.<br />
51 e 52). “A encíclica deixa claro, desde o começo,<br />
que a proprie<strong>da</strong>de priva<strong>da</strong> é direito natural<br />
– logo divino. E o faz com o seguinte<br />
raciocínio abstruso: como os animais têm o direito<br />
de usar as coisas, mas não de possuí-las, o<br />
homem que é superior aos animais, deve ter<br />
um direito a mais. Por conseguinte, o direito à<br />
proprie<strong>da</strong>de” (DE MASI, 2000, p. 53). E ain<strong>da</strong>:<br />
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...a Igreja compreende que a indústria é sua inimiga:<br />
porque racionaliza o mundo, substitui a<br />
magia pela ciência e raciocínio, torna vã a fé na<br />
vi<strong>da</strong> depois <strong>da</strong> morte com a confiança no progresso.<br />
E o papa adverte para o perigo de que as<br />
classes pobres preten<strong>da</strong>m enriquecer. Quanto<br />
menor for o número de pobres, menor será o<br />
número de fiéis com o qual a Igreja poderá contar.<br />
(DE MASI, 2000, p. 55).<br />
A seguinte passagem bíblica, destaca<strong>da</strong> por<br />
De Masi na obra a que nos referimos, é muito<br />
significativa também: “Depois do pecado, o homem<br />
deveria trabalhar para expiar o pecado: a<br />
terra será maldita por sua causa; é pelo trabalho<br />
que tirarás com que alimentar-te todos os<br />
dias <strong>da</strong> tua vi<strong>da</strong>” (DE MASI, 2000, p. 54).<br />
Ou seja, a Igreja Católica tem pregado, durante<br />
séculos, que o dever do rico é <strong>da</strong>r a ca<strong>da</strong><br />
um o salário que este merece e ser caridoso.<br />
Com a difusão e defesa destas normas, induz o<br />
ser humano à passivi<strong>da</strong>de e não promove a criativi<strong>da</strong>de,<br />
o jogo e, finalmente, a cultura.<br />
Mesmo não sendo o foco deste artigo, fazse<br />
interessante notar que a ética protestante,<br />
sobretudo a calvinista, condiciona o trabalho à<br />
salvação e, assim, é muito mais rígi<strong>da</strong> do que a<br />
ética católica.<br />
Na prática isto significa que Deus aju<strong>da</strong> quem se<br />
aju<strong>da</strong>. Assim, o calvinista, como às vezes se percebe,<br />
criava sua própria salvação ou, como seria<br />
mais correto, a convicção disto. Esta criação,<br />
to<strong>da</strong>via, não podia como no Catolicismo constituir-se<br />
no acúmulo gradual de boas obras isola<strong>da</strong>s<br />
a crédito de alguém, mas, muito mais, em<br />
sistemático autocontrole que a qualquer momento<br />
se via ante a inexorável alternativa: escolhido<br />
ou condenado” (WEBER, 1987, p.80).<br />
Entretanto, hoje conforme anunciamos acima,<br />
a possibili<strong>da</strong>de real do tele-trabalho – que<br />
pode ser feito em to<strong>da</strong> a parte, inclusive em<br />
casa – fará com que os trabalhadores, homens<br />
e mulheres, possam ter uma maior autonomia<br />
no que diz respeito ao uso do seu tempo.<br />
Além desta maior autonomia, na antiga socie<strong>da</strong>de<br />
industrial, a formação se <strong>da</strong>va de uma<br />
vez só na vi<strong>da</strong> e esta servia até a aposentadoria<br />
do trabalhador. Hoje, porém, século XXI, a formação<br />
é contínua, sendo que um dos fatores<br />
que influencia nesta necessi<strong>da</strong>de é o aumento<br />
<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> média <strong>da</strong> população.<br />
Segundo De Masi (2000), na segun<strong>da</strong> metade<br />
do século XIX, a vi<strong>da</strong> média dos homens<br />
era de trinta e quatro anos, e, <strong>da</strong>s mulheres,<br />
trinta e cinco anos: menos <strong>da</strong> metade <strong>da</strong> atual<br />
expectativa de vi<strong>da</strong> do brasileiro que, diga-se<br />
passagem, não é “bom” exemplo neste sentido.<br />
Temos que, hoje, um grupo privilegiado de<br />
pessoas pode passar dos setenta anos de vi<strong>da</strong><br />
em alguns locais do planeta. Nestas “instituições<br />
escolares”, estas pessoas passarão mais<br />
<strong>da</strong> metade <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> na escola e no processo<br />
de trabalho. Conseqüência outra destes “novos<br />
tempos” é o novo significado atribuído à velhice<br />
que, segundo De Masi (2000) passa a ser<br />
considera<strong>da</strong> como o último período <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de<br />
uma pessoa, quando pela fatali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> doença<br />
ela perdeu a vitali<strong>da</strong>de que possuía e, portanto,<br />
tal situação independe <strong>da</strong> faixa etária.<br />
Desta maneira, em total consonância com a<br />
perspectiva de De Masi (2000), defendemos<br />
que se trabalhar significa também estu<strong>da</strong>r, e se<br />
esta junção contiver a satisfação deriva<strong>da</strong> do<br />
ato de aprender, o ócio criativo é o modo de<br />
vi<strong>da</strong> mais saudável para estes nossos tempos.<br />
Afirmamos que os procedimentos burocráticos<br />
que impedem a realização de ativi<strong>da</strong>des<br />
criativas precisam ser enfraquecidos <strong>da</strong>s instituições<br />
escolares e de trabalho, mesmo porque<br />
aqueles que a elas se encontram presos, no<br />
mundo atual, cuja ativi<strong>da</strong>de crescente é a prestação<br />
de serviços, não obterão os melhores resultados.<br />
Vejam a seguinte passagem do sociólogo<br />
italiano:<br />
Em primeiro lugar, a passagem <strong>da</strong> produção de<br />
bens à produção de serviços. Em segundo, a<br />
crescente importância <strong>da</strong> classe de profissionais<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 43-53, jan./jun., 2006