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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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A valorização <strong>da</strong>s manifestações culturais<br />

<strong>da</strong>s várias locali<strong>da</strong>des, o respeito à diversi<strong>da</strong>de,<br />

o diálogo intercultural e o trabalho com a arte<br />

como eixo dos processos pe<strong>da</strong>gógicos pelo desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia formam as diretrizes/princípios<br />

fun<strong>da</strong>mentais que nortearam<br />

estas ações. Neste sentido, o MIAC, segundo<br />

Fernandes (2005, p. 192):<br />

... defende uma escola “fora do lugar”, isto é,<br />

uma escola em que os conteúdos, como raios de<br />

um círculo misterioso, atinjam to<strong>da</strong>s as partes<br />

do mundo social, mas cujo centro apresenta-se<br />

em lugar algum. Uma escola que interaja e inclua<br />

a reali<strong>da</strong>de cotidiana em seus aprendizados, que<br />

construa esse novo caminho em parceria com os<br />

jovens e outros educadores <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dã.<br />

Esta escola “fora do lugar” potencializa<br />

aprendizagens e descobertas, como esta narra<strong>da</strong><br />

por uma educadora:<br />

Descobri uma coisa lin<strong>da</strong>! Que expresso em meu<br />

artesanato uma coisa basea<strong>da</strong> na cultura local,<br />

na cultura de origem de remanescente do Quilombo<br />

Oca do Tatu. Você sabia que Sete de Abril<br />

foi um quilombo? (Faço sinal com a cabeça que<br />

não). Se chamava Oca do Tatu, ou Buraco do<br />

Tatu, um destes nomes. No meu xadrez de sucata<br />

faço figuras que representam a cultura africana<br />

deste quilombo. Inclusive já fiz exposição no<br />

Caldeirão do MIAC <strong>da</strong> Boca do Rio; é uma marca<br />

importante pra mim. Esse Caldeirão se chamou<br />

Seu Terno, Meu Peixe ... A Isca, Nossa Rede.<br />

(Educadora E – MARINALVA GÓES)<br />

Segundo Fernandes (2005), há no MIAC:<br />

... intencionali<strong>da</strong>de de mostrar aos jovens que a<br />

tradição, com base na memória e na História, é<br />

constituidora de suas experiências, vivi<strong>da</strong>s hoje<br />

em termos socioculturais. E que o “futuro” pode<br />

ser construído hermeneuticamente com os “pés”<br />

fincados na diversi<strong>da</strong>de cultural, sem utilizarmos<br />

um único “modelo sociocultural” como parâmetro<br />

de desenvolvimento humano. (FERNANDES,<br />

2005, p. 184)<br />

Esta intencionali<strong>da</strong>de, no entanto, adverte<br />

Fernandes (2005), não é utiliza<strong>da</strong> para afirmar<br />

“uma identi<strong>da</strong>de fixa, ou um retorno idílico ao<br />

passado, mas sim para reconstruir a história<br />

pessoal dessas crianças e jovens (...). No momento<br />

em que lhes mostra que também têm<br />

cultura e história, o MIAC resgata a auto-esti-<br />

Izabel Dantas de Menezes<br />

ma promovendo o reencantamento comunitário”<br />

(p.184).<br />

Há, portanto, neste sujeito que experimenta<br />

a arte, uma possibili<strong>da</strong>de de exercitar a reflexão<br />

acerca <strong>da</strong>s suas histórias; reconhecer as<br />

suas identi<strong>da</strong>des em contato com a cultura local;<br />

valorizar o seu lugar, suas origens; e, possivelmente,<br />

ressignificar a sua história e a história<br />

<strong>da</strong> sua comuni<strong>da</strong>de. Este processo é possível<br />

pela revitalização sensível <strong>da</strong> auto-estima, que<br />

tem na soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, no amor, no respeito e na<br />

esperança seus eixos (FREIRE, 1981, p. 34).<br />

Quem acredita nisto é a educadora do MIAC,<br />

quando diz que o espaço <strong>da</strong> escola formal deveria<br />

assumir, com to<strong>da</strong> a radicali<strong>da</strong>de e critici<strong>da</strong>de,<br />

a magia <strong>da</strong> educação pelo e para o afeto,<br />

e mais o amor:<br />

A riqueza desse debate precisa ser salienta<strong>da</strong>; é<br />

de extrema importância estarmos aqui com tanta<br />

gente nova no movimento discutindo sobre arte<br />

e mobilização cultural, identi<strong>da</strong>de racial, cultural,<br />

e a inserção dessas temáticas nos diversos<br />

espaços de educação, no MIAC em particular, é<br />

despertar sempre a possibili<strong>da</strong>de de novos olhares,<br />

é poder se perceber e perceber o outro, é a<br />

ampliação de horizontes e a necessi<strong>da</strong>de de sermos<br />

pró-ativos, chegarmos ao momento de não<br />

podermos mais ficar parados física e intelectualmente<br />

(...) olhar que lançamos sobre nós mesmos;<br />

precisamos estar todo o tempo revendo e<br />

reformulando os nossos conceitos, entendendo<br />

que estamos num processo de formação contínua.<br />

Essa é a mágica de se colocar enquanto<br />

aprendente, inclusive exercitando e aprimorando<br />

a educação sentimental, valorizando o afeto,<br />

o carinho, as relações interpessoais, saber <strong>da</strong><br />

importância de recuperar o valor do amor entre<br />

as pessoas. (Educadora B – ANA CLÁUDIA, 5ª<br />

ro<strong>da</strong>, 29/05/04)<br />

Duarte Jr (2001) discute também em seu<br />

livro O sentido dos sentidos: a educação do<br />

sensível sobre essa educação dos sentimentos,<br />

a que Ana Cláudia se refere de forma legítima<br />

e comprometi<strong>da</strong> com este valor. Este autor, recuperando<br />

uma idéia de Horkheimer (apud<br />

DUARTE JR., p. 15) de que a “razão não basta<br />

para defender a razão”, traça uma crítica<br />

contundente e oportuna à hegemonia de um tipo<br />

de conhecimento centrado na razão pura que<br />

hipertrofia e desconsidera o saber sensível, cau-<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 185-200, jan./jun., 2006 197

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