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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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Uma escola de música e artes brasileiras na Bahia<br />

povo. As artes e culturas locais <strong>da</strong>s muitas regiões<br />

brasileiras com suas expressões e produções<br />

tão diversifica<strong>da</strong>s e complexas podem<br />

oferecer mais um caminho para a compreensão<br />

e a construção de uma, ou melhor, várias<br />

identi<strong>da</strong>des brasileiras que não precisam copiar<br />

modelos idealizados e aplicados em outros<br />

contextos culturais. <strong>Educação</strong> e produção cultural<br />

com arte e cultura popular, também não<br />

significa de buscar uma estratégia de marketing<br />

ou método para vender seu produto “regionalizado”<br />

com cara de chapéu de palha ou<br />

organizar festas caipiras em escolas e sim<br />

desenvolver pensamentos e ações que integram<br />

valores e conhecimentos artísticos <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de<br />

com os saberes e valores culturais determinados<br />

pela memória oral e o patrimônio<br />

imaterial de um povo e suas regiões, tradições<br />

e reali<strong>da</strong>des distintas.<br />

A essência do projeto “Uma Escola de Música<br />

/ Artes com Cara Nordestina / Brasileira”<br />

seria o trabalho com as expressões artísticas e<br />

identi<strong>da</strong>des culturais regionais valorizando as<br />

sonori<strong>da</strong>des, as corporei<strong>da</strong>des, os conhecimentos<br />

e as práticas est-éticas e po-éticas de populações<br />

negras, indígenas, caboclas, sertanejas<br />

entre outras as quais historicamente não são<br />

inseridos nos espaços pe<strong>da</strong>gógicos formais.<br />

Para modificar essencialmente a estrutura formal<br />

e seus agentes, o sistema educacional (universal)<br />

quanto à educação cultural e estética,<br />

serão necessárias inúmeras experiências (particulares)<br />

em projetos pilotos e formas de ensino-aprendizagem<br />

no campo artístico e informal<br />

com as artes e culturas locais. Vem-me a mente<br />

uma frase de Rubem Alves no prefácio do<br />

livro Fun<strong>da</strong>mentos Estéticos <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> de<br />

J. F. Duarte: “A questão não é incluir a arte na<br />

educação. A questão é repensar a educação<br />

sob a perspectiva <strong>da</strong> Arte. <strong>Educação</strong> como ativi<strong>da</strong>de<br />

estética.” (1997, p.12)<br />

Dessa maneira quero dizer que não é suficiente<br />

a inclusão <strong>da</strong>s artes e culturas locais em<br />

alguns momentos pe<strong>da</strong>gógicos (tipicamente nas<br />

<strong>da</strong>tas comemorativas), seria mais interessante<br />

perceber o que estas artes e culturas têm a<br />

contribuir para to<strong>da</strong>s as expressões e linguagens<br />

artísticas e a forma como elas podem ser<br />

178<br />

(re-)produzi<strong>da</strong>s e transmiti<strong>da</strong>s nos espaços educacionais<br />

específicos num processo contínuo e<br />

não “relâmpago”:<br />

Semple é crítico desse exemplo (“cursos rápidos<br />

sobre as formas artísticas africanas ou indianas”),<br />

argumentando que as formas artísticas não<br />

têm a menor chance de serem realmente contextualiza<strong>da</strong>s<br />

e são trivializa<strong>da</strong>s quando coloca<strong>da</strong>s<br />

fora do currículo normal <strong>da</strong> escola. Sua objeção<br />

mais fun<strong>da</strong>mental a esse modelo, contudo, é que<br />

ele implica que o conhecimento europeu está no<br />

centro <strong>da</strong> filosofia educacional e quaisquer outras<br />

filosofias do mundo têm importância secundária.<br />

Baseado no princípio <strong>da</strong> omissão, isso<br />

implica que há somente um ponto de vista correto.<br />

Semple admite que o modelo de fusão que ela<br />

prefere é idealístico, mas identifica a necessi<strong>da</strong>de<br />

de estabelecer a diversi<strong>da</strong>de cultural como<br />

integrante, não periférica, a educação dominante<br />

<strong>da</strong>s artes.” (MASON, 2001, p. 123)<br />

Mason se refere aqui a uma situação típica<br />

dos Estados Unidos e <strong>da</strong> Europa onde as artes<br />

“étnicas” são aceitas num espaço delimitado e<br />

como experiências “exóticas” mas não são absorvi<strong>da</strong>s<br />

de fato nas estruturas de ensino-aprendizagem,<br />

assim fazendo parte do tronco escolar<br />

comum, uma situação que corre o risco de ser<br />

repetido no Brasil, onde encontramos cursos de<br />

elementos <strong>da</strong> cultura popular ou em projetos<br />

sociais que geralmente trabalham a prática, mas<br />

não os fun<strong>da</strong>mentos teóricos e conceituais ou<br />

então ultimamente em espaços culturais mais<br />

freqüentados pela classe média urbana que tem<br />

um interesse parcial nessa aprendizagem, no<br />

entanto nem sempre conecta estas vivências<br />

num nível mais profundo e transformador.<br />

Na Europa o processo do multiculturalismo<br />

tem sido diferente porque parte <strong>da</strong> idéia de uma<br />

nação com identi<strong>da</strong>de cultural historicamente<br />

construí<strong>da</strong> que nas últimas déca<strong>da</strong>s teve que se<br />

deparar com as minorias culturais dos imigrantes,<br />

oriundo dos mais diversos paises e continentes.<br />

Discursos de “tolerância”, conteúdos e<br />

espaços pe<strong>da</strong>gógicos diferenciados para minorias<br />

étnicas e religiosas não questionaram a<br />

dominância dos valores culturais do ocidente e<br />

nem são mais aceitos pela segun<strong>da</strong> e terceira<br />

geração de imigrantes que querem ter igualmente<br />

acesso à circulação de bens e informações e<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 173-184, jan./jun., 2006

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