Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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O teatro-educação enquanto componente curricular no meio rural: uma experiência na escola comunitária Brilho do Cristal<br />
Caminhando com o Teatro no<br />
Brilho<br />
100<br />
Ninguém educa ninguém,<br />
ninguém educa a si mesmo,<br />
as pessoas se educam entre si,<br />
mediatiza<strong>da</strong>s pelo mundo.<br />
(FREIRE, 1996, p.43)<br />
Este artigo é fruto do segundo capítulo <strong>da</strong><br />
minha dissertação de mestrado intitula<strong>da</strong>: “O<br />
Teatro-<strong>Educação</strong> Enquanto Componente Curricular<br />
no Meio Rural: O caso <strong>da</strong> Escola Comunitária<br />
Brilho do Cristal”, sob a orientação<br />
do Professor Dr. Sérgio Farias, pelo Programa<br />
de Pós-Graduação <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de <strong>Educação</strong><br />
<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia. A Escola<br />
Comunitária Brilho do Cristal fica localiza<strong>da</strong> no<br />
Vale do Capão, Chapa<strong>da</strong> Diamantina - Bahia.<br />
Considerando o contexto de área rural e de<br />
Escola Comunitária que sofre todo o descaso<br />
com o ensino de Teatro por parte <strong>da</strong>s políticas<br />
públicas, é interessante saber como o Teatro-<br />
<strong>Educação</strong> se constituiu enquanto elemento curricular<br />
no Brilho do Cristal, no Vale do Capão,<br />
no período de 1991 a 1997.<br />
O Teatro faz parte <strong>da</strong>s práticas pe<strong>da</strong>gógicas<br />
<strong>da</strong> Brilho do Cristal desde a sua fun<strong>da</strong>ção,<br />
tendo estado presente em todo o processo de<br />
construção <strong>da</strong> Escola como exercício metodológico<br />
experimental. Metodologicamente busquei<br />
trabalhar o Teatro-<strong>Educação</strong> através de<br />
jogos, brincadeiras e processos de improvisações;<br />
tudo isso dentro de uma perspectiva <strong>da</strong><br />
Pe<strong>da</strong>gogia Libertadora, que apresenta o diálogo,<br />
a problematização e a contextualização como<br />
norteadores <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica. Nosso referencial<br />
teórico era composto por Paulo Freire<br />
(1987, 1996), Augusto Boal (1988, 1991),<br />
Paulo Dourado & Mª Eugênia Milet (1984),<br />
Viola Spolin (1992), livros didáticos e revistas<br />
educativas. Tínhamos também um rico referencial<br />
humano, as crianças e as professoras, cheias<br />
de conhecimentos e de boas idéias, prontas<br />
para trocar experiências, num exercício experimental.<br />
Para melhor entender o lugar do Teatro-<strong>Educação</strong><br />
enquanto elemento curricular no<br />
contexto do Brilho do Cristal, que propõe a cons-<br />
trução de um Currículo Crítico no qual as idéias<br />
de Paulo Freire é o principal referencial político-pe<strong>da</strong>gógico,<br />
procurarei reconstruir os passos<br />
dessa caminha<strong>da</strong>.<br />
Vai começar o espetáculo<br />
O encontro do Teatro com a comuni<strong>da</strong>de do<br />
Vale do Capão se deu no final do ano letivo de<br />
1991, na festa de encerramento <strong>da</strong> Escola Integra<strong>da</strong>,<br />
neste momento o Brilho do Cristal ain<strong>da</strong><br />
não existia. A Escola Integra<strong>da</strong> (1988) foi<br />
um projeto de um grupo de mães e pais, vindo<br />
de outros lugares para morar no Vale do Capão,<br />
alguns com formação acadêmica. Essas<br />
pessoas se juntaram para fazer a Escola Integra<strong>da</strong><br />
e convi<strong>da</strong>ram a se juntar ao projeto um<br />
pequeno grupo de mães e pais nativos que estavam<br />
insatisfeitos com a Escola Municipal.<br />
Nossos alunos eram nativos e alternativos 1 .<br />
Oficialmente a Escola Integra<strong>da</strong> não existia, os<br />
alunos eram matriculados na Escola Municipal,<br />
logo, a submissão à prefeitura, a falta de autonomia,<br />
a falta de recursos financeiros, a prefeitura<br />
colaborava com apenas um salário mínimo,<br />
enfim, tudo isso nos levou a realizar o sonho de<br />
termos nosso próprio prédio, uma escola Comunitária.<br />
Mesmo com to<strong>da</strong>s as carências, pudemos<br />
contar com a criativi<strong>da</strong>de de todos e assim o<br />
espetáculo começou. As crianças <strong>da</strong> multisseria<strong>da</strong><br />
(3ª e 4ª série) apresentaram uma a<strong>da</strong>ptação<br />
teatral do conto Chapeuzinho Vermelho.<br />
A idéia dessa concepção cênica se deu pelo<br />
fato de as crianças estarem trabalhando esse<br />
conto nas aulas de Português. Então um grupo<br />
de criança sugeriu a montagem do referido conto<br />
e a sugestão foi aceita por todos. O grupo de<br />
crianças alternativas já tinha tido oportuni<strong>da</strong>des<br />
de estu<strong>da</strong>r em outras escolas e algumas<br />
até já tinham feito teatro na escola. Ao contrário,<br />
as crianças nativas começavam seus primeiros<br />
contatos com o Teatro além de trazerem<br />
1 A comuni<strong>da</strong>de do Vale do Capão denomina de nativos as<br />
pessoas que nasceram no Vale do Capão e alternativos as<br />
pessoas que vem de outros lugares morar no Vale do Capão.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 99-115, jan./jun., 2006