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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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As ativi<strong>da</strong>des lúdicas na alfabetização político-estética de jovens e adultos<br />

os nexos e as contradições <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. É nesse<br />

sentido que Paulo Freire afirma que: “A<br />

conscientização é um compromisso histórico.<br />

É também consciência histórica: é a inserção<br />

crítica na história que implica que os homens<br />

assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem<br />

o mundo. Exige que os homens criem sua<br />

existência com um material que a vi<strong>da</strong> lhes oferece.”<br />

(FREIRE, 1980, p.26)<br />

A conscientização é um processo a ser construído<br />

por meio <strong>da</strong> interação social e do diálogo<br />

crítico e participativo, no qual se destaca a valorização<br />

de ca<strong>da</strong> sujeito, enquanto construtor e<br />

realizador <strong>da</strong> cultura. Ca<strong>da</strong> trabalhador analfabeto,<br />

ao tomar consciência de sua existência<br />

ontológica, busca criar e transformar sua reali<strong>da</strong>de<br />

por meio <strong>da</strong> força de trabalho, agora consciente<br />

e contextualiza<strong>da</strong>. Assim, a conscientização<br />

não se refere somente a uma atitude de<br />

denúncia <strong>da</strong> situação dos oprimidos pelos opressores,<br />

mas também à atitude de considerar o ser<br />

humano como ser <strong>da</strong> práxis, <strong>da</strong> criação e <strong>da</strong> transformação<br />

através <strong>da</strong> força do trabalho. Tanto o<br />

educador quanto o educando são seres oprimidos<br />

socialmente e por meio do processo <strong>da</strong> conscientização<br />

apresentam-se como criadores de<br />

novas possibili<strong>da</strong>des e reali<strong>da</strong>des. É nessa perspectiva<br />

que Paulo Freire considera que:<br />

144<br />

Uma <strong>da</strong>s características do homem é que somente<br />

ele é homem. Somente ele é capaz de tomar distância<br />

frente ao mundo. Somente o homem pode<br />

distanciar-se do objeto para admirá-lo. Objetivando<br />

ou admirando- admirar se toma aqui no sentido<br />

filosófico- os homens são capazes de agir<br />

conscientemente sobre a reali<strong>da</strong>de objetiva<strong>da</strong>. É<br />

precisamente isto, ‘práxis humana’, a uni<strong>da</strong>de indissolúvel<br />

entre minha ação e minha reflexão sobre<br />

o mundo. (FREIRE, 1980, p. 25 e 26)<br />

O processo <strong>da</strong> conscientização caracterizado<br />

pela atitude de compreender a reali<strong>da</strong>de e<br />

intervir sobre ela (consciência + ação) está voltado<br />

para a construção de mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> polari<strong>da</strong>de<br />

opressores X oprimidos. A uni<strong>da</strong>de<br />

dialética entre a ação e a reflexão constitui o<br />

fazer humano de forma inacaba<strong>da</strong> e, por isso<br />

mesmo, permanente. O ser humano é o único<br />

ser capaz de pensar sobre seus próprios atos,<br />

de planejar a sua ação e de recriar a sua pró-<br />

pria prática. Além disso, somente o ser humano<br />

é capaz de reconhecer a existência de outras<br />

reali<strong>da</strong>des sociais e culturais, reconhece que<br />

não existe apenas o ‘eu’, mas também o ‘outro’<br />

e, ain<strong>da</strong>, compreende que ele não vive num<br />

momento presente, mas numa reali<strong>da</strong>de histórica<br />

e cultural pauta<strong>da</strong> pelo ontem e com os<br />

anseios voltados para o futuro. Esse posicionamento<br />

sobre a própria temporali<strong>da</strong>de se configura<br />

no pensamento <strong>da</strong> conscientização, fruto<br />

do sujeito que pensa, sente e age na reali<strong>da</strong>de<br />

social e política.<br />

6. Tecendo alguns fios para brincar<br />

de concluir<br />

Os estudos teóricos e as experiências na<br />

prática pe<strong>da</strong>gógica mostram que a necessi<strong>da</strong>de<br />

do estu<strong>da</strong>nte jovem e adulto não se resume<br />

somente à aquisição <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, mas<br />

a uma ampliação <strong>da</strong> compreensão do ato <strong>da</strong><br />

leitura de mundo e do contexto <strong>da</strong> escrita. Este<br />

percurso é alimentado por aprendizagens e produção<br />

de conhecimentos que valorizem também<br />

a expressão corporal, emocional e cognitiva de<br />

forma integra<strong>da</strong>.<br />

É nesse sentido que se percebe a necessi<strong>da</strong>de<br />

de uma abor<strong>da</strong>gem de educação pauta<strong>da</strong><br />

no desenvolvimento integral do ser humano; um<br />

processo de educação lúdica que possibilita aos<br />

sujeitos a experimentação de suas habili<strong>da</strong>des,<br />

ampliando suas capaci<strong>da</strong>des de atuação no<br />

mundo, de expressão, criação e construção de<br />

novas formas de conhecer e intervir na reali<strong>da</strong>de.<br />

Na pesquisa realiza<strong>da</strong> na Escola Municipal<br />

do Pau Miúdo, percebeu-se que esta forma de<br />

interação com o conhecimento contribui para<br />

elevar a auto-estima, permitindo que os estu<strong>da</strong>ntes<br />

percebam-se enquanto agentes capazes<br />

de contribuir com a socie<strong>da</strong>de, de forma lúdica<br />

e política, conforme afirma Maria do Carmo,<br />

uma <strong>da</strong>s estu<strong>da</strong>ntes entrevista<strong>da</strong>s: “Agora que<br />

eu já sei ler, eu entendo melhor as coisas <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>: consigo fazer coisas sozinha, sem depender<br />

de ninguém. Agora, eu sou uma mulher independente”.<br />

Com a auto-estima valoriza<strong>da</strong>, os<br />

educandos compreendem as inúmeras possibi-<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 133-146, jan./jun., 2006

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