Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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Coração de professor: o (des)encanto do trabalho sob uma visão sócio-histórica e lúdica<br />
processos psíquicos, servindo como estratégias<br />
para atuar no equilíbrio afetivo-racional (LU-<br />
CKESI, 2000). Podem ain<strong>da</strong> assumir um lugar<br />
importante na formação pessoal do professor<br />
na sua trajetória profissional, uma vez que a<br />
ludici<strong>da</strong>de ocupa papel fun<strong>da</strong>mental nas etapas<br />
do desenvolvimento psicológico e sociocultural<br />
como sustentam Elkonin (1998), Bróugérè<br />
(1998), Huizinga (1993), Vigotski (1998), dentre<br />
outros.<br />
Discorremos então com o objetivo principal<br />
de nossa pesquisa, qual seja, analisar a importância<br />
<strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> vivência psicocorporal<br />
na formação de professores, refletindo<br />
sobre a relação afetivi<strong>da</strong>de e trabalho.<br />
Para atingir tal objetivo, optamos pela abor<strong>da</strong>gem<br />
qualitativa e usamos como dispositivos<br />
de análise entrevistas e ativi<strong>da</strong>des<br />
lúdico-corporais inseri<strong>da</strong>s numa situação de<br />
grupo focal com os professores, selecionados<br />
através de um Curso de Extensão Universitária.<br />
O curso teve como foco o próprio objetivo<br />
<strong>da</strong> pesquisa, ou seja, a discussão sobre a<br />
afetivi<strong>da</strong>de do professor no seu trabalho e a<br />
importância <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s práticas<br />
psicocorporais na sua formação. Contou com o<br />
apoio <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal <strong>da</strong> Bahia/Facul<strong>da</strong>de<br />
de <strong>Educação</strong> (UFBA/FACED) e do Grupo<br />
de Estudo e Pesquisa em <strong>Educação</strong> e<br />
Ludici<strong>da</strong>de (GEPEL) <strong>da</strong> mesma Facul<strong>da</strong>de, para<br />
sua operacionalização, essencialmente no que<br />
tange à cessão do espaço físico, equipamentos,<br />
divulgação e emissão de certificados aos participantes.<br />
Neste curso, disponibilizamos um espaço<br />
onde os instrumentos oferecidos permitiam que<br />
a expressão lúdica e corporal dos professores<br />
se tornasse a principal mediadora para<br />
refletir sobre sua situação de trabalho, seu<br />
envolvimento profissional e seu equilíbrio<br />
afetivo presente na práxis pe<strong>da</strong>gógica.<br />
Assim, a vivência desses momentos de expressão<br />
e reflexão, utilizando os dispositivos<br />
anteriormente citados, mostrou-se coerente com<br />
o nosso objeto de investigação e ampliou nossa<br />
percepção sobre o problema <strong>da</strong> pesquisa, potencializando<br />
algumas questões que serão discuti<strong>da</strong>s<br />
a seguir.<br />
82<br />
SER OU NÃO SER? OS PROFESSO-<br />
RES RESPONDEM<br />
Na primeira fase <strong>da</strong> pesquisa no grupo, buscamos<br />
compreender como os professores<br />
percebem seu trabalho e sua formação profissional<br />
e quais os fatores presentes nesta<br />
ativi<strong>da</strong>de que trazem desencanto, ou seja,<br />
um “endurecimento afetivo” que os faz desistir<br />
de sua ação de cui<strong>da</strong>r, tirando-lhes a<br />
esperança, trazendo-lhes sentimentos de<br />
impotência e frieza emocional.<br />
Entendemos que a ativi<strong>da</strong>de docente, como<br />
práxis, não se restringe ao desempenho de habili<strong>da</strong>des<br />
técnicas, mas se apresenta como a<br />
elaboração de um saber socialmente compartilhado,<br />
tendo a finali<strong>da</strong>de de ampliar a consciência<br />
dos educandos no seu desenvolvimento<br />
como seres sócio-históricos. Assim, a ver<strong>da</strong>deira<br />
práxis 4 , é ação autônoma, refleti<strong>da</strong>, conheci<strong>da</strong><br />
e reconheci<strong>da</strong> pelo seu agente.<br />
Por outro lado, estudos mostram que o trabalho<br />
docente é afetado pelo ”fetichismo tecnológico”,<br />
que, segundo Giroux (2000, p. 69),<br />
consiste numa “racionali<strong>da</strong>de tecnocrática” que,<br />
debilita a práxis pe<strong>da</strong>gógica, reduzindo-a a metodologias<br />
que não priorizam o pensamento crítico,<br />
sendo os estu<strong>da</strong>ntes levados a querer saber<br />
“como fazer”, como “funciona” e não interpretando<br />
sua ação. Supõe, desta forma, que todos<br />
podem aprender com a mesma técnica, negando-lhes<br />
sua característica sócio-histórica.<br />
Tal racionali<strong>da</strong>de não reconhece o papel <strong>da</strong><br />
práxis educativa como um conjunto concreto<br />
de práticas na qual são forma<strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des,<br />
de onde emergem formas diferentes de conhecimento,<br />
de experiências e de subjetivi<strong>da</strong>des.<br />
E, neste veio tecnocrático, o professor, por sua<br />
vez, é visto basicamente como um receptor<br />
passivo do conhecimento científico e participa<br />
muito pouco <strong>da</strong> determinação do conteúdo e <strong>da</strong><br />
direção do seu programa de ensino. (GIROUX,<br />
1997).<br />
4 A práxis é a ativi<strong>da</strong>de humana real e efetiva que transforma<br />
o mundo natural e social para fazer dele um mundo<br />
humano segundo explica Sanches-Vázquez (1968). Este<br />
conceito e seus elementos serão discutidos no decorrer deste<br />
capítulo.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 79-98, jan./jun., 2006