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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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Notamos com este estudo que, mesmo vivenciando<br />

as dificul<strong>da</strong>des neste espaço de formação,<br />

os professores conseguem ver a<br />

“melodia” presente no seu trabalho, sendo um<br />

ver<strong>da</strong>deiro artista no “inferno e céu de ca<strong>da</strong><br />

dia”, como dizem os poetas. Os depoimentos<br />

analisados mostraram que o grupo tem uma<br />

capaci<strong>da</strong>de para se re-encantar ou re-equilibrar<br />

diante <strong>da</strong>s adversi<strong>da</strong>des. Observamos tal capaci<strong>da</strong>de<br />

nos seus discursos, quando narraram<br />

as opções para liberar suas tensões, buscando<br />

saí<strong>da</strong>s criativas para restabelecer os vínculos e<br />

repor as energias de acordo com suas necessi<strong>da</strong>des<br />

e oportuni<strong>da</strong>des.<br />

Importante é registrar que nos pautamos na<br />

proposta de Negrine (1998) e Santos (2000), sobre<br />

a formação lúdica para desenvolvermos uma<br />

atitude de escuta no grupo pesquisado. Assim,<br />

percebemos que os professores agem de forma<br />

diferencia<strong>da</strong> no enfrentamento do mal-estar ou<br />

desencanto; ora são mais emotivos, ora são mais<br />

racionais, a depender <strong>da</strong>s circunstâncias. Não<br />

desistem totalmente, ao contrário, muitas vezes<br />

se entregam e se absorvem nas ativi<strong>da</strong>des com<br />

entusiasmo e arrebatamento, expressando, nas<br />

palavras de Reich (1979), equilíbrio energético<br />

e capaci<strong>da</strong>de de resposta ao prazer e de<br />

tolerância com o outro.<br />

Dessa forma, foi possível compreendermos,<br />

pelos depoimentos, a afirmação de Soratto e<br />

Olivier-Heckher (1999) que não são as condições<br />

de trabalho que fazem os professores<br />

permanecerem no ofício, mas a relação<br />

de prazer que estabelecem com o produto<br />

do trabalho. Notamos, com este estudo, que,<br />

mesmo com salários baixos e com péssimas<br />

condições de trabalho, os professores se reencantam<br />

a ca<strong>da</strong> dia com o retorno cognitivo<br />

e afetivo <strong>da</strong>do pelos estu<strong>da</strong>ntes, pelo<br />

prazer em se sentir importantes para eles e<br />

pelo aprendizado contínuo que a ativi<strong>da</strong>de<br />

pe<strong>da</strong>gógica proporciona. Assim, conseguem<br />

obter desse trabalho o maior prazer que ele<br />

pode <strong>da</strong>r, são resistentes aos entraves e permanecem<br />

comprometidos com o ofício. O depoimento<br />

<strong>da</strong> professora, a seguir, ilustra estas<br />

afirmações:<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 79-98, jan./jun., 2006<br />

Sueli Barros <strong>da</strong> Ressurreição; Bernadete de Souza Porto<br />

Às vezes chego e pergunto: ‘E foi isso que eu<br />

quis?’ Tem momentos que tem que ter ânimo<br />

para poder seguir, com o sorriso ou com o carinho<br />

deles, eles chegam e dizem “Professora eu<br />

quero falar com a senhora”. .. essas coisas faz<br />

com que você ca<strong>da</strong> dia descubra a profissão,<br />

você ser pessoa, você está ali e saber que as<br />

pessoas confiam, acreditam em você, que você<br />

é útil, que gosta de você e mostra isso....<br />

Percebemos no depoimento destacado o<br />

cerne do trabalho docente: a troca entre produtor<br />

e o produto, troca de conhecimentos, afetos,<br />

experiências, crenças, hábitos, valores.<br />

Ocorre uma influência recíproca na vi<strong>da</strong> dos<br />

educadores/educandos que os transforma e os<br />

leva a buscar constantemente coisas novas. Este<br />

aspecto interativo, foi apontado pelo grupo<br />

pesquisado como o mais importante na ativi<strong>da</strong>de<br />

do professor; é ele que torna o trabalho<br />

desafiante e envolvido por “alegria e<br />

esperança” (FREIRE, 2001).<br />

Acreditamos que este aspecto precisa ser<br />

potencializado nos cursos de formação. Isto<br />

implica considerar a vertente subjetiva no trabalho<br />

educativo, que, para Vigotski (2001) e<br />

Wallon (1964), tem como base as reações emocionais<br />

entre os pares. De acordo com os estudos<br />

aqui apresentados, cumpre-nos lembrar que<br />

a afetivi<strong>da</strong>de, como componente principal desta<br />

vertente, é a energia que move a vi<strong>da</strong> e que<br />

a relação viva com o mundo, imprescindível para<br />

a aprendizagem, depende do “colorido emocional”<br />

(VIGOTSKI, 2001) e dos “conflitos dinamogênicos”<br />

(WALLON, 1964) que a envolvem.<br />

Dessa forma, a afetivi<strong>da</strong>de permeia todo o<br />

processo de trabalho docente, atuando como<br />

vitalizadora do pensar e do fazer pe<strong>da</strong>gógicos.<br />

Uma vez que a vertente subjetiva é percebi<strong>da</strong><br />

como parte integrante do todo <strong>da</strong> ação<br />

docente, compreendemos que a convivência<br />

diária com a ativi<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica, fortalece a<br />

identi<strong>da</strong>de profissional e as estratégias de defesa<br />

contra os entraves do cotidiano traz à tona<br />

aspectos <strong>da</strong> dimensão lúdica como a flexibili<strong>da</strong>de,<br />

o desafio, a absorção, a entrega, a plenitude,<br />

a tensão e a leveza. Desse modo, inferimos<br />

que tal dimensão, ao emergir no “fazer-pe<strong>da</strong>gógico”,<br />

pode ser uma mediadora eficaz na<br />

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