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Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

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A ludici<strong>da</strong>de está presente na ação desta<br />

professora, no prazer que sentiu ao levar a música<br />

e no envolvimento dos estu<strong>da</strong>ntes nessa ativi<strong>da</strong>de.<br />

Salientamos que a ação ou ativi<strong>da</strong>de lúdica<br />

não se constitui apenas de jogos ou técnicas dinamizadoras,<br />

pois também está presente na <strong>da</strong>nça,<br />

na música, no desenho, na pintura e em outras<br />

formas de expressão artística, ou seja, em outros<br />

signos. Huizinga (2004), ao pesquisar o aspecto<br />

cultural do lúdico, assinala que não é por<br />

acaso que encontramos na história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de<br />

diversas expressões para designar a ativi<strong>da</strong>de<br />

lúdica. Quanto à música, esclarece que nas<br />

épocas arcaicas o homem tinha plena consciência<br />

de que “a música era uma força sagra<strong>da</strong> capaz<br />

de despertar emoções e, além disso, era um<br />

jogo. Só muito mais tarde ela passou a ser aprecia<strong>da</strong><br />

como uma contribuição importante para a<br />

vi<strong>da</strong> e para a expressão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, em resumo, como<br />

uma arte no sentido atual <strong>da</strong> palavra.” (p.209).<br />

Fátima Vasconcelos, pesquisando sobre o jogo<br />

infantil na escola, tomando por base a concepção<br />

bakhtiana de linguagem, observou que o jogo,<br />

na sua dimensão simbólica, é uma forma de discurso<br />

que representa as interações e, para compor<br />

o sentido lúdico, ele utiliza-se de gestos,<br />

objetos, entonações, mu<strong>da</strong>nças de cenário e linguagem<br />

verbal. Neste sentido, o jogo é polifônico,<br />

nele estão imbutidos muitas falas, decorrentes<br />

<strong>da</strong> apropriação cultural <strong>da</strong> pessoa que joga: “O<br />

lugar imaginário do jogo é refratado e não refletido,<br />

na brincadeira ele cria um vínculo de representação”.<br />

(VASCONCELOS, 2003, p. 5).<br />

Parafraseando Bakhtin (1995, p.35), a consciência<br />

adquire forma e existência nos signos<br />

criados por grupos organizados no curso <strong>da</strong>s<br />

relações sociais. Nesta óptica, a ludici<strong>da</strong>de,<br />

como forma de linguagem, pode servir como<br />

ação mediadora <strong>da</strong> elaboração de sentidos na<br />

relação pe<strong>da</strong>gógica, atuando como forma de<br />

instrumentalização no movimento dialético de<br />

continui<strong>da</strong>de e ruptura do conhecimento 9 . Outra<br />

professora do grupo esclarece esta afirmação<br />

no seu depoimento:<br />

Quando eu busco uma ativi<strong>da</strong>de, eu gosto de<br />

<strong>da</strong>r uma ativi<strong>da</strong>de que envolva música (...) Pois<br />

já sei que vai desencadear uma coisa diferente<br />

em ca<strong>da</strong> um. Que posso estar atenta àquela di-<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 79-98, jan./jun., 2006<br />

Sueli Barros <strong>da</strong> Ressurreição; Bernadete de Souza Porto<br />

ferença que vai ser desencadea<strong>da</strong>. Que ca<strong>da</strong><br />

um vai poder se expressar, é aquela liber<strong>da</strong>de<br />

que vai ser <strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />

A partir dos autores e dos <strong>da</strong>dos referidos,<br />

podemos acentuar que a ludici<strong>da</strong>de, como dimensão<br />

do processo de formação do homem,<br />

pode estar presente como signo e ferramenta<br />

na ativi<strong>da</strong>de mediadora do professor no processo<br />

de problematização, ao passo que nutre as<br />

ações expressivas emocionais e cognitivas. A<br />

ação lúdica instrumentaliza o professor para<br />

mediar o educando a elaborar sua representação<br />

mental do conhecimento. As ativi<strong>da</strong>des lúdicas,<br />

como ferramentas, proporcionam contato<br />

com instrumentos físicos ou simbólicos que dinamizam<br />

a apreensão do conhecimento. Sobre<br />

este ponto, ilustramos um trecho <strong>da</strong> carta escrita<br />

sobre o curso de extensão por uma professora<br />

participante onde demonstra a presença<br />

<strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> afetivi<strong>da</strong>de no cotidiano e<br />

na expressão do seu saber:<br />

O curso foi muito bom, pois confirmei coisas<br />

que já sabia, to<strong>da</strong>via tinha receio, dúvi<strong>da</strong>s de<br />

colocá-las em prática. Agora, mais do que nunca,<br />

sei que o jogo, o lazer, a criativi<strong>da</strong>de, o brincar<br />

não estão fora <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, assim como os<br />

sentimentos e valores também são conteúdos<br />

importantes e urgentes, e fazem o trabalho docente<br />

também produtivo,leve, divertido e emocionante.<br />

A ludici<strong>da</strong>de, conforme foi abor<strong>da</strong><strong>da</strong> nesta<br />

pesquisa, é uma expressão media<strong>da</strong> por uma<br />

ativi<strong>da</strong>de que resulta numa experiência de entrega<br />

do ser humano em sua totali<strong>da</strong>de - motora,<br />

afetiva e intelectual (LUCKESI, 2004).<br />

Neste sentido, as ativi<strong>da</strong>des lúdicas servem<br />

como recursos para o autoconhecimento, como<br />

instrumento de expressão espontânea, fornecendo<br />

pistas eficazes para o processo de aprendizagem<br />

na medi<strong>da</strong> em que envolve vínculos e<br />

media a interação sujeito/mundo.<br />

De acordo com Porto e Cruz (2002), a presença<br />

<strong>da</strong> prática lúdica na educação assumiu<br />

9 O processo ensino-aprendizagem é também um momento<br />

de ruptura, pois o educando nega a continui<strong>da</strong>de (o conhecimento<br />

cotidiano) para incorporar o conhecimento sistematizado:<br />

“a ruptura é a confiança na obra prima e no papel<br />

<strong>da</strong> escola de modo que o aluno não fique alheio a ela.”<br />

(SNYDERS, 1995, p. 161).<br />

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