Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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O teatro-educação enquanto componente curricular no meio rural: uma experiência na escola comunitária Brilho do Cristal<br />
trávamos, mais produzíamos, mais nos uníamos,<br />
mais nos construíamos e mais sorríamos.<br />
O Grupo de Teatro Infantil do Brilho<br />
marcava sua presença cênica em todos os<br />
eventos <strong>da</strong> Brilho do Cristal. Além <strong>da</strong>s apresentações<br />
nos eventos <strong>da</strong> escola tivemos a oportuni<strong>da</strong>de<br />
de construirmos uma parceria com o<br />
IBAMA, que nos proporcionou apresentações<br />
em diversos lugares <strong>da</strong> Chapa<strong>da</strong> Diamantina,<br />
como: Lençóis, Piatã, Palmeiras, Mucugê e<br />
An<strong>da</strong>raí. Também pudemos viajar para Salvador,<br />
onde nos apresentamos no Teatro Santo<br />
Antônio, no Teatro Lauro de Freitas, no Hotel<br />
Pelourinho e no Festival de Cultura Alternativa<br />
em Arembepe. Viajar para Salvador foi um presente<br />
inesquecível para os nativos. Além de<br />
conhecer um Teatro de ver<strong>da</strong>de, com direito a<br />
camarim, foi possível conhecer uma ci<strong>da</strong>de<br />
grande, o mar, o Pelourinho, o Elevador Lacer<strong>da</strong>,<br />
o elevador de um prédio, a esca<strong>da</strong> rolante, o<br />
Shopping Center, o Aeroporto – assim como<br />
crianças dormindo na rua, favelas, poluição; e<br />
dessa maneira eles construíam conhecimento e<br />
se reconheciam enquanto moradores de um lugar<br />
privilegiado.<br />
To<strong>da</strong>s as construções cênicas significavam,<br />
também, incentivo à leitura, escrita e criativi<strong>da</strong>de,<br />
três lacunas profun<strong>da</strong>s que as crianças traziam<br />
em relação ao processo de ensino-aprendizagem.<br />
Desejávamos vê-las estimula<strong>da</strong>s para<br />
a leitura e a escrita de maneira criativa, crítica<br />
e alegre. Nesse contexto o Teatro funcionou<br />
como um dos maiores estímulos na construção<br />
de conhecimento <strong>da</strong>s crianças do Brilho do Cristal.<br />
O Teatro tornou-se o fio condutor dos processos<br />
criativos do Brilho do Cristal, como costumávamos<br />
falar um para o outro: Tudo no<br />
Brilho Vira Teatro.<br />
Tudo no Brilho Vira Teatro<br />
As sementes do Teatro brotavam dia após<br />
dia. Sempre tinha alguém com uma boa idéia.<br />
Em meio a to<strong>da</strong> simplici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> nossa Escola e<br />
<strong>da</strong> nossa comuni<strong>da</strong>de, nosso Teatro estava<br />
marcando seu lugar enquanto elemento curricular<br />
imprescindível nas ações pe<strong>da</strong>gógicas <strong>da</strong><br />
110<br />
Brilho do Cristal. Na alegria, na brincadeira e<br />
na ousadia, contamos e recontamos estórias do<br />
folclore, estórias que os avôs contavam, contos<br />
infantis, parlen<strong>da</strong>s e provérbios, além <strong>da</strong>s estórias<br />
que criávamos. Divertíamos-nos, interagíamos,<br />
nos reconhecíamos enquanto sujeitos<br />
participantes <strong>da</strong> história, construtores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.<br />
Num exercício sensível, lúdico e criativo,<br />
Tudo no Brilho vira Teatro. Para melhor entendimento<br />
<strong>da</strong> afirmativa Tudo no Brilho Vira<br />
Teatro, apresentarei o processo de construção<br />
de cinco ativi<strong>da</strong>des de Teatro-<strong>Educação</strong> que<br />
considerei significativas na construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />
teatral 7 do Brilho do Cristal.<br />
- Ato Público<br />
A Escola Brilho do Cristal tem em seu calendário<br />
pe<strong>da</strong>gógico algumas <strong>da</strong>tas cuja exploração<br />
pe<strong>da</strong>gógica era considera<strong>da</strong> relevante,<br />
como: Semana do Meio Ambiente, Semana do<br />
Índio, Semana do Folclore, Semana <strong>da</strong> Primavera,<br />
Semana do Carnaval, Semana <strong>da</strong> Criança,<br />
entre outras.<br />
Na preparação <strong>da</strong> Semana do Meio Ambiente<br />
no ano de 1993, quando pensávamos uma<br />
proposta de comemorar esse dia com alguma<br />
ativi<strong>da</strong>de fora dos muros <strong>da</strong> Brilho do Cristal,<br />
tivemos a idéia de fazermos uma passeata, um<br />
ato público. Os professores apresentaram a<br />
proposta para seus alunos, explicaram o que é<br />
um ato público e discutiram os objetivos. O ato<br />
público envolveria uma passeata de mais ou<br />
menos dois quilômetros para ir até a Vila e de<br />
dois quilômetros para voltar. As crianças abraçaram<br />
a idéia com entusiasmo, afinal como as<br />
crianças gostam mesmo é de movimento, de<br />
quebrar a rotina e de extrapolar os muros <strong>da</strong><br />
Escola, an<strong>da</strong>r não foi problema. As idéias afloraram<br />
em relação às possíveis ações educativas<br />
durante a passeata.<br />
7 Chamo aqui de identi<strong>da</strong>de teatral a nossa linha de construção<br />
cênica, ou seja, o nosso jeito de trabalhar com o Teatro-<strong>Educação</strong>,<br />
que tem como eixo norteador <strong>da</strong> dramaturgia<br />
a construção coletiva: criação de textos a partir de temáticas,<br />
a<strong>da</strong>ptações de narrativas (literatura infantil, textos didáticos)<br />
e releitura de textos (contextualização).<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 99-115, jan./jun., 2006