Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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dutiva) e o momento de brincar, o amar e a expressão<br />
criativa (considerados, nesse tipo de<br />
socie<strong>da</strong>de, como não-sério, banais ou utilizados,<br />
simplesmente, como alívio para o estresse causado<br />
pelo excesso de trabalho). Assim, Washington<br />
Oliveira (2000) contrapõe-se a esta<br />
compreensão, afirmando:<br />
... precisaremos superar a percepção do senso<br />
comum, onde o brincar é uma ativi<strong>da</strong>de que se<br />
opõe a trabalhar, caracteriza<strong>da</strong> pela futili<strong>da</strong>de e<br />
oposição ao que é sério. A idéia de que o trabalho<br />
tem uma função moralizadora, considera<strong>da</strong><br />
antídoto <strong>da</strong> vagabun<strong>da</strong>gem, coloca a brincadeira<br />
como uma fantasia que pode ser vivi<strong>da</strong> em<br />
pequenos momentos, como uma concessão, para<br />
aliviar o fardo <strong>da</strong> dura reali<strong>da</strong>de. (OLIVEIRA,<br />
2000).<br />
No fazer cotidiano e no conhecimento construído<br />
pelo senso comum, o fazer humano encontra-se<br />
ca<strong>da</strong> vez mais separado do prazer.<br />
Além disso, as formas de relacionamento humano<br />
<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de atual caracterizam-se pela<br />
exploração do trabalho em função do enriquecimento<br />
<strong>da</strong>s estruturas dominantes, <strong>da</strong>s relações<br />
descartáveis de amor e amizade, <strong>da</strong> não-contemplação<br />
<strong>da</strong> estética produzi<strong>da</strong> por diferentes<br />
grupos sociais, contribuindo para a dificul<strong>da</strong>de<br />
do sujeito em atribuir sentido para a vivência<br />
lúdica, artística e política na socie<strong>da</strong>de. O sujeito,<br />
impedido de expressar suas emoções e sentimentos,<br />
encontra-se desapropriado não<br />
somente dos meios de produção, mas também<br />
<strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de criação e de relação com o<br />
mundo de forma mais prazerosa, mais solidária<br />
e mais humana.<br />
Em contraposição à fragmentação <strong>da</strong>s estruturas<br />
humanas (corpo, razão, emoção e intuição),<br />
encontra-se, no mesmo cenário social,<br />
a possibili<strong>da</strong>de de contemplação estética e vivência<br />
lúdica que permite a retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> concepção<br />
do sujeito enquanto ser completo e<br />
integral. Trata-se <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de como uma <strong>da</strong>s<br />
oportuni<strong>da</strong>des existentes do ser humano manifestar-se<br />
inteiro em suas quatro dimensões: a<br />
física, a emocional, a cognitiva e sócio-cultural.<br />
No entanto, no bojo <strong>da</strong> educação de jovens<br />
e adultos, percebe-se o distanciamento <strong>da</strong>s classes<br />
oprimi<strong>da</strong>s socialmente no que se refere ao<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 133-146, jan./jun., 2006<br />
Cilene Nascimento Can<strong>da</strong><br />
desenvolvimento integral. Esta fragmentação<br />
entre as dimensões humanas e a falta de sentido<br />
de atuação no mundo do trabalho dificultam<br />
o desenvolvimento satisfatório <strong>da</strong> auto-estima<br />
dos estu<strong>da</strong>ntes analfabetos.<br />
3.1. A auto-estima dos estu<strong>da</strong>ntes<br />
analfabetos<br />
Quando a gente não sabe ler é como se fosse<br />
um cego que não enxerga a reali<strong>da</strong>de.<br />
O mundo está aí na frente, mas o analfabeto não vê.<br />
A gente se sente um na<strong>da</strong>, porque saber ler é tudo.<br />
(Dona Zenil<strong>da</strong>, estu<strong>da</strong>nte <strong>da</strong><br />
<strong>Educação</strong> de Jovens e Adultos).<br />
Um dos problemas <strong>da</strong> alfabetização de jovens<br />
e adultos, bastante discutido nesta pesquisa,<br />
está relacionado à baixa auto-estima dos<br />
trabalhadores deriva<strong>da</strong> dos processos de exclusão<br />
social, <strong>da</strong> supervalorização do conhecimento<br />
sistematizado por meio <strong>da</strong> escrita, conforme é<br />
apontado na fala de Dona Zenil<strong>da</strong> (acima), e <strong>da</strong><br />
fragmentação entre o pensar, o agir e o sentir de<br />
forma integra<strong>da</strong>. As rupturas entre a razão e a<br />
emoção, e entre o trabalho e o prazer têm contribuído<br />
para a alienação do sujeito em relação<br />
ao significado e ao sentido do próprio fazer e<br />
estar no mundo. A baixa auto-estima dos jovens<br />
e adultos analfabetos dificulta a aprendizagem<br />
escolar e a convivência participativa no contexto<br />
social. Além disso, a baixa auto-estima dificulta<br />
que os sujeitos sociais percebam-se<br />
enquanto agentes de mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> situação de<br />
desigual<strong>da</strong>de social que vivenciam. Os jovens e<br />
adultos são oriundos <strong>da</strong>s classes econômicas<br />
menos favoreci<strong>da</strong>s, espezinha<strong>da</strong>s pelas práticas<br />
capitalistas, que sobrevivem em situações de<br />
abandono, fome, extrema violência e desemprego.<br />
Diante desses problemas sociais, tais estu<strong>da</strong>ntes<br />
apresentam a falta de esperança em<br />
relação às próprias perspectivas de vi<strong>da</strong> e em<br />
relação aos rumos políticos do país.<br />
Além disso, percebe-se que as práticas de<br />
alfabetização de jovens e adultos, enquanto segmento<br />
de ensino inserido neste contexto de desigual<strong>da</strong>de<br />
social, não atendem ao desenvolvi-<br />
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