Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
As reflexões feitas neste texto foram<br />
construí<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> prática docente <strong>da</strong> autora<br />
no trabalho com o componente curricular<br />
Jogos e Recreação, ministrado no Curso<br />
de Licenciatura Plena em Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />
Estadual de Feira de Santana, no<br />
município de São Sebastião do Passé - Bahia.<br />
É importante esclarecer que as alunas desse<br />
curso são regentes de classe na rede municipal<br />
de ensino naquela ci<strong>da</strong>de. Assim, a partir<br />
dos estudos e discussões realizados durante<br />
o curso, as professoras têm possibili<strong>da</strong>de de<br />
refletir sobre sua própria prática e (re) direcioná-la<br />
num processo ativo de ação-reflexão-ação.<br />
Tendo como base o caráter deste curso<br />
como formação continua<strong>da</strong> em exercício, a proposta<br />
elabora<strong>da</strong> para o desenvolvimento do<br />
componente curricular Jogos e Recreação<br />
previa, além de estudos de teorias que subsidiam<br />
a compreensão do jogo como potencializador<br />
dos processos de aprendizagem e<br />
desenvolvimento <strong>da</strong> criança, a observação de<br />
crianças em situação de brincadeiras espontâneas<br />
e a elaboração e aplicação de planejamentos<br />
de jogos de três tipos: brincadeiras<br />
tradicionais, construção de brinquedos de sucata<br />
e jogos para o trabalho de conhecimentos<br />
específicos.<br />
Vale ressaltar que os episódios descritos e<br />
analisados neste texto foram resultados <strong>da</strong> observação<br />
<strong>da</strong> prática docente em duas turmas<br />
de primeira série do Ensino Fun<strong>da</strong>mental, uma<br />
em escola especial (Escola 1) e outra em escola<br />
regular que recebe alunos com necessi<strong>da</strong>des<br />
educativas especiais no processo de educação<br />
inclusiva (Escola 2).<br />
1. Os jogos e brincadeiras no desenvolvimento<br />
infantil<br />
Para Vygotsky (1998, p.121), “o brinquedo<br />
preenche necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> criança”, pois através<br />
do brinquedo ela pode ter satisfeitas determina<strong>da</strong>s<br />
necessi<strong>da</strong>des não passíveis de serem<br />
realiza<strong>da</strong>s naquele determinado momento. Por<br />
exemplo, por não poder dirigir um automóvel, a<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 147-156, jan./jun., 2006<br />
Susana Couto Pimentel<br />
criança senta-se numa cadeira, toma um determinado<br />
objeto como volante e “faz de conta”<br />
que está dirigindo. A esse mundo ilusório de<br />
satisfação de necessi<strong>da</strong>des e desejos Vygotsky<br />
chama de brinquedo. Assim, pode-se dizer que<br />
o brincar implica uma ação consciente a partir<br />
de uma situação imaginária. Desse modo, o brinquedo<br />
traz consigo um elemento motivacional<br />
que lhe é intrínseco. Para a criança, esta motivação<br />
potencializa a importância do brincar e<br />
de tudo o que a envolve.<br />
Também, segundo Vygotsky (1998, p. 126) “é<br />
no brinquedo que a criança aprende a agir numa<br />
esfera cognitiva, ao invés de em uma esfera visual<br />
externa, dependendo <strong>da</strong>s motivações e tendências<br />
internas, e não dos incentivos fornecidos pelos<br />
objetos externos”. Desse modo, o objeto deixa de<br />
ser o determinante <strong>da</strong> ação do brincar e a situação<br />
imaginária passa a ampliar o significado imediato<br />
dos objetos. Por exemplo, a criança vê uma<br />
tampa de panela, conhece a sua utili<strong>da</strong>de, mas<br />
naquele momento lhe dá outro sentido fazendo <strong>da</strong><br />
tampa de panela o volante do seu carro. A criança<br />
passa a agir independente <strong>da</strong>s determinações<br />
<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelo seu campo visual. Isso demonstra avanço<br />
com relação ao desenvolvimento infantil, pois<br />
a ação <strong>da</strong> criança passa a ser regi<strong>da</strong> pelas idéias<br />
e não mais pelos objetos.<br />
O brinquedo, enquanto objeto utilizado na<br />
brincadeira, constitui-se uma representação <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong>de, fornecendo à criança a possibili<strong>da</strong>de<br />
de manipulação e de substituições de objetos<br />
reais (KISHIMOTO, 2001). Diante disso, a<br />
construção de brinquedo, por si só, já representa<br />
inúmeras possibili<strong>da</strong>des de aprendizagens<br />
para a criança, pelo seu caráter de estímulo à<br />
criativi<strong>da</strong>de e à representação. A construção<br />
de brinquedo com sucatas, por sua vez, potencializa<br />
e enriquece essas aprendizagens.<br />
A sucata possibilita um olhar sobre duas dimensões,<br />
podendo ser vista como o que a socie<strong>da</strong>de<br />
de consumo considerou imprestável para<br />
o seu uso ou, por outro lado, como o “convite”<br />
à criação, construção e possibili<strong>da</strong>des de múltiplas<br />
expressões (WEISS, 1993). Dessa forma,<br />
o trabalho com sucata possibilita questionamentos<br />
e reflexões de ordem política, social, ética,<br />
econômica e ecológica.<br />
149