Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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Uma escola de música e artes brasileiras na Bahia<br />
Introdução<br />
174<br />
several educational and sociocultural institutions. The article concludes with<br />
the summary of two projects which are in process of realization in the realm of<br />
the UNEB and might bring some practical experiences to corroborate and<br />
enrich the suggestion of the author.<br />
Keywords: Music Education – Art-Education – Cultural Identity and Diversity<br />
– Local Popular Arts and Cultures<br />
Como seria uma Escola de Música e Artes<br />
que incluísse e refletisse os processos identitários<br />
e a diversi<strong>da</strong>de cultural <strong>da</strong>s suas regiões?<br />
Muitas pessoas, principalmente artistas, compositores,<br />
professores de artes, mestres <strong>da</strong> tradição<br />
oral, educadores, pesquisadores, e agentes<br />
socioculturais já devem der sonhados com uma<br />
escola com cara nordestina / brasileira. No entanto,<br />
ain<strong>da</strong> não encontramos uma escola dessa<br />
característica no Nordeste inteiro, uma região<br />
que deu origem a inúmeros estilos, gêneros e<br />
ritmos musicais, poéticos, cênicos e coreográficos<br />
e incontáveis músicos e compositores reconhecidos<br />
regional e (inter)nacionalmente.<br />
Existem sim, algumas iniciativas que partiram<br />
principalmente de diversas organizações no terceiro<br />
setor, utilizando a arte de forma geral (<strong>da</strong>nça,<br />
música, teatro, artes plásticas etc.) e muitas<br />
vezes a cultura regional, como uma ferramenta<br />
de transformação social voltado para jovens e<br />
crianças em situações de risco. Na ci<strong>da</strong>de de<br />
Salvador p. ex. encontramos várias instituições<br />
que ensinam práticas locais (capoeira, <strong>da</strong>nça<br />
afro, música popular entre outros), inclusive com<br />
produções artisticamente muito interessantes,<br />
sem falar do valor social agregado a estas ativi<strong>da</strong>des<br />
e os resultados decorrentes.<br />
Na presente reflexão me concentro na questão<br />
do ensino musical, sendo que os argumentos<br />
aqui colocados podem ser ampliados para<br />
uma escola de artes de forma geral, abrangendo<br />
o campo <strong>da</strong>s artes cênicas e visuais igualmente.<br />
A ênfase na música como eixo central<br />
<strong>da</strong> minha argumentação se deve principalmente<br />
à minha própria formação e experiência em<br />
educação musical e etnomusicologia, como também<br />
ao fato de que, na minha avaliação, o ensi-<br />
no musical na Bahia entre as formações artísticas<br />
ain<strong>da</strong> está mais distante dos conteúdos regionais<br />
e experiências locais, do que to<strong>da</strong>s as<br />
outras linguagens artísticas. Por outro lado, são<br />
e sempre foram as criações e inovações musicais<br />
que renderam à Bahia um reconhecimento<br />
nacional como berço <strong>da</strong> musicali<strong>da</strong>de genuinamente<br />
brasileira, a qual não está inseri<strong>da</strong> na<br />
educação musical.<br />
Os espaços formais de ensino musical se<br />
constituem na teoria e prática em 80 % do repertório,<br />
<strong>da</strong> metodologia e <strong>da</strong>s referências estéticas<br />
e culturais cultivando a música clássica<br />
européia, a qual tem sua importância e contribuição<br />
inegável para a música e cultura brasileira,<br />
porém não representa as culturas, artes e<br />
vivências regionais do seu povo e também não<br />
representa a música popular brasileira que já<br />
constitui um universo musical internacionalmente<br />
reconhecido. Antes de esboçar idéias e modelos<br />
práticos e teóricos para o fun<strong>da</strong>mento de<br />
uma escola de música com cara nordestina,<br />
gostaria fazer uma reflexão mais profun<strong>da</strong> sobre<br />
processos e conceitos culturais identitários.<br />
Olhando mais de perto para a região do<br />
Nordeste, e neste caso a Bahia, percebe-se que<br />
coexistem há muito tempo práticas culturais e<br />
estilos musicais de diversas origens étnicas e<br />
épocas históricas, mas nem sempre de forma<br />
pacífica ou coerente, como percebe Armstrong<br />
buscando <strong>da</strong>dos para a aplicação dos Estudos<br />
Culturais no contexto <strong>da</strong> Bahia.<br />
Quanto ao tema <strong>da</strong> miscigenação em si, existe<br />
um elenco vasto de abor<strong>da</strong>gens possíveis à<br />
questão. Por exemplo, o pesquisador deve interrogar<br />
as pessoas sobre como percebem as relações<br />
raciais, e a sua própria identi<strong>da</strong>de? Ou deve<br />
estu<strong>da</strong>r os discursos, as palavras? E dentro do<br />
repertório de discursos, deveríamos admitir to-<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 173-184, jan./jun., 2006