Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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Se der a gente brinca: crenças <strong>da</strong>s professoras sobre ludici<strong>da</strong>de e ativi<strong>da</strong>des lúdicas<br />
Em relação às crianças uma conclusão a que<br />
chego é que as professoras trabalham com a<br />
criança ideal, ficando difícil e, por que não dizer,<br />
impossível, as crianças se encaixarem nessas<br />
expectativas. Concluo também que se<br />
concebe a criança como um ser universal, negando-se<br />
o seu contexto histórico, sua individuali<strong>da</strong>de,<br />
sua faixa etária e os aspectos<br />
socioculturais.<br />
Após a análise <strong>da</strong>s crenças <strong>da</strong>s professoras,<br />
sistematiza<strong>da</strong>s ao longo desse trabalho, é<br />
possível assinalar que a ludici<strong>da</strong>de e as ativi<strong>da</strong>des<br />
lúdicas na escola são considera<strong>da</strong>s secundárias<br />
no processo pe<strong>da</strong>gógico. Essa<br />
desvalorização é decorrente de vários fatores:<br />
a vivência lúdica, na visão <strong>da</strong>s professoras<br />
encontra-se limita<strong>da</strong> ao uso de ativi<strong>da</strong>des<br />
como jogos e brincadeiras, o que, nas suas<br />
convicções, só justifica a sua utilização na<br />
sala de aula se for para o reforço ou avaliação<br />
de conteúdos, pois é a sua aquisição a<br />
priori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola;<br />
diante dessa supremacia dos conteúdos, os/<br />
as professores/as se cobram e são cobrados<br />
a cumprirem os assuntos estabelecidos<br />
para a etapa de ensino em que trabalham.<br />
Dessa forma, são estabelecidos horários rígidos<br />
para ca<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de e, nesse sentido, o<br />
tempo disponibilizado para as ativi<strong>da</strong>des<br />
lúdicas se restringe ao recreio, que a ca<strong>da</strong><br />
dia se encontra mais restrito, e uma parte<br />
do período <strong>da</strong>s sextas-feiras, com o objetivo<br />
de descanso. A realização de um trabalho<br />
pautado na ludici<strong>da</strong>de também é dispensa<strong>da</strong>,<br />
diante <strong>da</strong> convicção de que realizar um<br />
trabalho junto com os/as alunos/as, discutindo,<br />
arriscando, é um desperdício de tempo,<br />
o que as faz optarem por prática mais disciplinar,<br />
de exposição oral, cabendo aos alunos<br />
participarem com as respostas e ativi<strong>da</strong>des<br />
que lhes são solicita<strong>da</strong>s pelo professor.<br />
Dessa forma, o tempo de planejar também<br />
não é utilizado, geralmente, para organização<br />
de ativi<strong>da</strong>des lúdicas a serem feitas<br />
com as crianças, nem com propostas que<br />
possam ter a espontanei<strong>da</strong>de, o respeito às<br />
diferenças, a imaginação, a criativi<strong>da</strong>de, a<br />
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participação, a iniciativa, a alegria, a curiosi<strong>da</strong>de,<br />
o questionamento de concepções e<br />
estratégias suas e dos colegas para a<br />
efetivação <strong>da</strong> aprendizagem.<br />
por último, a desvalorizando <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de<br />
e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des lúdicas é mais intensa se a<br />
escola for volta<strong>da</strong> para a formação <strong>da</strong>s crianças<br />
<strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s populares, pois as professoras<br />
crêem que esses elementos são<br />
“per<strong>da</strong>s de tempo”, já que essas crianças,<br />
além de serem mais carentes culturalmente,<br />
e pelo fato de a escola necessitar suprir<br />
essa privação, os seus comportamentos, violentos<br />
e indisciplinados, também limitam a<br />
experiência lúdica com esses/as alunos/as.<br />
Ain<strong>da</strong> nesse terreno <strong>da</strong> disciplina, desvalorização<br />
<strong>da</strong> manifestação lúdica na escola, principalmente<br />
em sala de aula, também ocorre pela<br />
crença de que a sua presença instiga a indisciplina.<br />
Essa crença é decorrente do movimento,<br />
<strong>da</strong> expressão de alegria, <strong>da</strong> absorção que, geralmente,<br />
ocorrem quando se utilizam ativi<strong>da</strong>des<br />
com esse cunho. Diante dessa convicção,<br />
percebi a dificul<strong>da</strong>de que as professoras têm<br />
em realizar um trabalho em que as crianças<br />
exerçam um papel mais ativo, em que mantenham<br />
um contato mais intenso com os/as colegas.<br />
Essas questões fazem com que elas neguem<br />
ou minimizem a importância de um trabalho lúdico.<br />
Tal crença decorre do processo de escolarização,<br />
guiado pela tendência tradicional, que,<br />
certamente, perpassou a formação dessas profissionais,<br />
que supervaloriza a disciplina, a transmissão<br />
de conteúdo, a homogeneização e nega<br />
a espontanei<strong>da</strong>de, a diferença, a flexibili<strong>da</strong>de, a<br />
incerteza dos resultados, a relevância no processo<br />
e não somente no produto. Diante disso,<br />
a presença <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de é recusa<strong>da</strong>, pois esta<br />
busca romper, entre outros aspectos, com a rigidez<br />
dos tempos cronometrados e com os papéis<br />
estereotipados.<br />
Diante <strong>da</strong> secun<strong>da</strong>rização <strong>da</strong> ludici<strong>da</strong>de no<br />
processo educativo, constato que as professoras<br />
desconhecem os estudos que trazem os<br />
benefícios dessas questões para o desenvolvimento<br />
humano ou, se algumas a eles têm acesso,<br />
esse conhecimento convive com as crenças<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 55-77, jan./jun., 2006