11.04.2013 Views

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Fala e escuta de professores em sala de aula<br />

216<br />

tivos, tanto na produção como na reprodução<br />

<strong>da</strong>s representações sociais. (LANE, 1993, p. 61)<br />

Na última déca<strong>da</strong>, o estudo <strong>da</strong>s representações<br />

sociais tem espaço garantido na educação<br />

e de modo específico na Psicologia <strong>da</strong><br />

<strong>Educação</strong>. Observa-se hoje um número ca<strong>da</strong><br />

vez maior de pesquisas nessa área, o que pode<br />

contribuir para a construção de um novo olhar<br />

no que se refere aos processos educativos e<br />

subjetivos que interagem na sala de aula. Nesse<br />

sentido, Sousa nos diz:<br />

No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980 e início dos anos 90,<br />

as investigações nas áreas de educação passaram<br />

a exigir construções teóricas que conciliassem<br />

pontos de vista do autor individual e do<br />

autor social e de perspectiva micro e macro. É<br />

nesse contexto que a “descoberta” <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong>s<br />

representações sociais, pelos educadores, surge<br />

como uma <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des teóricas relevantes<br />

<strong>da</strong> área <strong>da</strong> Psicologia, possibilitando a<br />

compreensão de um sujeito sócio-historicamente<br />

situado e, ao mesmo tempo, formando condições<br />

para a análise de dinâmicas subjetivas<br />

(SOUSA, 2002, p.286)<br />

A área de educação constitui um campo fértil<br />

para a investigação <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong>s representações<br />

sociais. Gilly acrescenta (1984, p. 364):<br />

... o campo educativo aparece como um campo<br />

privilegiado para verificar como se constroem,<br />

evoluem e transformam as representações sociais<br />

no interior dos grupos sociais, e esclarece<br />

sobre o papel dessas construções nas relações<br />

desses grupos com o objeto de sua representação.<br />

A representação como conjunto organizado<br />

de significações sociais permite na nova via<br />

para explicação dos mecanismos por meio dos<br />

quais fatores propriamente sociais agem sobre o<br />

processo educativo e influenciam resultados.<br />

O estudo de Gilly (1994) sobre as representações<br />

sociais no campo educacional, ao produzir<br />

uma revisão de literatura, conclui que são<br />

poucos os estudos sobre representações sociais<br />

tanto na área <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> quanto na área<br />

<strong>da</strong> Psicologia <strong>da</strong> <strong>Educação</strong>. O autor também<br />

identifica que os poucos estudos existentes não<br />

possuem o aporte teórico-metodológico <strong>da</strong>s representações<br />

sociais, uma vez que apenas estu<strong>da</strong>m<br />

alguns aspectos <strong>da</strong>s representações<br />

sociais ou, quando muito, esboçam fatores para<br />

explicar resultados que nem sempre podem ser<br />

identificados como representação social.<br />

Aspectos afetivos e emocionais constituemse<br />

de processos subjetivos que emergem no interior<br />

<strong>da</strong> sala de aula e é possível que a<br />

psicanálise possa <strong>da</strong>r conta na produção e reprodução<br />

<strong>da</strong>s representações sociais.<br />

Freud acalentava um sonho de que a psicanálise<br />

pudesse um dia vir a contribuir com a<br />

socie<strong>da</strong>de como um todo e, especialmente, com<br />

a educação; acompanhava os movimentos sociais<br />

e sempre estimulava que a psicanálise<br />

pudesse estender-se a outras áreas do conhecimento.<br />

A partir <strong>da</strong>í, a psicanálise, ain<strong>da</strong> que<br />

sutilmente, ousou adentrar os muros <strong>da</strong> escola.<br />

A psicanálise, por sua vez, não tem receitas<br />

sobre o que deve ser feito na escola, mas reflete<br />

sobre o que tem sido feito, visto que pode<br />

contribuir na escuta do discurso do professor e<br />

do aluno. Articular psicanálise e educação é um<br />

grande desafio, e o fato de a psicanálise se oferecer<br />

como um importante fun<strong>da</strong>nte do instrumento<br />

<strong>da</strong> escuta é o que possibilita, muitas vezes,<br />

contribuir para a leitura do mal-estar vivido pelo<br />

professor no contexto educativo. “O mal-estar<br />

na escola tem diversas faces para serem olha<strong>da</strong>s<br />

e pensa<strong>da</strong>s: é como se olhássemos um cubo,<br />

que tem seis faces, como sabemos, mas só podemos,<br />

de um determinado lugar, ver três faces,<br />

é necessário que nos desloquemos para que<br />

vejamos to<strong>da</strong>s as faces.” (OUTEIRAL; CER-<br />

ZER, 2003. p.1)<br />

Não restam dúvi<strong>da</strong>s de que a psicanálise<br />

pode transmitir ao educador uma ética, um modo<br />

de ver e de entender a prática educativa. É um<br />

saber que pode gestar, dependendo, naturalmente,<br />

<strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des subjetivas de ca<strong>da</strong> educador,<br />

um lugar, uma posição, uma filosofia de<br />

trabalho que aponte para o desvelar dessa desconheci<strong>da</strong><br />

rede de relações circulando numa<br />

instituição escolar. A queixa do professor é desejar<br />

ser escutado e não vislumbrar a possibili<strong>da</strong>de<br />

de decifrar o que e por que tal fato ocorre.<br />

Nesse sentido, Kupfer acrescenta: “Antes,<br />

o professor parecia saber o que falava ao sujeito.<br />

Hoje, pensa falar com um objeto; e se desespera<br />

porque não consegue ensinar na<strong>da</strong> para<br />

este suposto objeto.” (2000, p.121).<br />

<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 211-225, jan./jun., 2006

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!