Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
idéias sobre possíveis riscos e conquistas que<br />
o leitor pode experienciar através <strong>da</strong> leitura e<br />
<strong>da</strong> escrita.<br />
A primeira emoção com palavras é de Elisa<br />
Lucin<strong>da</strong> (2002) 1 , poetisa e atriz brasileira: “A<br />
poesia é síntese filosófica, fonte de sabedoria e<br />
bíblia dos que, como eu, crêem na eterni<strong>da</strong>de<br />
do verbo, na ressurreição <strong>da</strong> tarde e na vi<strong>da</strong><br />
bela, amém!”; Guiomar de Grammont (in: PRA-<br />
DO; CONDINI, 1999, p. 71-73) revela: “Ler<br />
realmente não faz bem. A criança que lê pode<br />
se tornar um adulto perigoso, inconformado com<br />
os problemas do mundo, induzido a crer que tudo<br />
pode ser de outra forma.” (p. 27); Paulo Freire<br />
(1995, p. 29 e 34) eternizou na expressão que<br />
“ler (...) é um trabalho paciente, desafiador,<br />
persistente. Não é tarefa para gente demasiado<br />
apressa<strong>da</strong> ou pouco humilde” (p. 29). Nesta<br />
mesma perspectiva de revelações Prado &<br />
Soligo conduzem o leitor para uma reflexão sobre<br />
a escrita e convi<strong>da</strong>m Percival Leme (apud<br />
BRITO, 2003, p. 49) para manifestar que riscos<br />
são estes que a escrita tem? “É uma arma<br />
perigosa, se não por outra razão, porque seu<br />
destino é a leitura. A escrita documenta. Comunica.<br />
Organiza. Eterniza. Subverte. Faz pensar.<br />
...” (p. 32). Ao concluir o texto, eles<br />
conclamam os educadores a ensinar todos os<br />
seus alunos a ler e a escrever.<br />
Prado & Soligo, ao reunirem contribuições<br />
sobre o gênero textual memorial, no artigo Memorial<br />
de formação: quando as memórias<br />
narram a história <strong>da</strong> formação, anunciam<br />
para os educadores a necessi<strong>da</strong>de de enfrentar<br />
o desafio de assumir a palavra e escrever sobre<br />
o processo de formação e a sua prática<br />
educativa. O memorial de formação é o registro<br />
que preserva a nossa história do esquecimento.<br />
Nele o autor assume ser, ao mesmo<br />
tempo, escritor/narrador/personagem <strong>da</strong> sua<br />
história. As autoras conduzem o leitor a elaborar<br />
o seu memorial por caminhos antes nunca<br />
sugeridos e configura-se como um texto<br />
di<strong>da</strong>ticamente correto. Concluem com uma revelação<br />
de Clarice Lispector (1982): “É na hora<br />
de escrever que muitas vezes fico consciente<br />
de coisas, <strong>da</strong>s quais, sendo inconsciente, eu<br />
antes não sabia que sabia.” (p. 23).<br />
262<br />
Em seu texto O diálogo sobre as memórias<br />
nos clássicos e nossas clássicas memórias,<br />
Cunha 2 manifesta que “esse exercício<br />
de escrita abre a possibili<strong>da</strong>de de lançar um<br />
novo olhar para as experiências vivi<strong>da</strong>s, a reali<strong>da</strong>de,<br />
o mundo e a cultura, revelando saberes<br />
e conhecimentos tecidos na prática <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
e <strong>da</strong> profissão de professoras.” (p.63). A autora<br />
busca na literatura revelar, através dos<br />
clássicos, a intenção <strong>da</strong> escrita de ca<strong>da</strong> autor,<br />
assim como responder por que escrevemos<br />
memoriais? Para que registrar memórias? E<br />
neste sentido, transportando Soares (1991) ao<br />
texto, ela reescreve: “nossa vi<strong>da</strong> é bor<strong>da</strong><strong>da</strong> sem<br />
conhecimento prévio do desenho riscado e sem<br />
conhecermos por inteiro a peça. Voltarmos<br />
para olhar, admirar e pensar sobre o bor<strong>da</strong>do<br />
já feito pode desven<strong>da</strong>r o risco desconhecido,<br />
garantindo a compreensão de partes ignora<strong>da</strong>s.”<br />
(p. 71).<br />
O conjunto de artigos <strong>da</strong> parte II, que trata<br />
de subversões, inicia-se com a reflexão sobre<br />
a relação do escritor e seu/s outro/s no ato <strong>da</strong><br />
escrita e no ato <strong>da</strong> leitura. Enfoca a questão<br />
‘quem escreve/quem lê’ e ‘o que se escreve/o<br />
que se lê’, envolvendo confrontos, concepções,<br />
idéias, contradições, desdobramentos surgidos<br />
de conseqüências <strong>da</strong> escrita, quando esta é socializa<strong>da</strong><br />
e li<strong>da</strong>. Destaca-se dentre o conjunto<br />
de textos o que Mota 3 intitula O escritor e seu<br />
outro, no qual toma como referência a sua experiência<br />
como pós-graduan<strong>da</strong> no Curso de<br />
Mestrado em <strong>Educação</strong>. O texto se processa<br />
partindo de questionamentos como: quem é esse<br />
escritor? O que está por trás do ato de escrever?<br />
Eu, a escrita e o outro. O escritor e seu<br />
Outro: encontros e desencontros. Para ela, o<br />
“escritor é o autor que componha uma escrita<br />
seja de que tipologia for (...) o importante é escrever<br />
para alguém ler.” Ela confessa que a<br />
leitura deu-lhe suporte e segurança para escrever.<br />
(p. 71).<br />
1 Fragmento <strong>da</strong> palestra proferi<strong>da</strong> por Elisa Lucin<strong>da</strong>, sobre a<br />
utili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> poesia, na 14ª feira internacional do livro de<br />
Cuba, em janeiro de 2005.<br />
2 Professora universitária e integrante do GEPEC<br />
3 Integrante do GEPEC, mestre e professora (convenia<strong>da</strong>)<br />
<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Acre.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 261-265, jan./jun., 2006