Revista da FAEEBA Educação e Contemporaneidade - Uneb
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Coração de professor: o (des)encanto do trabalho sob uma visão sócio-histórica e lúdica<br />
procuram fazer esta conciliação, quando tentam<br />
mostrar a importância <strong>da</strong> disciplina que lecionam<br />
para a vi<strong>da</strong> cotidiana, quando buscam<br />
conhecer a reali<strong>da</strong>de socioeconômica dos educandos,<br />
respeitando seus conhecimentos espontâneos<br />
e encorajando o desenvolvimento dos<br />
seus potenciais.<br />
Ao se reportarem sobre a ação básica de seu<br />
trabalho, os professores admitem que os afetos<br />
como querer bem, ser paciente, escutar, acolher,<br />
conciliar e outros similares, são quali<strong>da</strong>des<br />
essenciais para o cui<strong>da</strong>do pe<strong>da</strong>gógico.<br />
Reconhecem que sua ativi<strong>da</strong>de é multidimensional,<br />
assim possuem dimensões política, formadora<br />
(principio organizativo), técnica, afetiva e<br />
ética. Quando porém, in<strong>da</strong>gados sobre os entraves<br />
que atravessam a realização do seu trabalho,<br />
os professores trazem afetos de frustração,<br />
tristeza, insegurança, impotência, revolta,<br />
desânimo, decepção e angústia e exaustão.<br />
A “dor” de ser deste profissional é foca<strong>da</strong> na<br />
sua identi<strong>da</strong>de e na sua imagem social.<br />
Ao apontarem os fatores contextuais que<br />
provocam mal-estar, fatores que atingem a imagem<br />
social, observamos que eles se concentram<br />
numa desvalorização social do trabalho e<br />
na negação do professor como sujeito e figura<br />
principal no planejamento e desenvolvimento<br />
<strong>da</strong>s ações pe<strong>da</strong>gógicas. Tais fatores são: políticas<br />
públicas de formação docente, organização<br />
sindical e precárias condições de trabalho.<br />
Confirmamos neste estudo a desvinculação<br />
política, social e cultural dos cursos de formação<br />
inicial <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de concreta dos educandos.<br />
Os professores se queixaram <strong>da</strong> falta de<br />
discussão dos fun<strong>da</strong>mentos filosóficos que embasam<br />
as tendências pe<strong>da</strong>gógicas e de contextualização<br />
dos conhecimentos acadêmicos à<br />
reali<strong>da</strong>de em que vão atuar (ou já atuam), fato<br />
que reforça a dicotomia teoria/prática no trabalho<br />
educacional.<br />
Argumentam que os cursos de formação<br />
continua<strong>da</strong> são distanciados <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des<br />
<strong>da</strong> maioria, vêm como “pacotes prontos”, muitas<br />
vezes, sem objetivos claros ou centrados nas<br />
normas e nas técnicas, são desqualificadores<br />
<strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des cognitivas dos docentes e não<br />
oferecem condições operacionais para se con-<br />
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cretizar no interior <strong>da</strong>s escolas. Acrescentam,<br />
ain<strong>da</strong>, que as políticas de formação se centram<br />
na formação pragmática e aligeira<strong>da</strong>, não se<br />
preocupam com o financiamento ou apoio a uma<br />
pós-graduação, a exemplo de cursos de mestrado<br />
ou doutorado.Os professores percebem<br />
que sua formação deve contemplar a dialética<br />
dos saberes tácito, escolar, pe<strong>da</strong>gógico e científico.<br />
Visualizam neste processo uma constante<br />
descoberta e autoconhecimento que contribuem<br />
para a reflexão sobre a prática e trazem<br />
opções para solucionar os dilemas cotidianos.<br />
Suas declarações mostraram as seguintes necessi<strong>da</strong>des:<br />
qualificação e ascensão profissional;<br />
aprofun<strong>da</strong>mento nos conhecimentos, principalmente<br />
no que tange à disciplina, ou disciplinas,<br />
que lecionam, buscando sua ressignificação;<br />
reflexão sobre os pressupostos epistemológicos<br />
que permeiam as propostas ou programas<br />
de formação profissional “centrados<br />
no contexto” (CANDAU, 2004);<br />
partilha com os colegas de idéias sobre o<br />
seu papel profissional, ensejando espaço para<br />
reconstrução constante <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de nesta<br />
área;<br />
reflexão sobre as relações interpessoais na<br />
escola, bem como a aprendizagem <strong>da</strong> convivência<br />
para desenvolver habili<strong>da</strong>des de<br />
escuta e tolerância frente às diversi<strong>da</strong>des<br />
socioculturais e étnicas, mormente em relação<br />
à clientela específica com que li<strong>da</strong>m. A<br />
esse respeito, sustentamos a idéia de que a<br />
aprendizagem <strong>da</strong> convivência nos cursos de<br />
formação pode levar os professores a compreenderem<br />
a maneira de ser, o estilo de vi<strong>da</strong>,<br />
os valores e crenças desta clientela, mu<strong>da</strong>ndo<br />
assim seus pensamentos e atitudes em<br />
relação a esta, poupando-a <strong>da</strong> tirania e dos<br />
preconceitos; e<br />
escuta, sobre suas in<strong>da</strong>gações, anseios, contradições,<br />
receios, dúvi<strong>da</strong>s e inovações. Isto<br />
porque a visão de mundo, os referenciais e<br />
a consciência <strong>da</strong> historici<strong>da</strong>de de seu saber<br />
e do papel social que desempenham são fun<strong>da</strong>mentais<br />
para qualquer projeto de formação<br />
ou reforma pe<strong>da</strong>gógica.<br />
<strong>Revista</strong> <strong>da</strong> <strong>FAEEBA</strong> – <strong>Educação</strong> e Contemporanei<strong>da</strong>de, Salvador, v. 15, n. 25, p. 79-98, jan./jun., 2006